Umuarama tem diagnóstico inédito sobre população em situação de rua
Umuarama é uma das poucas cidades do Paraná a contar com um levantamento técnico completo e científico sobre a população em situação de rua. O estudo, elaborado por professores e alunos dos cursos de Psicologia e Direito da UniAlfa Faculdade, foi entregue à secretária municipal de Assistência Social, Maria Luisa Bertoco, e ao Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua (Ciamp-Rua).
Realizada a pedido do comitê, a pesquisa oferece uma radiografia inédita da realidade social, econômica e humana dessa população. Coordenado por Débora Mendes Baggio, Clodoaldo Porto Filho, Eloíse Carolina da Costa Scheer e Rosane Stédile Pombo Meyer, o levantamento é considerado uma ferramenta estratégica para o planejamento de políticas públicas e para a promoção da justiça social.
“Agora temos um diagnóstico da realidade vivida por essas pessoas e o poder público pode ajustar e planejar ações mais eficientes, aproveitando melhor os recursos disponíveis e aprimorando os serviços”, afirmou Maria Luisa, ao agradecer à equipe técnica da instituição.
Perfil da população de rua
As entrevistas, realizadas nos dias 2 e 3 de outubro de 2024, traçaram um perfil detalhado das pessoas em situação de rua em Umuarama. Foram aplicados 115 questionários válidos, em um universo de 225 pessoas identificadas na cidade.
A maioria dos entrevistados está na faixa etária de 24 a 50 anos (62%) e 83,5% são homens. Mais de 77% se autodeclararam pardos, negros ou pretos, enquanto 83,7% afirmaram ter religião cristã.
Embora apenas três pessoas tenham nascido em Umuarama, 33% disseram ter vivido boa parte da vida no município. A pesquisa também mostra que a grande maioria veio de outros estados foram citadas 57 cidades diferentes, além de um caso de imigrante venezuelano.
Em relação à documentação, 88% possuem RG ou CPF, 48% têm carteira de trabalho e 47% possuem título de eleitor. A escolaridade varia entre o ensino fundamental incompleto e o médio, com baixos índices de formação superior.
Causas e vulnerabilidades
Os principais motivos apontados para a ida às ruas incluem busca por trabalho (16,3%), melhores oportunidades (13,9%), desentendimentos familiares (9,6%), uso de álcool e drogas (8,4%) e problemas de saúde (6%).
Outros fatores como insatisfação pessoal (4,8%) e separação conjugal (3,6%) também foram mencionados.
A maioria (36,2%) chegou a Umuarama em busca de melhores condições de vida, reforçando o caráter migratório da população de rua.
O levantamento identificou ainda que 75% possuem animais de estimação, 66% são solteiros, 60% têm filhos geralmente sob os cuidados das mães ou avós e 67,9% mantêm algum contato com familiares.
Entre os entrevistados, 73,8% recebem o Bolsa Família e 31,5% estão nas ruas há menos de seis meses.
Desejo de mudança e políticas públicas
Um dado que chamou a atenção dos pesquisadores é o desejo de mudança: 94,3% afirmaram querer sair da situação de rua.
“Eles não estão nas ruas por escolha, mas em decorrência de fatos da vida. Esses dados vão nos ajudar a melhorar a abordagem e promover mais condições para essa mudança de vida”, destacou a secretária.
O estudo detalha ainda locais de permanência, rotinas de alimentação e higiene, problemas de saúde, deficiências físicas e mentais, dependência química e experiências de violência informações essenciais para aprimorar políticas de acolhimento e reinserção social.
Com o diagnóstico em mãos, o Ciamp-Rua e a Secretaria de Assistência Social pretendem criar protocolos mais humanizados de atendimento, fortalecer parcerias com entidades e ampliar programas de acesso a moradia e qualificação profissional.





