Ítalo Fábio Casciola Publisher do OBemdito

Em 1950, foi aberta a primeira estrada (de terra) ligando Maringá a Umuarama

Foi construída muito antes da atual PR-323, que iniciou a era das rodovias asfaltadas

A estrada ligando Maringá a Umuarama foi a primeira via aberta no meio da floresta. Era de terra e por ela chegaram as equipes da colonizadora para executar o projeto urbano de Umuarama e depois os pioneiros que vieram viver e trabalhar na nova cidade e na zona rural. A estrada começou a ser aberta no início da década de 1950. - Fotos: Acervo Italo Fábio Casciola
Em 1950, foi aberta a primeira estrada (de terra) ligando Maringá a Umuarama
Ítalo Fábio Casciola - OBemdito
Publicado em 15 de outubro de 2025 às 15h08 - Modificado em 15 de outubro de 2025 às 17h04

Quando foi fundada, Umuarama estava predestinada a viver presa a uma estrada de chão pois naquela época, década de 1950, nem era possível sonhar com rodovias asfaltadas. E assim viveu submissa até o final dos anos 1960, quando foi inaugurada a moderna PR‐323, construída num traçado paralelo à antiga via de terra, que era chamada de Estrada Velha, aberta pela CMNP.

Mas, é importante reconhecer que a CMNP desempenhou grandes esforços e investimentos para abrir a primeira estrada, ligando Maringá a Umuarama, passando por várias outras novas cidades situadas às margens desse trecho.

Toda a sua equipe e equipamentos rodoviários, remanescentes da compra da antiga Companhia de Terras Norte do Paraná, foram integrados a essa frente de trabalho que, consta, demorou longos meses. Tratores de esteiras e motoniveladoras, nessa ordem, percorriam lentamente os quilômetros derrubando o que encontravam pela frente (árvores centenárias e animais selvagens) uma grande obra de terraplenagem do futuro caminho a ser percorrido pelos colonos que viriam fixar morada em Umuarama e terras vizinhas.

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Motoniveladora da colonizadora trabalhando no preparo do fim da estrada chegando ao centro de Umuarama. Detalhe: atrás da máquina já estava em construção a primeira estação rodoviária, onde hoje está situada a Praça Arthur Thomas.

Para se ter uma idéia de tamanha epopéia, basta imaginar este território em tempos já distantes, era coberto apenas pelo céu e a mata, em estado absolutamente primitivo, com operários relegados à toda sorte e riscos de doenças desconhecidas, animais ferozes e índios de várias tribos nem um pouco satisfeitos com a “invasão branca” e a destruição de seu habitat.

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Máquinas abrindo a estrada no meio da floresta antes de acontecer o desmatamento total. Essa foi uma obra gigantesca e difícil de executar naqueles tempos antigos realizada pela colonizadora Companhia Melhoramentos Norte do Paraná – que além de Umuarama fundou outras grandes cidades no Estado. Graças a essa estrada aconteceu a colonização deste imenso território.

Foi a primeira grande obra de transportes

É nesses momentos que a História é mestre ao nos revelar o quão foi valente e importante a presença de trabalhadores de braços fortes e de coragem para executar a primeira grande obra de transportes para a fundação e desenvolvimento de Umuarama e de toda a civilização deste Noroeste paranaense.
Essa primeira estrada foi, seguramente, a espinha dorsal do tão decantado “progresso” que viria a seguir.

A colonizadora deve ter gastado uma montanha de dinheiro nessa obra, demorada e que exigia altas somas em consumo de petróleo, reposição de peças e manutenção de máquinas pesadas e com mão de obra operacional.

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Como antigamente ainda não se usavam cimento, tijolos nem ferros nas construções, as pontes em riachos e córregos da primeira estrada foram feitas com madeira da resistente peroba.

A Estrada Velha alavancou a fase inicial de Umuarama, não resta a menor dúvida, cujo sucesso ficou patenteado com a verdadeira “febre de vendas” que contaminou milhares de compradores vindos de todos os lugares do Brasil, atraídos em tempo recorde pela esperança do surgimento de uma nova fronteira agrícola. É bem verdade que aqui já existiam colonos morando, plantando e colhendo. Alguns, haviam comprado terrenos legalmente.

Outros eram posseiros mesmo, aqueles que foram chegando, levantando barracos sem dar satisfação a ninguém e… que viravam caça dos jagunços e pistoleiros, contratados para expulsá‐los.

Os primeiros agricultores que foram chegando a Umuarama na época em que a CMNP estava abrindo a estrada, puderam ver ao longo da viagem dezenas de acampamentos da colonizadora, onde pernoitavam os topógrafos, engenheiros, agrimensores e outros técnicos que estavam à frente da coordenação dos serviços.

Trabalho pesado de valentes desbravadores e potentes máquinas

Seguindo atrás das máquinas, que rugiam ferozmente soltando fumaça negra e fétida pelas ventas de seus gigantescos motores a óleo diesel, fazendo a floresta tremer. Eram cenas para nunca mais esquecer. São instantes que só cabe saborear àqueles que participam de um pioneirismo épico como foi este da abertura do nosso Noroeste.

Faziam parte desse pelotão que abria o caminho os trabalhadores braçais, a quem cabia o serviço pesado das roçadas laterais ou da construção das pontes em córregos ou riachos (nos rios maiores, como o Ivaí, a travessia era feita através de balsas).

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As travessias nos rios maiores (como esse, o Ivaí) eram feitas em balsas que atravessavam os veículos de um lado ao outro da antiga estrada. Em virtude da força das águas era impossível construir pontes de madeira…

Usavam a madeira da própria mata, devidamente fatiada em dormentes ou ripões pesados, pois as travessias deveriam ser resistentes o bastante para suportar a passagem de caminhões pesados das futuras safras de café. Alguns mananciais, mas rasos, por um tempo continuaram sendo atravessados pelo próprio leito, pois o prazo era curto e a estrada deveria estar pronta o quanto antes possível.

Nessa estratégia de fazer tudo o mais rápido possível, os engenheiros da CMNP programaram várias frentes de ação, entre um vilarejo e outro, que, conforme o cronograma avançava, acabavam se encontrando.

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Naquela antiga estrada, além de caminhões, ônibus e jipes, eram vistas boiadas indo de uma fazenda a outra. Apesar de infinitamente menor que a cafeicultura, a pecuária já existia no território rural de Umuarama em meados da década passada…

E, assim, de trecho em trecho, a construção da estrada avançou sob sol ou chuva, de dia ou de noite, algo sem similar aos olhos daqueles antigos viventes destas plagas, acostumados às sofridas e lendárias trilhas de outrora… Depois de vários anos, o sonho da primeira estrada de terra estava realizado!

Como resultado, a cidade e a zona rural de Umuarama foram crescendo e se agigantando como uma das maiores áreas de desenvolvimento rural (a cafeicultura foi a grande fonte de riquezas) e econômico do interior paranaense.

Em tempo: Esta é uma crônica jornalística em homenagem à colonizadora CMNP, que neste ano está comemorando 100 anos de fundação e atividades realizando obras históricas – no passado abriu grandes cidades que hoje são metrópoles! – que alavancaram o desenvolvimento do Paraná!!!

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E já no início da colonização surgiu o primeiro grande inimigo das vias de transportes que eram de terra: a erosão! Grandes crateras se espalhavam ao longo da estrada atormentando a vida dos fazendeiros que precisavam dela para mandar seus produtos para vendê-los em Umuarama e outros centros comerciais do Paraná.

(Italo Fábio Casciola, Especial para OBemdito)

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