Mercearia de Lovat desafia o tempo e ainda vende no fiado, pela caderneta
O sistema de pagamento, com base na confiança, é utilizado para os antigos clientes, que fazem parte da história da Mercearia do Senhor Getúlio
Saindo da agitação e do trânsito intenso de Umuarama, encontramos um pequeno refúgio onde o tempo parece desacelerar. Após percorrer 7,7 quilômetros pela tranquila estrada dos Pioneiros, agora toda asfaltada, chegamos ao distrito de Lovat, que também tem acesso pela PR 323.
Ruas tranquilas, conversas na calçada e cumprimentos amistosos, criam a sensação de que se voltou a um passado que ainda insiste em existir. E faz bem.
Entre as casas simples e o silêncio, está a conhecida Mercearia do Senhor Getúlio, um espaço que carrega meio século de histórias. Atrás do balcão de madeira entre as prateleiras de produtos variados, encontramos Dona Ilda, acompanhada por seus fiéis companheiros, três cachorros e um gato.
Tímida, mas gentil, ela nos recebeu com um sorriso contido e começou a contar sobre a vida e o legado que construiu ao lado do marido, Getúlio Alves de Souza, de 83 anos.

Nascida em Pirapozinho (SP), Dona Ilda chegou em Cruzeiro do Oeste ainda menina e, anos depois, mudou-se para Lovat, onde fundou a mercearia. Ela e o marido se casaram em 1975 e tiveram dois filhos, uma filha que ainda mora com eles e um filho já falecido. “Aqui é a nossa vida”, afirma, emocionada, ao falar do lugar que ajudou a criar.
Durante as décadas de 1970 e 1980, o comércio era ponto de encontro das famílias sitiantes, que vinham de carroça ou a cavalo para comprar mantimentos. Na época, o trajeto até Umuarama ou Cruzeiro do Oeste era difícil, e a mercearia supria boa parte das necessidades locais.
A confiança predomina na mercearia em Lovat
Hoje, o movimento é menor, mas a tradição permanece. Além disso, o sistema de crédito na caderneta ainda funciona para os clientes antigos. Cartão e Pix não entram. A confiança predomina.
As prateleiras, montadas por encaixes, permanecem firmes, sem um único prego. “Foi tudo feito planejado pelo Getúlio”, conta com orgulho.
Em um momento de descontração e saudosismo, Dona Ilda relembra o que vendiam nos tempos áureos de seu estabelecimento em Lovat. Além disso, ela afirma que vendiam tudo em grandes quantidades, a granel, e mostra um aparelho antigo que encaixava em um tonel de óleo de soja para encher as embalagens menores que os clientes levavam.

Hoje, a rotina continua simples: o casal abre as portas e o expediente tem pausa para o almoço, que Dona Ilda diz fazer com prazer. No fim da tarde, a mercearia se transforma em ponto de encontro. Amigos se reúnem para conversar, tomar um aperitivo e relembrar tempos em que o interior era mais animado.
Não existe mais o movimento constante que tomava o tempo de Dona Ilda e seu Getúlio. Em vez disso, uma calmaria domina a rotina. Assim, os dias seguem tranquilos e sossegados na Mercearia do Senhor Getúlio no distrito
Entre a saudade e a esperança, o casal de Lovat segue firme. “Era mais alegre antes, mas a gente vai tocando até o fim da vida”, diz, olhando para as prateleiras que guardam não apenas produtos, mas memórias de uma época que o progresso não conseguiu apagar.








