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Triplo homicídio: Mãe de advogada dormia com a porta fechada porque tinha medo do genro

Suspeito dos crimes era pressionado por ganhar pouco e não ter condições de se tornar provedor da família

Vaso de flor foi deixado no muro do sobrado na avenida São Paulo, onde ocorreu o crime FOTO: Danilo Martins/OBEMDITO
Vaso de flor foi deixado no muro do sobrado na avenida São Paulo, onde ocorreu o crime FOTO: Danilo Martins/OBEMDITO
Triplo homicídio: Mãe de advogada dormia com a porta fechada porque tinha medo do genro
Redação - OBemdito
Publicado em 15 de agosto de 2021 às 19h04 - Modificado em 16 de agosto de 2021 às 12h18
Gastro Umuarama

Um dos vários depoimentos tomados por investigadores do triplo homicídio em Umuarama mostra que o empresário Antônio Soares dos Santos, 65 anos, procurou ajuda psicológica para ele, a esposa, Helena Marra dos Santos, 59, a filha Jaqueline Soares dos Santos, 39, e o genro, Jean Michel de Souza Barros, também de 39 anos. 

O que você vai ler agora mostra o que seria um perfil obscuro de Jean, marido ciumento e, em alguns momentos, agressivo, a ponto de quebrar a porta do quarto da mulher durante uma discussão.

Um Jean temido e rejeitado pela sogra, que o via como um perigo. Seria por conta dos remédios que ela usava no tratamento contra a depressão? 

Um Jean que recebia conselhos e ajuda do sogro, mas que a todo tempo era “colocado contra a parede” por não demonstrar capacidade de ser um provedor da família. 

As informações constam em um dos depoimentos prestados ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) por uma pessoa extremamente próxima da família Santos. O nome da depoente será preservado. A iniciativa de depor teria partido da própria profissional da saúde, assim que ficou sabendo do crime. 

Jean tinha forte rejeição da sogra, Helena, que o via como um perigo. O sogro, Antônio, ao contrário do que se falou anteriormente, daria conselhos a Jean e o colocou como sócio (minoritário) na loja de aviamentos na praça Miguel Rossafa. 

Uma espécie de filial dos negócios bem-sucedidos que Antônio já tinha há vários anos em Guaíra, no Paraná, e Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul, onde conquistou o respeito da clientela. 

O depoimento também revela conflitos entre Helena e Antônio. O casal tinha um relacionamento difícil, mas os dois não pensavam em separação. Helena enfrentava uma depressão severa. Pouco saía de casa. 

Antônio manteria uma segunda família, esta com influência administrativa sobre a gestão de seus negócios, fora de Umuarama.  

Jean está preso como suspeito pelo assassinato da esposa e dos sogros. O triplo homicídio aconteceu no último domingo (8). Os corpos foram encontrados na manhã seguinte (9), no sobrado da família, na avenida São Paulo, área de classe média de Umuarama. Pai, mãe e filha tinham perfurações causadas por faca, apurou a perícia.

Pegada de chinelo que seria de Jean foi encontrada na cena do crime, sobre uma mancha de sangue. Amostras também foram colhidas no carro e em roupas do rapaz, bem como uma faca de serra que estava na cozinha da casa da mãe, com quem teria voltado a morar nos últimos meses.

Somente após o confronto de DNA será possível saber se o sangue seria das vítimas. O suspeito alega inocência. Há um pedido de urgência para a conclusão do laudo, realizado em laboratórios especializados da Polícia Civil, em Curitiba. 

Trechos do depoimento

 “O Sr. Antônio relatou preocupação com a situação (comportamentos estranhos que o Sr. Jean apresentava), pois ele (Antônio) não ficava na residência durante a semana, que possuía comércio em outra cidade, que passava a semana por lá e retornava para Umuarama aos finais de semana”.

“Era o Sr. Jean quem ficava durante a semana com a Sra. Helena e a Sra. Jaqueline na residência, local dos fatos; que a Sra. Helena ligava para o Sr. Antônio contando o que o Sr. Jean estaria fazendo, e que em razão disso, o Sr. Antônio teria procurado atendimento para que a depoente pudesse avaliar se as atitudes do Sr. Jean eram ‘normais ou não’”.

 “Que o Sr. Jean talvez teria traços de psicopatia, esquizofrenia, mas que não poderia afirmar tal diagnóstico, em razão de não ter sido realizada uma avaliação neuropsicológica”.

“Que a Sra. Helena já havia relatado, em terapia, que dormiria com a porta chaveada, por medo de que o Sr. Jean pudesse fazer alguma coisa com ela”.

“Que em outra sessão, a Sra. Jaqueline relatou que haveria um happy houerde advogados e que ela teria resolvido ir ao local, e que quando ela entrou no banheiro para tomar banho, o Sr. Jean teve um surto e destruiu toda a porta, e que a Sra. Helena ligou para o Sr. Antônio para tentar acalmá-lo e este conversou com ele (Jean)”.

“Que a Sra. Jaqueline também relatou, em sessão, que teria um gato, mas que o gato havia sumido, e que então ela achava que o Sr. Jean teria ‘dado um fim no gato’”.

 “Que o Sr. Antônio fez de tudo para que o Sr. Jean começasse a trabalhar com ele, pois o que Sr. Jean ganhava era muito pouco e não tinha condições de ajudar com as despesas. Que o Sr. Antônio é quem ‘bancava’ tudo dentro de casa”.

“Que o Sr. Antônio era pessoa extremamente controladora, que colocava o Sr. Jean contra a parede, pois acreditava que o homem é quem deve ser o provedor da casa”.

“Que nas últimas sessões de terapia, a Sra. Jaqueline relatou que estava pensando na possibilidade de separação, e que continuaria morando com os pais enquanto estudava para passar em um vestibular para o curso de medicina para não ser mais dependente economicamente dos pais”.

“Que a Sr. Jaqueline relatou que amava o Sr. Jean, que queria estar com o Sr. Jean, mas que a pressão dos pais era muito grande em cima dela e em cima do Sr. Jean, porque o salário que ele ganhava era muito pouco e ainda possuía dívidas”.

“Que o Sr. Antonio relatou, em sessão, que teria uma amante, de muitos anos (…), que também ‘bancava’ a amante e os filhos (…)”.

“Que indagada pela Sra. Jaqueline se as informações trazidas pela Sra. Helena, nas sessões, poderiam ser invenções da sua cabeça, em razão da Sra. Helena ser depressiva e fazer ingestão de medicamentos, a depoente (psicóloga) chegou a pensar na hipótese, mas no decorrer das sessões entendeu que os fatos relatados por todos eles teriam pertinência”.

 “Que a Sra. Jaqueline também havia relatado em sessão que iria investigar o pai no sentido dele estar desviando dinheiro para outras pessoas, sem saber que o próprio Sr. Antônio teria relatado, também em sessão, que teria uma amante (…)”.

 “Por fim, a depoente relatou que a Sra. Jaqueline, nas últimas sessões, deixou claro que entre a segurança proporcionada pelos pais e o seu casamento com o Sr. Jean, que ela ficaria com os pais”.

Prisão em flagrante foi relaxada pela justiça

A juíza Silvana Cardoso Pinto, da 2a Vara Criminal de Umuarama, relaxou a prisão em flagrante de Jean Michel logo após a audiência de custódia. O comerciante passou a cumprir prisão preventiva, o que ameniza, em parte, sua situação.

Na decisão, a juíza deixa claro que não houve “estado de flagrância no presente caso” e que “inexistem quaisquer das situações previstas no artigo 302 do Código de Processo Penal, inclusive a do inciso IV, justificada pela Autoridade Policial, constatando-se, assim a ilegalidade da prisão em flagrante”. 

Por ter curso superior, Jean foi transferido para uma cela especial da cadeia de Campo Mourão, uma vez que Umuarama não dispõe deste tipo de espaço para custodiados.

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