O diretor exonerado da Prefeitura de Umuarama, Valdecir Pascoal Mulato, que teve áudio vazado

Política

“Não peguei nada de ninguém”, diz Pai Herói após exoneração e vazamento de áudios

“Tudo bem, perdemos o emprego, fui falado pra caramba… Tô tranquilo”

“Não peguei nada de ninguém”, diz Pai Herói após exoneração e vazamento de áudios
Marcos de Oliveira
OBemdito
11 de maio de 2022 16h46

O ex-diretor municipal de Articulação e Mobilização da Comunidade, Valdecir Pascoal Mulato, o Pai Herói, disse a OBemdito nesta quarta-feira (11) que está tranquilo diante dos indícios de que estaria aliado a vereadores de Umuarama em suposto esquema de propina na Câmara.

“A fala minha foi que mandaram falar com os vereadores. Na realidade, eu já tinha encaminhado o projeto para a Câmara de Vereadores. Tudo bem, perdemos o emprego, fui falado pra caramba…Não peguei nada de ninguém, tô tranquilo”, respondeu Pai Herói, por mensagem de texto.

Pai Herói, que é ex-vereador, disse que devido a demora na aprovação do projeto, ele mesmo pediu ao empresário Vitor Hugo Gaiari que falasse com os vereadores (para agilizar os trâmites). Questionado sobre o teor da conversa com Vitor Hugo, revelada por OBemdito, Pai Herói não respondeu.

Ontem (terça-feira) ele foi exonerado do cargo pelo prefeito Hermes Pimentel, após ter o nome incluído em áudios comprometedores. Através de sua Assessoria de Comunicação, Pimentel afirmou ter recebido com surpresa a informação sobre o suposto envolvimento do então diretor em esquema de corrupção.

Fala de empresário foi exposta pelo vereador Sorrisal

Na sessão ordinária desta segunda-feira (9), o vereador João Paulo Rodrigues Maciel de Oliveira, o Sorrisal, apresentou gravação sobre o suposto pedido de propina do vereador Ronaldo Cruz Cardoso para aprovação de um projeto que altera o zoneamento de uma área da cidade, na saída de Xambrê, com a finalidade de aprovar um loteamento comercial.

As informações constam em uma conversa gravada por Sorrisal, em seu gabinete, com o empresário Vitor Hugo Gaiari, que teria decidido revelar o esquema por se sentir prejudicado. Vitor Hugo, no entanto, não sabia que estava sendo gravado pelo vereador. No áudio, o empresário afirma que Ronaldo Cardoso pediu dois terrenos e R$ 30 mil para dar celeridade na aprovação do projeto que liberaria seu loteamento, de 22 imóveis.

Os vereadores Mateus Barreto, Ana Novais, Cris das Frutas e Edinei do Esporte informaram que também foram procurados pelo empresário, e que este lhes contou a mesma história. Ana Novais disse que levou o caso ao presidente da Câmara, Fernando Galmassi.

Ana Novais diz que denúncia foi encaminhada para o Ministério Público

Nesta terça-feira, Ana Novais informou a OBemdito de que o relato de Vitor Hugo foi encaminhado ao Ministério Público (MP) da comarca de Umuarama no dia 28 de abril último, com protocolo de entrega registrado às 17h12. Segundo Ana, ela optou por não expor a fala do empresário por recomendação do próprio MP, para que o levantamento de provas não sofresse interferência das partes envolvidas. A praxe é comum neste tipo de investigação.  

“Pedacinho da Bisteca”

Áudios obtidos com exclusividade por OBemdito, apresentados na noite desta terça-feira (10), colocaram o presidente da Câmara de Umuarama, Fernando Galmassi, no escândalo da propina para acelerar a votação de projeto de lei na Câmara. Também aparece o nome de outro integrante do Legislativo, Clebão dos Pneus, citado apenas uma vez no áudio.

São gravações de conversas entre Pai Herói e Vitor Hugo Gaiari, gravadas possivelmente pelo empresário, no bar Senadinho. Os dois se encontraram para conversar sobre a liberação do loteamento. Até então, Pai Herói era o responsável por conferir a documentação, dentro da Prefeitura, e encaminhar o projeto de lei ao Legislativo.

“Tá tudo certo. Sabe o que tá acontecendo? O Fernando (Galmassi) tá achando que você tá dando alguma coisa para outro vereador. Aí fica travando. (…) Aí ontem ele tava lá falando merda, falou pro cara lá: ‘Acha que eu sou trouxa? Nego lá comendo bisteca, não dá nem um pedacinho pra mim”.

Áudios no mínimo constrangedores

Pai Herói: Eu não tenho nada a ver com isso, nem o prefeito, quero que você saiba disso. Você vai lá (na Câmara), eu vou marcar com o Ronaldo, ou Clebão. Não, melhor o Ronaldo.

Vitor Hugo: Ronaldo, quem é?

Pai Herói:  Ronaldo vereador. Vai lá e bate um papo.

Vitor Hugo: Mas você chegou a trocar uma ideia, ver como é que funciona, o que eles estão querendo?

Pai Herói: Ali é um monte, acho que é oito, né? Eu falei pra ele (provavelmente se referindo a Ronaldo), se desse um pra eles dividir tava bom demais. Mais eles vão pedir mais…

Vitor Hugo: Verdade? Você tá brincando. Aí eu tomei no zóio veio…

Pai Herói: Vai pedir, sabe por quê? Eles ganham quatro contos por mês. Se não tiver um negocinho desse aí, eles não vivem.

Pai Herói: Tá tudo certo. Sabe o que tá acontecendo? O Fernando (Galmassi, presidente da Câmara) tá achando que você tá dando alguma coisa para outro vereador. Aí fica travando. Ainda mais que eu fui lá pedir para ele pôr (o projeto em votação), aí que ele achou mesmo, sabe? Mas ele garantiu que segunda-feira vai.

Vitor Hugo: O Fernando falou pra mim: “É porque o projeto é muito complexo, a gente precisa analisar’. Mas é uma página (de projeto). (Ele) tá fugindo de mim.

Pai Herói: Aí ontem ele tava lá falando merda, falou pro cara lá: “Acha que eu sou trouxa. Nego lá comendo bisteca, não dá nem um pedacinho pra mim”. Rapaz, não tem um que não vota pra você. O problema, acho que tá. Olha aqui, ó…

Pai Herói: (parece ler mensagem no celular) Eu falei, Fer, beleza, que parceria é essa? É aí, Fernandinho, nada dos projetos? Aí ele colocou: Val, só na próxima pauta. Segunda que vem agora. Falar o que pra um homem desses? Ele acha que eu sou ladrão também? Eu não quero nem saber de ser mais vereador por causa disso.

Presidente da Câmara nega acusações

Fernando Galmassi, negou as acusações feitas por Pai Herói. “Estou tranquilo e não tenho nada a ver com as denúncias. Meu nome foi citado equivocadamente. É bem provável que isso seja uma retaliação porque não coloquei o projeto em pauta, mas quero ver alguém provar que fui atrás de algum empresário pedir dinheiro”, disse Galmassi, por telefone.

Ele afirmou que a inclusão do projeto em votação dependia de um parecer jurídico, que só chegou em suas mãos no último dia 27 de abril. “Tivemos feriados e pontos facultativos. Além disso, o projeto não tinha caráter de urgência. Tudo será apurado dentro da lei. Não tenho nada contra o Pai Herói, mas cada um paga pelos seus erros”, acrescentou o presidente.

Manifestação do vereador Ronaldo Cardoso

Na sessão de segunda-feira na Câmara, o vereador Ronaldo Cardoso disse que se manifestaria até esta quarta. Até o momento da conclusão desta reportagem (16h30), Cardoso ainda não havia se pronunciado oficialmente sobre as acusações que pesam contra ele.

Clebão dos Pneus

OBemdito não conseguiu contato com Clebão dos Pneus. Em todas as tentativas de chamadas, o telefone dele estava desligado. O espaço está aberto para a manifestação do vereador.

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