Paulo Cesar Leite, representante da empresa Arrabal Serviços Médicos / FOTO: CMU

Política

Umuarama: prisão de testemunha foi saída honrosa para CPI não pagar mico

Depoimento de consultor de empresa contratada pela Prefeitura começou ruim e terminou pior

Paulo Cesar Leite, representante da empresa Arrabal Serviços Médicos / FOTO: CMU
Umuarama: prisão de testemunha foi saída honrosa para CPI não pagar mico
Leonardo Revesso
OBemdito
16 de outubro de 2021 21h20

O consultor Paulo Cesar Leite, o PC, sentou na cadeira de testemunhas da CPI da Covid, em Umuarama, com o conhecido pavio curto, que beira a empáfia. Não era diferente quando surgiu do nada para chefiar o gabinete do ex-prefeito Luiz Renato.

Leite foi convocado para depor como testemunha, na última quinta-feira (14), e saiu da sessão preso, direto para a Delegacia de Polícia Civil, sob a acusação de “calar a verdade”. Foi liberado horas depois.

O consultor afirmou prestar serviços para várias empresas e que tem uma renda média mensal de R$ 1.500. Porém, negou-se a informar quanto recebe especificamente da Arrabal Serviços Médicos, alvo da CPI, alegando que é um dado pessoal, e que não teria obrigação de expô-lo publicamente.

Leite disse desconhecer o nome do contador da sua cliente e que não sabia os valores pagos aos funcionários contratados por ela para executar o contrato com a Prefeitura, que ultrapassa os R$ 4 milhões. O questionamento foi feito diversas vezes, por vários vereadores.

O depoente, no entanto, se prontificou a dar todas as respostas, por escrito, no mesmo dia. Não sem antes jogar poeira no ventilador, para não dizer outra coisa.

Recusou-se a responder perguntas do relator da CPI, Mateus Barreto, alegando que o vereador tem interesses financeiros no contrato da Arrabal.

Cala a boca

Barreto participou de uma reunião em que médicos apresentaram insatisfação à diretoria da empresa sobre os valores que vinham recebendo. Afrontado, Mateus Barreto mandou Paulo Cesar Leite calar a boca. Como resposta, o vereador foi chamado de moleque.

Em suas redes sociais, Mateus Barreto disse que o consultor terá que provar na justiça tudo o que disse contra ele. “(Ele) terá que provar fato por fato na Justiça. Nosso trabalho como vereador e como relator da CPI vem sendo feito da forma mais transparente, íntegra e imparcial possível. E não será esse tipo de intimidação que me fará parar”.

Tensão desde o início

A oitiva já começou tensa, muito mais por conta do destempero verbal da testemunha. Por várias vezes, a presidente da CPI, Ana Novais, demonstrou irritação diante das respostas –ou a falta delas. Mas não se intimidou.

Jeitinho?

Leite também tentou enquadrar a vereadora Cristiane Gimenes da Silva, a Cris das Frutas, alegando que ela manteve contato direto com a dona da Arrabal para colocar uma técnica de enfermagem na Unidade Básica de Saúde de Carbonera.

De acordo com o consultor, a vereadora deveria manter contato com a Secretaria Municipal de Saúde, que administra o contrato com a Arrabal, e não diretamente com a empresa.

Cristiane alegou que a técnica indicada (e posteriormente contratada) mora na localidade e que, por isso, não tem necessidade de falta ao trabalho em dias chuvosos, como vinha acontecendo, quando a profissional era de Umuarama.

“Incompetente”

João Paulo Maciel de Oliveira, o Sorrisal, quis saber os valores pagos pela Arrabal aos funcionários e no calor da discussão, o vereador foi chamado de incompetente por Leite, sugerindo que as informações foram disponibilizadas para a Câmara e constam do portal da transparência do município.

Desmoralização

A decisão de mandar prender o depoente não foi uma tarefa fácil para os cinco vereadores que compõem a CPI. Até agora eles vêm atuando com unidade e equilíbrio. Mas era isso ou a desmoralização dos trabalhos, que já não andam como esperado, a contar pela grande quantidade de habeas corpus esparramada pelo Judiciário, garantindo o direito constitucional de testemunhas de se manterem caladas durante os depoimentos para não produzirem provas contra si.

Pelos dados “vazados”, é possível perceber que a investigação do Ministério Público está anos luz à frente do que a CPI colheu até o momento. Como se trata de processo em sigilo de justiça, as informações não podem ser compartilhadas.

“CPI é um circo”

Na saída da Câmara, já sob a escolta da Guarda Municipal, Leite voltou a atacar Mateus Barreto e esculachou o trabalho da CPI.

 “Essa CPI é um circo. Um desperdício de dinheiro público. Essa CPI está dois anos atrasada. Esses desmandos aconteciam enquanto o senhor Mateus Barreto era vereador em 2017, 18, 19 e ele nunca fiscalizou o poder público e ele está fazendo uma espécie de tentativa de redenção”, disse.

Recado

No final da sessão, a presidente Ana Novais mandou um recado para os depoentes que estão por debutar. Se mentir ou calar a verdade, vai preso. Mas a grande questão é: Paulo Cesar realmente mentiu, tentou esconder algo, ou só recebeu ordem de prisão por conta dos rojões que costuma disparar?

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