“Irmãos foram mortos abraçados com um tiro na cara cada um”, diz testemunha de megaoperação no Rio
A megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão foi a mais letal da história do Rio (Foto Tomaz Silva/Agência Brasil)
Rudson de Souza - OBemdito
Publicado em 30 de outubro de 2025 às 10h24 - Modificado em 30 de outubro de 2025 às 10h24
O presidente da Associação Comunitária de Parque Proletário, Erivelton Vidal Correa, confirmou nesta quarta-feira (29) relatos de tortura, execuções e decapitações durante a megaoperação policial realizada nesta terça (28) nos complexos da Penha e do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro.
“Muitos corpos deformados, com perfurações no rosto, perfurações de faca, cortes de digitais, dois corpos decapitados, a maioria dos corpos não tinha face”, afirmou Correa. “Dois irmãos manauaras foram mortos abraçados, cada um com um tiro na cara, e tiveram as digitais cortadas.”
Segundo o líder comunitário, em 11 anos de atuação na associação, ele nunca havia se deparado com cenário semelhante. “Foi uma arbitrariedade muito grande. A gente sabe que o Estado tem que trabalhar, mas tem que trabalhar direito. O que aconteceu aqui foi um genocídio, uma carnificina”, desabafou.
Correa afirmou ainda que entre as vítimas há moradores inocentes. “Alguns criavam cavalos e estavam na mata pegando comida pros animais. Infelizmente, estavam no lugar errado e perderam a vida”, relatou. Segundo ele, o Instituto Médico-Legal (IML) iniciou nesta quarta o reconhecimento e a liberação dos corpos para sepultamento.
Execuções e impedimento de socorro
De acordo com moradores, a polícia impediu equipes e familiares de prestarem socorro às vítimas ainda vivas. Correa acredita que isso ocorreu “para não deixar provas”.
“Se levassem para o hospital, ia comprovar o genocídio”, afirmou.
Erivelton Vidal Correa, líder comunitário da Penha, denuncia execução de moradores e suspeitos
Segundo relatos, o confronto mais violento ocorreu na Mata da Pedreira, área de mata que liga as comunidades. Para conter fugas, agentes do Bope e de outras forças cercaram os acessos, formando um “muro humano” na encosta.
Um morador, de 25 anos, que pediu anonimato, contou que entrou na mata às 3h da madrugada para tentar ajudar os feridos:
“A gente ouviu os gritos, os pedidos de socorro. A polícia ainda estava lá e não deixava ninguém subir. Eles davam tiros e jogavam bombas de gás. A gente se escondia no meio dos corpos para continuar.”
O homem, que tentava localizar o corpo do primo, descreveu o cenário como “desolador”:
“Encontramos muitos mortos sem camisa, fuzilados, com mãos e dedos decepados e também decapitados. Vi uma cabeça entre os galhos de uma árvore e o corpo jogado no chão.”
Fotógrafos que estiveram no local confirmaram a presença de vítimas com ferimentos compatíveis com golpes de faca e decapitação.
Depoimentos e vídeos desmentem versão oficial
Moradores afirmam ter encontrado celulares e áudios de vítimas relatando que haviam se rendido antes de serem mortas, o que contradiz a versão do governo do Rio, de que todos morreram em confronto.
“Teve gente que pediu perdão, se ajoelhou, jogou os fuzis, mas foi morta”, contou uma das testemunhas.
Segundo Correa, famílias começaram a recolher corpos ainda na noite de terça.
“Retiramos um total de 80 corpos da Mata da Pedreira com ajuda dos próprios moradores. Pedimos lençóis, toalhas, o que fosse possível para cobrir os mortos”, relatou.
A associação comunitária afirma que seis baleados foram levados ao Hospital Getúlio Vargas, mas todos chegaram sem vida.
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