Rudson de Souza Publisher do OBemdito

Volume de dados leva à criação de força-tarefa no caso Icaraíma; investigação segue sem prazo

Departamento montou força-tarefa para examinar volume “robusto” de informações

Último registro das vítimas, feito no hotel onde se hospedaram antes de desaparecer em Icaraíma (Foto Reprodução Redes Sociais)
Volume de dados leva à criação de força-tarefa no caso Icaraíma; investigação segue sem prazo
Rudson de Souza - OBemdito
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 17h59 - Modificado em 5 de novembro de 2025 às 07h43

A Polícia Civil do Paraná informou que ainda não há data definida para a conclusão das investigações sobre o assassinato de quatro homens em Icaraíma, na região de Umuarama. Segundo o órgão, o volume de dados obtido é tão grande que foi necessária a criação de uma força-tarefa para realizar as análises.

De acordo com a instituição, o Departamento da Polícia Civil disponibilizou dois analistas de dados para se somarem aos agentes do Grupo de Diligências Especiais de Umuarama, a fim de dar maior celeridade ao caso.

Além das equipes de campo, há um grupo de policiais dedicado exclusivamente às análises técnicas e cruzamento de informações. Apesar do esforço concentrado, a Polícia Civil afirmou que a conclusão do inquérito deve demorar ainda alguns meses, em razão da complexidade e do volume de provas colhidas.

Defesa pede revogação da prisão

O advogado Renan Farah, que representa Antônio Buscariollo, de 62 anos, e o filho Paulo Ricardo Buscariollo, de 22 anos, afirmou nesta segunda-feira (4), em entrevista ao OBemdito, que ingressou com pedido de revogação da prisão temporária dos dois investigados.

“Ingressamos com o pedido de revogação da prisão temporária do Paulo e do Antônio. Entendemos que, depois de mais de 30 dias, que era o prazo da prisão temporária, não é mais necessário que eles permaneçam presos para o andamento do inquérito”, declarou o advogado.

Farah defende que, caso os investigados possam retornar a Icaraíma, eles poderiam auxiliar nas investigações e se colocar à disposição da Polícia Civil. O advogado também voltou a negar a participação dos dois no crime, sustentando que não estavam na cidade no dia das mortes.

Buscarioolo (1)

Defesa questiona acesso a inquérito

Ainda segundo Farah, a defesa protocolou nesta segunda-feira um pedido de habilitação em um novo inquérito que teria sido aberto sob sigilo e apensado ao processo original.

“Veja, mais um inquérito é feito sob sigilo e agora foi apensado ao que a gente já tinha acesso. Só que nós não temos acesso a esse apenso. Até ontem nem sabíamos o número dele. Estava em algum lugar escondido”, afirmou.

Ele criticou o que classificou como falta de transparência e alegou que a defesa enfrenta “subterfúgios” e obstáculos para ter acesso integral aos autos.

“Os desembargadores mandaram nos habilitar, mas criam caminhos para que a gente continue cego no processo. Quem é atacado nisso? A defesa, a advocacia. É um direito do advogado ter acesso aos autos”, completou.

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Resposta da Polícia Civil

Em nota, a Polícia Civil do Paraná informou que não há um novo inquérito policial sobre o caso. Segundo o órgão, existe apenas um inquérito principal, que possui medidas cautelares apensadas, documentos que permanecem sob sigilo por registrarem diligências ainda em andamento.

A instituição ressaltou que a manutenção do sigilo está amparada por decisão judicial e pela Súmula Vinculante nº 14 do Supremo Tribunal Federal (STF), que permite a restrição de acesso a medidas que possam ser comprometidas caso sejam reveladas antes de concluídas.

“O acesso de advogados ou partes a investigações em curso poderia prejudicar o êxito das medidas, razão pela qual o STF entende que o acesso só é possível após a finalização da diligência em curso”, diz a nota.

Icaraima Veiculo E Removido De Vala E Corpos De Desaparecidos Nao Sao Localizados 5

Histórico policial dos envolvidos nos fatos

Na tarde desta terça-feira, a PCPR também divulgou o histórico policial dos seis envolvidos nos fatos em Icaraíma. Confira abaixo:

ANTONIO BUSCARIOLLO
Ano 2018: posse ilegal de arma de fogo

PAULO RICARDO COSTA BUSCARIOLLO
Nada consta

DIEGO HENRIQUE AFFONSO
Ano 2024: ameaça contra esposa, no âmbito da violência doméstica (Lei Maria da Penha), estelionato;
Ano 2023: estelionato, ameaça, redução a condição análoga à de escravo;
Ano 2022: ameaça, estelionato;
Ano 2021: estelionato, difamação, ameaça, injúria
Ano 2019: apropriação indébita
Ano 2018: ameaça

RAFAEL JULIANO MARASCALCHI
Ano 2025: ameaça
Ano 2023: exercício arbitrário das próprias razões;
Ano 2022: exercício arbitrário das próprias razões;
Ano 2018: ameaça;
Ano 2017: ameaça contra a esposa, no âmbito da violência doméstica e familiar.
Ano 2014: ameaça;
Ano 2008: tráfico de drogas e associação para o tráfico de drogas;
Ano 2007: tráfico de drogas;
Ano 2005: tentativa de homicídio

ROBISHLEY HIRNANI DE OLIVEIRA
Ano 2018: dano, estelionato, ameaça;
Ano 2017: estelionato;
Ano 2016: ameaça, exercício arbitrário das próprias razões, ameaça contra esposa no âmbito da violência doméstica, lesão culposa no trânsito e fuga do local do acidente, estelionato;
Ano 2015: estelionato;
Ano 2014: embriaguez ao volante, estelionato, ameaça;
Ano 2013: ameaça contra esposa no âmbito da violência doméstica; crime ambiental contra flora;
Ano 2003: furto qualificado;

ALENCAR GONÇALVES DE SOUZA GIRON
Nada consta

Entenda o caso

Os dois principais suspeitos, Antônio e Paulo Buscariollo, seguem foragidos desde 8 de agosto, quando a Justiça decretou prisão preventiva para ambos.

As investigações apontam que o crime em Icaraíma teve origem em um conflito comercial envolvendo um sítio de cinco alqueires, avaliado em R$ 750 mil, no distrito de Vila Rica do Ivaí, em Icaraíma.

Diferente de versões iniciais, Alencar Gonçalves de Souza, uma das vítimas, não vendeu, mas comprou a propriedade de Antônio Buscariollo, pagando R$ 255 mil à vista. O restante seria financiado via empréstimo bancário, que acabou negado, levando ao distrato.

O acordo previa que Antônio devolveria o valor pago em dez parcelas de R$ 25 mil, e Alencar abriria mão das benfeitorias no local. As notas promissórias foram emitidas em nome de Carlos Eduardo Cândido Buscariollo, outro filho de Antônio, residente em São Paulo.

Mortos Em Icaraima

Cobradores vindos de São Paulo

Com o atraso nos pagamentos, Alencar contratou Diego Henrique Afonso, de 39 anos, conhecido por atuar em cobranças. Ele levou consigo Rafael Juliano Marascalchi, de 43 anos, e Robishley Hirnani de Oliveira, de 53 anos, ambos de São José do Rio Preto (SP), para acompanhá-lo à cidade paranaense.

Rafael viajou a contragosto da esposa, que o alertou sobre os riscos. Ele aguardava o nascimento da segunda neta.

Emboscada e desaparecimento

De acordo com a investigação, Antônio chegou a oferecer uma casa em Icaraíma para quitar a dívida, mas a proposta foi recusada. Pouco depois, marcou uma nova reunião em 5 de agosto, em uma propriedade rural.

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O encontro terminou em tragédia. A polícia encontrou cápsulas de cinco calibres diferentes, incluindo fuzil e pistola .45, e marcas de tiros em árvores.

A principal linha de investigação indica que as quatro vítimas foram mortas no sítio, em plena luz do dia, entre 11h30 e 13h15.

Corpos encontrados após 45 dias

Após 45 dias de buscas, as forças de segurança localizaram os corpos entre a noite de 18 e a madrugada de 19 de setembro. As escavações ocorreram em área rural com apoio da prefeitura, e a Polícia Científica concluiu os trabalhos por volta das 5h da manhã.

O caso segue sob investigação e é considerado um dos crimes mais complexos e violentos da história recente do Noroeste do Paraná.

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