Defesa dos Buscariollo pede revogação da prisão e diz que eles podem ajudar nas investigações; com vídeo
Advogado afirma que não há razão para manter pai e filho presos após 30 dias de pedido de prisão temporária
Rudson de Souza - OBemdito
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 16h52 - Modificado em 4 de novembro de 2025 às 20h56
O advogado Renan Farah, que representa Antônio Buscariollo, de 62 anos, e o filho Paulo Ricardo Buscariollo, de 22 anos, afirmou nesta segunda-feira (4), em entrevista a OBemdito, que ingressou com o pedido de revogação da prisão temporária dos dois investigados pelo assassinato de quatro homens em Icaraíma, na região de Umuarama.
“Hoje nós ingressamos com o pedido de revogação da prisão temporária do Paulo e do Antônio. Entendemos que, depois de mais de 30 dias, que era o prazo da prisão temporária, não é mais necessário que eles permaneçam presos para o andamento do inquérito”, disse Farah.
Segundo o advogado, caso os investigados possam retornar a Icaraíma, “eles poderão auxiliar nas investigações e ficar à disposição para as diligências que a Polícia Civil venha a necessitar”.
O advogado voltou a negar a participação deles no crime, por não estarem na cidade no dia em que as mortes teriam acontecido.
Farah também revelou que a defesa protocolou, nesta segunda-feira, um pedido de habilitação em um novo inquérito aberto sob sigilo e apensado ao processo original.
“Veja, mais um inquérito é feito sob sigilo e agora foi apensado ao que a gente já tinha acesso. Só que nós não temos acesso a esse apenso. Até ontem nem sabíamos o número dele. Estava em algum lugar escondido”, afirmou.
O advogado criticou a falta de transparência e alegou que a defesa enfrenta “subterfúgios” e obstáculos para ter acesso integral aos autos.
“Os desembargadores mandaram nos habilitar, mas criam caminhos para que a gente continue cego no processo. Quem é atacado nisso? A defesa, a advocacia. É um direito do advogado ter acesso aos autos”, completou.
Resposta da Polícia Civil
A Polícia Civil informa que não existe um novo inquérito policial sobre os fatos. Há apenas um inquérito policial, o qual possui medidas cautelares que estão em apenso. A fala do advogado se refere a essas medidas cautelares, as quais estão em sigilo, pois documentam diligências ainda em andamento.
A manutenção do sigilo dessas medidas cautelares está de acordo com a decisão judicial referida pelo advogado e também está em linha com o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que, por meio da Súmula Vinculante nº 14, autoriza o sigilo das diligências policiais que ainda não foram concluídas.
O acesso de advogados ou partes a investigações em curso poderia prejudicar o êxito das medidas, razão pela qual o STF entende que o acesso só é possível após a finalização da diligência em curso.
Os dois principais suspeitos, Antônio e Paulo Buscariollo, seguem foragidos desde 8 de agosto, quando a Justiça decretou prisão preventiva para ambos.
As investigações indicam que o caso teve origem em um conflito comercial envolvendo um sítio de cinco alqueires, avaliado em R$ 750 mil, no distrito de Vila Rica do Ivaí, em Icaraíma.
Ao contrário de versões iniciais, Alencar Gonçalves de Souza, morador da cidade e uma das vítimas, não vendeu, mas comprou a propriedade de Antônio Buscariollo. Ele pagou R$ 255 mil à vista e financiaria o restante via empréstimo bancário.
Como o financiamento foi negado, o negócio foi desfeito. O acordo de distrato previa que Antônio devolveria o valor pago em dez parcelas de R$ 25 mil, enquanto Alencar abriria mão das benfeitorias realizadas no local.
As notas promissórias foram emitidas em nome de Carlos Eduardo Cândido Buscariollo, filho de Antônio que mora em São Paulo.
Cobradores vindos de São Paulo
Com o atraso nos pagamentos, Alencar contratou Diego Henrique Afonso, de 39 anos, conhecido por atuar em cobranças, que chamou Rafael Juliano Marascalchi, de 43 anos, e Robishley Hirnani de Oliveira, de 53 anos, ambos de São José do Rio Preto (SP), para acompanhá-lo ao Paraná.
Rafael viajou a contragosto da esposa, que o alertou sobre os riscos. Ele esperava o nascimento da segunda neta.
Emboscada e desaparecimento
A Polícia Civil apurou que Antônio chegou a oferecer uma casa em Icaraíma para quitar a dívida, mas a proposta não foi aceita. Pouco depois, marcou uma nova reunião com Alencar e os paulistas em 5 de agosto, em outra propriedade rural.
O encontro terminou em tragédia. No local, os policiais encontraram cápsulas de cinco calibres diferentes, inclusive de fuzil e pistola .45, além de marcas de tiros em árvores.
A principal linha de investigação aponta que os quatro homens foram mortos no sítio, em plena luz do dia, entre 11h30 e 13h15.
Corpos encontrados
Após 45 dias de buscas, as forças de segurança localizaram os corpos entre a noite de quinta-feira (18) e a madrugada de sexta (19) de setembro.
As escavações ocorreram em uma área rural do município, com apoio da Prefeitura, e os trabalhos se estenderam até as 5h da manhã.
A Polícia Científica realizou a perícia e recolheu os corpos, encerrando uma das operações mais complexas da história recente da região.
Repercussão e dor
Em carta aberta, as famílias das vítimas manifestaram indignação e exaustão pela demora nas respostas.
“Não é só a ausência, é ver filhos que vão crescer sem o abraço do pai, mães e irmãos carregando um vazio que nada preenche”, diz o texto.
Elas também denunciaram a disseminação de mentiras e falsas versões que circularam desde o início do caso.
“Eles eram pais, filhos, irmãos e amigos. Mereciam viver. Suas famílias merecem respeito, verdade e justiça.”
Um caso que marca o Noroeste
O episódio, que começou com um negócio rural frustrado, tornou-se um dos casos criminais mais complexos e violentos do Noroeste paranaense, com repercussão nacional.
Dois meses após o crime, nenhum dos acusados foi localizado. As polícias Civil e Militar, o Ministério Público (MPPR) e equipes especializadas seguem nas investigações.
(Com imagens de Rudson de Souza/OBemdito)
(*Matéria atualizada às 17h26 com informações da Polícia Civil)
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