Paraná

‘Por favor, não tenham medo de denunciar! Assim o mal prevalece’, diz irmã de desaparecido em Icaraíma

O desaparecimento de Robishley Hirnani de Oliveira, de 53 anos, Rafael Juliano Marascalchi, de 43 anos, Diego Henrique Afonso, de 39 anos, e de Alencar Gonçalves de Souza, de 36 anos, vistos pela última vez em 5 de agosto em Icaraíma, completa mais de 40 dias sem respostas concretas. A família Gonçalves de Souza, em meio à angústia, lançou um apelo direto à comunidade: que pessoas que sabem de algo falem, mesmo que anonimamente.

A irmã de Alencar, Alesandra Gonçalves de Souza, de 37 anos, transformou a dor em cobrança. Para ela, há moradores da região com informações relevantes, mas que se calam por receio de retaliações. “O mal prevalece porque as pessoas têm medo e não falam nada”, disse à reportagem do OBemdito, em entrevista exclusiva.

Leia mais: Alencar não vendeu propriedade rural para Antonio Buscariollo. A história é outra

Ela contou que o pai, já idoso, tem sofrido de forma intensa desde o desaparecimento. “Ele está muito abatido, surrealmente abalado. É doloroso olhar para ele e sentir a impotência do que estamos vivendo, principalmente após o encontro do veículo”, desabafou.

Apesar de tentar se manter firme para apoiar a família, Alesandra admite que o peso é enorme: “Não está sendo fácil, está muito difícil. A gente se revolta porque sabe que existem informações que poderiam ajudar e ficam abafadas pelo medo”.

Carta anônima

Na última sexta-feira (12), uma reviravolta trouxe novos elementos à investigação: a Fiat Toro branca usada pelos quatro desaparecidos foi localizada enterrada dentro de um bunker subterrâneo, a cerca de nove quilômetros da propriedade ligada aos principais suspeitos.

O achado só foi possível porque, no dia 11, o pai de Alencar recebeu uma carta anônima com detalhes sobre o local. O bilhete, deixado na porteira da propriedade dentro de uma sacola plástica, citava pontos de referência e até apelidos familiares, informação conhecida apenas por pessoas próximas.

Leia mais: Bando que executou homem dentro da igreja de Ivaté pode ter relação com o caso de Icaraíma

Além da carta anônima, um informante também colaborou com a polícia, segundo confirmou o secretário de Segurança Pública do Paraná, coronel Hudson Leôncio Teixeira. O fato mostra que denúncias relevantes podem colocar fim à angústia da família.

Quando o veículo foi desenterrado, na madrugada de sábado (13), a Polícia Militar encontrou vestígios de sangue e marcas de disparos de arma de fogo na lataria e no para-brisa. O achado reforçou a suspeita de que os homens foram vítimas de execução.

No domingo (14), as buscas continuaram na região e policiais localizaram duas munições calibre 9 milímetros em uma propriedade que, assim como uma residência, estaria sendo negociada entre uma das vítimas e os suspeitos.

O terreno em disputa

A principal linha de investigação aponta que o desaparecimento está ligado a um negócio rural envolvendo um sítio de cinco alqueires no distrito de Vila Rica do Ivaí.

Alencar comprou a propriedade de Antônio Buscariollo, de 63 anos, por R$ 750 mil. Pagou R$ 255 mil à vista e financiaria o restante, mas o crédito foi negado. Sem o financiamento, precisou devolver o terreno, e as partes passaram a discutir o distrato.

Pelo acordo, Buscariollo devolveria os R$ 255 mil em dez parcelas de R$ 25 mil. Em contrapartida, Alencar abriria mão das benfeitorias feitas no local, como cercas, porteiras, pastagens e carreadores, além do tempo de uso da terra para criação de gado.

As parcelas foram formalizadas em notas promissórias emitidas em nome de Carlos Eduardo Candido Buscariollo, de 27 anos, filho mais velho de Antônio.

Com os atrasos nos pagamentos, Alencar passou a cobrar com frequência. Foi nesse contexto que contratou o cobrador Diego Henrique, que trouxe consigo Rafael Marascalchi e Robishley Oliveira, para acompanhar a cobrança no Paraná.

Suspeitos continuam foragidos

A Polícia Civil trata o caso como de alta complexidade. Até o momento, os principais suspeitos, Antônio Buscariollo e seu filho Paulo Ricardo Buscariollo, tiveram a prisão preventiva decretada, mas permanecem foragidos.

Eles são apontados como os últimos a terem contato com o grupo, já que os quatro haviam ido até a propriedade deles para cobrar uma dívida no dia em que desapareceram.

Apelo por denúncias sem medo

A carta que levou à localização da picape se tornou prova para Alesandra de que a comunidade pode ser peça-chave nas investigações. Ela pede que pessoas que saibam algo não se calem: “Existem tantas coisas que poderiam ajudar muito, mas ficam abafadas pelo medo. Se todo mundo se calar, o mal vai prevalecer mesmo”.

A Secretaria de Segurança Pública lembra que informações podem ser repassadas de forma anônima e segura pelo telefone 181 ou pelo site. Não é necessário se identificar, e cada denúncia gera um protocolo que pode ser acompanhado pelo denunciante.

Agradecimento às forças de segurança

“Quero agradecer de coração a atenção e dedicação de todas as equipes que estão investigando o caso dia e noite: Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Polícia Militar e Força Nacional. Cada esforço tem sido fundamental para buscarmos respostas”, disse ela.

Alesandra também fez menção especial ao delegado responsável pelo caso: “Quero agradecer especialmente ao delegado Tiago Andrade, que sempre nos atendeu com paciência e atenção, nos dando suporte e informações durante toda a investigação”, afirmou.

O reconhecimento reforça a confiança da família no trabalho do Estado, mesmo diante da dor e da incerteza sobre o paradeiro dos quatro desaparecidos.

Rudson de Souza

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