Graça Milanez

A fabulosa carreira de Wagner Pacheco, um dos primeiros advogados da cidade

Conhecer Wagner Pacheco [1937-2025] ainda lá nos anos de 1980 foi emocionante. Ele era muito falado, em Umuarama. Bem falado! Afinal, era um homem importante, culto, já trilhando uma carreira brilhante por estas terras. Um mito, por aqui!

Lembro bem: foi num almoço, em sua casa; o convite partiu do amigo Gastão, que era namorado da filha, Hebe Pacheco. Fui apresentada, mas ele já me conhecia da televisão [à época, era repórter da TV Tibagi, hoje TV Massa/SBT].

A partir deste encontro e de tantos outros que vieram na sequência minha admiração por ele só aumentou: bom papo, simpático, humilde, amável… Era assim que o considerava. E não é um parecer de opinião exclusiva: muita gente da cidade dizia e diz o mesmo dele.

Tive o prazer também de entrevistá-lo algumas vezes. A mais marcante foi a que fiz para a revista W [da qual era editora], em 2013. Uma conversa que durou mais de três horas e rendeu histórias inéditas; algumas, hilárias. Faço um resumo para o leitor d’OBemdito.

Wagner Pacheco e sua trajetória pelo ‘Paraná explodindo’

Rimos muito quando ele, Wagner Pacheco, nascido em Dois Córregos/SP, começou a relembrar da chegada ao Paraná, quando aqui tudo ainda era ‘quase mato’.

‘Imagine: um jovem recém-formado pela USP [uma das melhores universidades do mundo], de um grau intelectual invejável, cheio de sonhos [exatamente como todo mundo sai da faculdade], vindo de São Paulo, onde estudou, e se depara com esse mundão com tudo ainda por fazer. Chocante, pra dizer o mínimo!

O percurso no Paraná começou por Loanda. “Um amigo em São Paulo me disse: ‘Loanda vai explodir’… E foi só… Já me interessei… Três meses depois lá estava eu”.

Mas logo se decepcionou. “Na pensão em que me hospedei vi um casal de advogados sendo despejado por falta de pagamento”, contou, rindo. Daí ouviu alguém dizer que Cruzeiro do Oeste, sim, era a cidade que estava ‘explodindo’… Mas não era” [risos].

“Mudei para Cruzeiro, porém um amigo me alertou: ‘Umuarama é a cidade que tem tudo para explodir’… Nem hesitei: vim para cá [em 1961] e, enfim, acertei… Amo esta cidade!”, contou.

Encorajado pelo amigo

Quando chegou em Umuarama, em 1961, a cidade tinha “três ou quatro” advogados. “Aluguei uma ‘salinha simples’, onde montei meu escritório; na porta preguei uma placa com meu nome e os dizeres: ‘Formado pela USP’… Imagine: o que isso significava aqui, naquela época? Que atitude imatura”, recordou [risos].

No começo, claro, não tinha nada para fazer. “Eu ficava encostado na porta o dia inteiro [risos]… Mas fui encorajado pelo amigo Luiz Sérgio Toledo de Barros, que dizia: ‘Esta cidade vai ficar muito boa.’ Acreditei.”

Logo, uma grande loja o contratou. “Fazia cobrança pelas cidades da redondeza… Andava muito, mas de avião, de táxi aéreo… Circulava muito dinheiro por aqui… Tempo bom, do café”.

Dono de uma grande biblioteca!

Da salinha simples para um escritório arrojado. Wagner Pacheco passava suas horas de trabalho rodeado de livros. Sem dúvida, ele possuía uma das maiores bibliotecas particulares da região.

Mais de dois mil livros, lidos e relidos, numa organização impecável, fazem parte do acervo que ele deixa para a esposa Nilze, quatro filhas e sete netos. “Em casa, tenho mais uns mil”, contou.

Entre os livros técnicos estão muitos de literatura, o que me faz lembrar o quanto ele era apaixonado por literatura e outras artes. Incluindo gastronomia [era exímio cozinheiro e apaixonado por vinhos].

Intelecto avantajado

Não dá para falar de Wagner Pacheco sem ressaltar o que mais lhe deu fama: sua mente brilhante. A biografia de Wagner Pacheco, que já foi a segunda maior autoridade do Estado [Chefe da Casa Civil], tem influência direta de seus ancestrais.

Um deles é o avô, Lázaro Pacheco, dono do jornal ‘A Semana’, em Dois Córregos/SP, fundado em 1850. E que, a partir dos anos de 1930, foi assumido pelo pai, Wilfrid Pacheco.

Seu pai, além de jornalista, era músico conceituado [tinha ouvido absoluto]. Era integrante da Sinfônica de Campinas [nos anos de 1950] e da famosa orquestra Arruda Paes, que tocava na extinta TV Tupi.

Sua mãe, Olga Maria Brússolo Pacheco, também era fera: professora, poetisa e fez parte da equipe da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. “Eram pessoas à frente do seu tempo”, comentou o advogado, que estudou, além do básico, grego e latim.

“Sempre fui muito tímido e, talvez por isso, muito apegado aos meus livros, que eram minha prioridade, minha diversão, digamos assim”, declarou em entrevista à W.

Golpes e prisão

A advocacia ia de vento em popa, mas o cidadão Wagner Pacheco cultivava outros ideais. Entrou para a política no tempo da linha dura. “Não fiquei por muito tempo porque era muita perseguição.”

Em Umuarama, foi um dos fundadores do MDB, partido que à época fazia oposição ao governista Arena. Era uma liderança incisiva, por isso chegou a ser preso algumas vezes.

Uma delas, um ano após o golpe de 1964, quando foi candidato a vereador. “Minha casa foi cercada, à noite, por soldados, portando metralhadoras… Queriam me levar de pijama… Foi horrível!”, contou o amigo de Ulisses Guimarães, Mário Covas e Álvaro Dias, entre outros famosos da política.

A tempo: o título deste artigo parafraseia o filme francês ‘O fabuloso destino de Amélie Poulain’ [do diretor Jean-Pierre Jeunet, lançado em 2001], um de seus favoritos. 

Graça Milanez

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