Foto: Stephanie Gertler/OBemdito

Saúde

Hospital Cemil sedia mutirão de colonoscopias para diagnóstico de doenças inflamatórias intestinais

Cerca de 20 pacientes foram selecionados para a ação, que acontece neste sábado (5)

Foto: Stephanie Gertler/OBemdito
Hospital Cemil sedia mutirão de colonoscopias para diagnóstico de doenças inflamatórias intestinais
Redação
OBemdito
5 de agosto de 2023 11h44

Com o objetivo de identificar casos ainda não diagnosticados e não confirmados de Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn, o GEDIIB (Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite) está realizando neste sábado (5) no Hospital Cemil de Umuarama um mutirão de colonoscopias para pacientes da rede pública de saúde para detecção de possíveis doenças inflamatórias intestinais.

Para entender melhor a importância da ação, OBemdito conversou com as médicas Dra. Eloa Marussi Morsoletto, gastroenterologista e endoscopista em Curitiba e coordenadora da comissão de endoscopia digestiva do Gediib; e Dra. Alessandra Vicentini Credidio Brasileiro, especialista em Coloproctologia há 12 anos e responsável por chefiar o serviço na região do interior do Paraná, incluindo Umuarama.

A ação, que também contou com a presença do Dr. André Marussi Morsoletto, faz parte de um projeto que atinge todo o território brasileiro e vem sendo realizado desde 2018, com grande sucesso em seus objetivos.

Pacientes selecionados

Durante o mês de julho foram selecionados pacientes com idades entre 16 e 63 anos que apresentaram sintomas sugestivos das doenças, como episódios de diarreia, presença de muco e sangue nas fezes, dor abdominal (cólica) e perda de peso. Uma vez selecionados, eles foram submetidos a um exame mais específico chamado Calprotectina fecal.

O resultado deste exame definiu quais pacientes participarão do mutirão. É esperado que neste sábado cerca de 20 pessoas sejam submetidas às colonoscopias, gratuitamente.

A colonoscopia permite visibilizar o interior do reto, cólon e parte do íleo terminal (final do intestino delgado) por meio de um tubo flexível introduzido pelo ânus, contendo em sua extremidade uma minicâmera de TV que transmite imagens coloridas, podendo ser fotografadas ou gravadas em vídeo.

O exame é realizado sob sedação, não havendo nenhum desconforto ao paciente.

Sobre as DIIs

As DIIs constituem um grupo heterogêneo de doenças inflamatórias do trato digestivo, de caráter autoimune – quando o sistema imunológico passa a atacar o próprio corpo, as articulações e outros órgãos. Podem afetar cerca de 1,6 milhão de pessoas no Brasil, segundo estudos feitos pela GEDIIB, em 2020.

“É uma doença de países desenvolvidos e atualmente no Brasil a gente nota um aumento da incidência e da prevalência dessas duas doenças inflamatórias intestinais, a doença de crohn e retocolite ulcerativa, existe um pico de aparecimento nos jovens, dos 18 aos 40 anos de idade”, explicou a dra. Eloa Marussi. “Também pode ter na pediatria, nas crianças, e também pode ter um outro pico de surgimento da doença na pessoa com mais idade, dos 50 aos 60. Mas o mais comum é o jovem adulto”, acrescentou.

São representadas pela Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa, que tem, respectivamente, de 7 a 10 casos por 100 mil habitantes, e de 10 a 20 casos em cada 10 mil habitantes.

Na Doença de Crohn, a inflamação pode ocorrer em qualquer segmento do trato gastrointestinal, sendo mais comum no final do intestino delgado (íleo terminal) e cólon direito. A Retocolite Ulcerativa acomete o cólon e o reto.

Ainda que não haja cura, medicamentos e acompanhamento com médicos especialistas aliviam os sintomas, oferecendo ao paciente uma melhor qualidade de vida.

Quais sintomas são considerados alerta para procurar um médico?

Para as especialistas, os sintomas podem divergir em pacientes jovens/adultos e crianças. Para jovens e adultos os sintomas podem ser diarreia ou constipação, emagrecimento, sangramento, dores e sangramento. Já em crianças, além dos fatores já citados, é esperada a falta ou atraso de crescimento normal, além de anemia ou desnutrição.

Confira abaixo a lista de sintomas:

• Diarreia persistente (+ 2 semanas);

• Dor abdominal crônica ou recorrente;

• Sangue nas fezes;

• Perda de peso não-intencional;

• Fadiga crônica ou falta de energia;

• Náusea e vômito;

• Febre de origem desconhecida;

• Anemia.

Diagnóstico

De acordo com a GEDIIB, o diagnóstico é estabelecido a partir dos sintomas e de exames complementares como exames de sangue, colonoscopia, biópsia, tomografia ou ressonância magnética, além de outros exames. A doença pode comprometer a qualidade de vida de seus portadores e levar a quadro de incapacidade funcional.

“A importância é que o diagnóstico precoce dessa doença irá melhorar a qualidade de vida e vai impedir que haja, ou pelo menos diminuir a possibilidade, de complicações graves que essa doença pode causar”, explicou Marussi. “São doenças que não tem cura, mas com o diagnóstico precoce nós conseguimos com medicações e acompanhamento bem de perto do paciente a ter uma vida normal, com qualidade e sem complicações”.

Segundo Eloa, mutirões como este realizado no Hospital Cemil são feitos pois muitas as vezes o SUS (Sistema Único de Saúde) não tem a capacidade de possibilitar tais exames em uma face inicial da doença.

O que pode causar as Diis?

As causas ainda são desconhecidas. Sabe-se, no entanto, que cerca de 20% das pessoas portadoras de DIIs têm alguém na família com o diagnóstico. Ou seja, a hereditariedade pode influenciar.

“O sistema imunológico não é melhor ou pior do que o de outras pessoas. É diferente”, afirma a Dra. Eloa Marussi. “Em algum momento da vida existe um fator desencadeador que faz aparecer a doença. Esse fator desencadeador que a gente conhece alguns, mas com certeza não conhecemos muitos. O cigarro principalmente, a falta de exercícios e a má alimentação pode ser o fator de desencadear a doença, mas não é a causa”.

Veja abaixo a lista com alguns dos fatores contribuintes para as doenças:

Doença de Crohn

• Histórico familiar – as chances aumentam se algum familiar próximo (pais ou irmãos) já tiverem tido a doença;

• Tabagismo;

• Álcool;

• Alimentação desequilibrada, pobre em fibras e rica em gorduras e produtos industrializados;

• Sedentarismo;

• Estresse.

Retocolite Ulcerativa

• casos na família;

• dieta pobre em fibras;

• sedentarismo;

• consumo excessivo de gordura animal;

• deficiência de vitamina D;

• gastroenterite por Salmonella ou Campylobacter;

• uso indiscriminado de anti-inflamatórios.

DIIs no Brasil, em números

A GEDIIB esteve no Congresso Europeu de Doença de Crohn e Colite, no último mês de março, na Dinamarca, e apresentou dados de estudos de corte realizados entre julho de 2020 e agosto de 2022.

Os dados mostram que de um total de 1.179 pacientes incluídos em sua análise, 600 (51%) foram diagnosticados com Colite Ulcerativa, 568 (48%) com Doença de Crohn e 11 (0,9%) com colite indeterminada.

A idade média foi de 34,4 anos, sendo 59% do sexo feminino, 73% caucasianos e 85,3% não fumantes. Em relação aos sintomas iniciais, 42% apresentaram diarreia, 38% dor abdominal e 20% perda de peso. A idade de início dos sintomas da DII variou de 1 a 87 anos.

Por Região

O Sudeste é a região do Brasil com maior concentração desses pacientes (72,3%) e o Norte com a menor (2%). Centro-Oeste conta com 13,8%, seguido na proporção por Nordeste (6,9%) e Sul (5%). Por estado, São Paulo sozinho conta com 53,1%.

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