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Ítalo Fábio Casciola Publisher do OBemdito

Nesta pracinha começou a História de Umuarama e a biografia de muita gente…

Ela foi rodoviária, marco zero do comércio e o lugar preferido para o encontro de amigos...

O primeiro ponto de ônibus, marco aonde desembarcaram milhares de colonos para iniciar uma nova vida na Umuarama que estava em fase de abertura e colonização - Foto exclusiva do acervo de Italo Fábio Casciola
O primeiro ponto de ônibus, marco aonde desembarcaram milhares de colonos para iniciar uma nova vida na Umuarama que estava em fase de abertura e colonização - Foto exclusiva do acervo de Italo Fábio Casciola
Nesta pracinha começou a História de Umuarama e a biografia de muita gente…
Ítalo Fábio Casciola - OBemdito
Publicado em 2 de dezembro de 2023 às 17h37 - Modificado em 4 de dezembro de 2023 às 07h20
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Tudo que existe nesta vida começa por algum lugar, considerado o ponto de partida de algo ou alguma coisa. Essa regra é válida para o caso da história de uma vila, cidade ou metrópole… Com relação a Umuarama, por incrível que pareça, uma discussão que se alonga desde o princípio da abertura da urbe gira em torno do tal marco zero.

Uns desbravadores defendiam que primeiro surgiu a Colônia Mineira, agrupamento de casinhas ao redor de uma serraria, cujos moradores precursores chegaram aqui para construir no meio da mata a pista do primeiro aeroporto, considerado a porta de entrada da futura Umuarama.

Outra turma defendia a ideia de que o princípio se deu a partir da Praça Arthur Thomaz, antes mesmo dela ser uma praça, mas um descampado, que foi rodeada pelas primeiras construções de madeira, todas dedicadas ao comércio. Ali no meio foi erguido, também de tábuas, um ponto de ônibus de arquitetura rústica e feia, que servia como referência de chegada aos que vinham de fora para se instalar no novo núcleo habitacional que emergia, aberto pela colonizadora Companhia Melhoramentos Norte do Paraná a partir de 1953.

Ali era a parada final das antigas “jardineiras”, aqueles ônibus de aparência esquelética e totalmente desconfortáveis usados nas terríveis viagens cortando a selva através de um caminho tortuoso e penoso. Na verdade aquilo nem servia para ser uma mini estação rodoviária, pois não passava de  um casebre que nem sanitários tinha para o uso dos passageiros. Quando a situação ‘apertava’, o pessoal saía correndo à procura de um boteco próximo para superar o sufoco… Era formado por duas saletas estreitas, com uma com duas janelas usadas como bilheterias por onde eram vendidas as passagens. Nem bancos para sentar havia. O espaço vago no centro do ponto não servia para nada, nem mesmo para se esconder das ventanias açoitando a poeira e muito menos para se proteger das chuvas que caíam naqueles tempos idos.

Panorâmica mostra a parada das “jardineiras” em 1954, um ano antes da fundação da cidade: observem a movimentação ao redor da rodoviária improvisada, onde hoje está situada a Praça Arthur Thomas; em primeiro plano, a atual Avenida Paraná… – Foto exclusiva do acervo de Italo Fábio Casciola

Porém, mesmo sem conforto nenhum, era o lugar mais movimentado – e mais importante para quem tinha pressa de chegar – do então vilarejo ainda em estado primitivo, porém em ebulição por força da epopéia da colonização de uma nova fronteira agrícola que estava surgindo. Legiões de colonos, vindos de todas as partes do Brasil, muitos deles atravessando milhares de quilômetros do Nordeste até aqui. Outros, estrangeiros, que chegavam falando idiomas intraduzíveis para os nativos.

Aqueles ônibus decadentes, porém imprescindíveis na falta de outro tipo de transporte, chegavam lotados a toda hora. Alguns tinham até o seu teto – reservado ao bagageiro – ocupado por viajantes, que se equilibravam se  agarrando como podiam para não cair. O importante mesmo era não perder a “condução” e chegar, mesmo que com os ossos quebrados e músculos atrofiados pelo cansaço, ao lugar que era sonhado como a futura Terra Prometida, um paraíso onde todos poderiam realizar os sonhos de fortuna e de uma vida melhor que não haviam encontrado nos cantos de onde vinham…

A cena da descida naquele ponto de ônibus, que hoje só resiste guardada em algum canto de nossa memória, era algo simplesmente digno de recordar no futuro. A sensação de botar os pés num outro lugar, estranho e misterioso, sabendo que a partir dali estaria começando um novo capítulo da história pessoal de cada um e que o passado deveria ser deixado para trás, era algo realmente muito forte de assimilar. Todos, que chegamos naqueles anos da década de 1950, sentimos saltar à nossa frente a imagem de uma terra de ninguém, onde não havia quase nada e estava tudo para ser desbravado, feito e organizado para os tempos e as gerações que viriam depois.

Se não é o marco zero geograficamente definido, pelo menos trata-se  do primeiro momento do começo de nossas vidas. É no instante daquela chegada, naquele inebriante vai-e-vem de gente e malas, que tudo começou tanto para a biografia de cada um, como para a memória de Umuarama.

Era gente que chegava para ficar. E ficou! Era gente que vinha pensando em nunca mais voltar. E não voltou! Outros, tempos depois, choraram porque tiveram que regressar porque aqui não conseguiram seus sonhos realizar. Alguns, vieram só para olhar. A metade gostou e ficou. A outra parte não, e partiu rapidamente assim como chegou!

Outros sorriram felizes em ter encontrado o seu lugar para seus projetos realizar. Entre tantas chegadas, lágrimas e lenços brancos em partidas e despedidas, a vida foi se repetindo por anos a fio naquele simulacro de estação. Mas, muita gente como nós, preferiu não voltar e está aqui até hoje, felizmente, e pode dividir a alegria de recordar nesta crônica aqueles maravilhosos instantes de nostalgia. E foi a partir daquele ponto de parada das “jardineiras” que começou a se formar a confraria que tornou realidade a Capital da Amizade, um lugar onde os amigos, depois de tantas aventuras, formaram um porto seguro. Umuarama é isso! (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

Atraídas pela promessa de fortunas com a cafeicultura, legiões de famílias chegaram de ônibus a Umuarama. Era tanta gente que valia-tudo para viajar, até mesmo arriscar a vida no alto dos bagageiros dos veículos – Foto exclusiva do acervo de Italo Fábio Casciola

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