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Amigos de infância se reencontram após 50 anos separados

Amigos que se conheceram na infância, nos anos 1960, voltaram a se encontrar após meio século sem contato (Foto Valmir Faria)
Amigos de infância se reencontram após 50 anos separados
Redação - OBemdito
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 10h18 - Modificado em 27 de outubro de 2025 às 11h38

O ser humano é afeito a lembranças, a sentimentos. Guarda com carinho fatos vividos, momentos importantes, tristes ou alegres; preserva amizades passadas, mesmo à distância. A nostalgia, a saudade, são sentimentos comuns ao ser humano.

No último dia 8, dois amigos que não se viam há 54 anos, voltaram a se encontrar e, além de matarem a saudade um do outro, puderam relembrar, ao som de músicas da época, fatos vividos por ambos no início da década de 1960, período em que as densas matas do Paraná estavam sendo derrubadas para a implantação das lavouras de café, cultura que por muitos anos foi a base da economia do estado e o sustento de milhares de famílias que viviam em pequenos sítios ou em grandes fazendas como agregados ou colonos.

Tempos difíceis

O aposentado José de Paula Faria (83) chegou à Fazenda União, em Tapejara, em 1960, com 17 anos. Quase toda a propriedade era ocupada por uma mata fechada. Coube a ele, aos irmãos e ao pai Francisco, derrubar a floresta na força do machado e semear as primeiras sementes de café. Era um tempo difícil, de trabalho árduo e pesado. Faltava praticamente tudo.

A moradia se resumia a um rancho construído com lascas de coqueiro e coberto com pequenas tábuas. Depois, com a derrubada da mata e o plantio da lavoura, foi criada a colônia de casas para abrigar as famílias. Uma serraria foi instalada e um comércio, chamado de venda, abastecia os moradores com produtos básicos: querosene, farinha e carne seca eram a base do consumo.

Antônio Rodrigues dos Santos, de 70 anos, hoje juiz do trabalho aposentado, chegou com a família à fazenda em 1962, então com 7 anos. “Não havia casa para morarmos. Meu pai estendeu uma lona, onde nos abrigamos”, lembra ele. Foi naquele ambiente rude, mas de muita amizade, respeito e solidariedade que ambos viveram e conviveram.

“Era uma surpresa agradável quando, na roça, na hora do almoço, abríamos o caldeirão de comida e encontrávamos um pedaço de carne de porco que alguém da colônia havia matado e distribuído entre os vizinhos”, relata Antônio, revelando o sentimento de solidariedade existente entre os moradores.

Em 1969, José, então casado e com um filho, mudou-se para São Paulo a fim de novas oportunidades e de mudar de vida. Antônio se mudou em 1970, também para a capital paulista. Em 1971, com a morte do pai, que havia buscado tratamento em Campinas para uma úlcera estomacal, José retornou ao Paraná para viver em um pequeno sítio que havia sido adquirido por Francisco à custa de muito trabalho. Foi quando os amigos se viram pela última vez.

Antônio continuou em São Paulo, onde fez de tudo um pouco, até figuração no filme “O Marginal”, estrelado por Tarcísio Meira. Disposto a vencer na vida, estudou, formou-se em direito e hoje aproveita a aposentadoria dividindo seu tempo entre uma ampla casa localizada na fazenda de um amigo na região onde foi criança e um apartamento em Cianorte. Nunca se casou. Gosta da vida solitária no campo, onde cultiva suas lembranças e, quando as revela, prima pelos detalhes, citando nomes e histórias vividas.

Viagem ao passado

José reside em Maringá e nunca mais havia retornado à fazenda onde viveu. O que encontrou depois de mais de 50 anos o surpreendeu, principalmente a falta da mata. “Está tudo muito diferente”, disse ele, entre incrédulo e triste. Rever o amigo, para ele, foi prazeroso. “Gostei demais, apesar que tudo mudou, não tem mais a colônia, a serraria, a venda. Mas foi um grande prazer reencontrar o Antônio, gostei muito”, afirmou.

Antônio também gostou de rever o velho amigo e vê-lo bem, mesmo com a idade avançada. “Foi uma viagem na história das duas famílias e daquele tempo, recordando acontecimentos e traquinagens que, no final das contas, talharam nossas próprias personalidades fundadas naquele modo simples e autêntico de levar a vida: ao mesmo tempo na astúcia e na ingenuidade purificadoras da alma”, disse ele. “Fiquei satisfeito em vê-lo relatando acontecimentos daquela época de forma lúcida e detalhada. Foi uma viagem ao passado”, enfatizou.

Antônio lembra que a família dele e a de José eram muito próximas. “Pelo menos duas vezes ao mês o pai dele ia a nossa casa comer melado de cana com farinha”, conta. “Era uma iguaria que ele adorava”, completa, dando ideia de quão simples era a vida há sessenta anos. Ele se recorda também do casamento de José, quando, segundo ele, houve uma grande festança que terminou com um baile ao som de uma sanfona no terreirão de secagem de café.

O reencontro dos amigos foi proporcionado pelo filho de José, o jornalista e fotógrafo Valmir Faria, que há mais de 20 anos vive no Mato Grosso. “Apesar de não conviver com meu pai há mais de 45 anos, fiz isso como um presente a ele e como um reconhecimento a história dos dois”, afirmou Valmir.

(Reportagem Valmir Viana)

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