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Graça Milanez Publisher do OBemdito

Trabalho voluntário no Jabuticabeiras revitaliza salão para acolher e encorajar alcoolistas

Uma associação gerencia o projeto pautado em ações educativas; cerca de cinquenta pessoas são atendidas, em reuniões semanais

Foto: Danilo Martins/OBemdito
Foto: Danilo Martins/OBemdito
Trabalho voluntário no Jabuticabeiras revitaliza salão para acolher e encorajar alcoolistas
Graça Milanez - OBemdito
Publicado em 12 de maio de 2024 às 18h26 - Modificado em 13 de maio de 2024 às 09h06
Gastro Umuarama

Que é doença e que causa muitas outras doenças todo mundo sabe. Pior: pode levar à morte, também. O uso nocivo do álcool é preocupação constante dos órgãos de saúde pública, porque seu ônus social e econômico é devastador: resulta em danos não só para o usuário, mas para toda a família dele, para amigos, para colegas. É considerado um fardo difícil de ser combatido. Entidades sem fins lucrativos entram no circuito com o objetivo de colaborar. O Brasil tem muitas. Umuarama também.

Mostrando que a sociedade umuaramense está atenta ao problema, a do Parque Jabuticabeiras dá seu recado com um trabalho de reativação da Associação de Recuperação de Alcoólatras [fundada em 1992]; um grupo de voluntários do município se uniu e reformou o salão de aproximadamente 130 m2, construído em 2000. Com uma sala de apoio, banheiros, cozinha e uma pequena varanda, o ambiente acomoda cerca de cem pessoas nas reuniões periódicas que realizam para orientar alcoolistas e suas famílias.

A reforma deixou o ambiente mais agradável. “Mas ainda tem muito por fazer para deixar nosso projeto prontinho, do jeito que almejamos. A sede estava fechada; parou de funcionar na pandemia da Covid-19… Fizemos um esforço concentrado para reabrir, daí vimos que precisava de uma reforma; corremos atrás de apoio, conseguimos 100%! Em março iniciamos a obra e já está quase concluída”, relata o presidente da entidade, Rodrigo Cardoso, 38 anos.

“Recebemos muitas doações de empresários, de amigos, de pessoas que consideram essa luta importante; estamos contentes com a receptividade”, acrescenta o empresário, que assumiu o cargo no ano passado. 

“Assumi com um grupo de pessoas motivadas, como eu, para fazer deste um lugar de acolhimento, de respeito, de transformação; continuamos nos esforçando para que isso se concretize, liderando um trabalho árduo, mas imprescindível”, assegura, apontando para a frase ‘evite o primeiro gole’, que aparece em letras grandes numa ‘caixa’ retangular presa ao teto e próxima ao púlpito. “A abstinência total, a sobriedade é a condição para a recuperação… é o que enfatizamos aqui para aqueles que se encontram na doença”, ressalta o presidente.

Rodrigo Cardoso, presidente do ARA Jaboticabeiras

A metodologia usada para sensibilizar a pessoa que sofre com transtorno por uso de álcool é o testemunho. “A cada encontro um dos nossos acolhidos expõe sua história, suas dores, seus traumas e todos os outros ouvem, sem julgar; a ideia é ajudá-lo a se fortalecer, a se restabelecer, quebrando preconceitos e encarando o problema com consciência”, explica. “E essa é uma missão urgente, afinal somos seis milhões de alcoólatras no Brasil!”.

As reuniões do ARA Jabuticabeiras são semanais [às quintas-feiras à noite], mas a cada três meses uma é especial: é quando os acolhidos recebem um certificado de ‘honra ao mérito’ pelo esforço em prol do cumprimento da meta proposta. No final do ano, um evento grandioso e festivo condecora novamente, por mais objetivos alcançados.

A entidade foi fundada pelo empresário Abelardo Faria [mais conhecido por Paixão Farias], que conduzia as primeiras reuniões no salão de eventos do Parque das Jaboticabeiras. Em 1995, o empresário Nilton Cardoso doou o terreno para a construção da sede própria, coordenada pelo empresário Nilson Barroso e concluída em 2000.

Atualmente, cerca de cinquenta pessoas são atendidas em reuniões semanais, além de mais de 500 por meios de palestras em clínicas e centros terapêuticos de Umuarama e região [a equipe do ARA vai a esses locais para conversar sobre o assunto e encorajar os adictos].

Rodrigo e Antônio: parcerias são importantes e bem-vindas

Trabalho premiado

Rodrigo acha lamentável os números das estatísticas que revelam aumento significativo do alcoolismo na população mais jovem, onde também crescem os novos diagnósticos de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. “Por isso precisamos redobrar as práticas educativas em relação a esse assunto, alertando desde a infância que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas só nos traz prejuízos… Mas para isso precisamos de mais gente empenhada nessa causa”.

Ele informa que o ARA do Jabuticabeiras conta com uma psicóloga voluntária. “No entanto, precisamos de mais profissionais dessa e outras áreas, como assistente social, para assistir as famílias, também… Queremos ainda um secretário em tempo integral e um veículo para buscar e levar os assistidos, porque muitos moram em outros bairros… Acreditamos conseguir isso tudo, um dia”, expressa, em tom esperançoso.

Antônio Borsato, vice-presidente do ARA Jaboticabeiras

Pelo trabalho social que desenvolve frente ao ARA Jabuticabeiras e na igreja, conquistou um prêmio estadual. Ele foi contemplado com ‘Menção Honrosa’ da Assembleia Legislativa do Estado, “pelos relevantes serviços prestados à comunidade paranaense” [entregue em 7 de março, na abertura da Expo Umuarama]. 

“Esse reconhecimento se estende a todas as pessoas que lutam comigo, minha família, colaboradores, parceiros e irmãos da fé”, assegura o empresário, que é neto do pioneiro Abílio Cardoso [em memória], um dos expoentes da história do voluntariado umuaramense.

Sede da entidade, que tem capacidade para acolher cem pessoas

“Certamente estaria na sarjeta”

Na vice-presidente do ARA Jabuticabeiras está o comerciante aposentado Antônio Borsato, 61 anos. Ele diz estar bastante empenhado porque já sentiu na pele as dificuldades e dissabores que o alcoolismo gera. “Faz trinta anos que estou ‘curado’! Desde 1994 que não bebo”, conta, com ar de alívio.

“Eu bebia, minha família já não me aguentava mais… Chegou ao ponto de minha esposa ameaçar a me deixar… Mas reagi, entrei no ARA e consegui me libertar do vício; agora me sinto um homem digno… Se não tivesse feito isso, certamente hoje estaria na sarjeta ou na beira da rodovia, carregando um saco nas costas… O ARA foi importante para mim e continua sendo, por isso colaboro!”

Segundo ele, chegou o momento de retribuir: “Arregacei as mangas e ajudei na reforma e sigo ajudando em tudo o que for preciso., porque o ARA é o maior bem para o alcóolatra e para a sua família… Ambos precisam de apoio, do ‘ombro a ombro’, da compreensão, da mão estendida! Fazer parte do ARA é uma bênção!”.

Reforma deixou tudo bonito e funcional na sede da entidades

E faz um apelo: “Todas as pessoas da comunidade umuaramense estão convidadas para conhecer o ARA, conhecer nosso trabalho e participar, também, das ações, afinal, quanto mais engajamento em torno do problema, mais facilmente alcançamos superação; unidos, compartilhando experiências e forças, salvaremos muita gente! O alcoolismo é uma doença que não tem cura, mas tem tratamento!”.

Serviço

ARA Jabuticabeiras – reunião semanal: toda quinta, das 20h às 22h.

Saiba mais (44) 98455-7000

Outras entidades

Umuarama tem mais entidades que atuam na área de recuperação de alcoolismo e outras drogas químicas. A primeira que surgiu na cidade foi o ARA (Associação de Recuperação de Alcoólatras) do Jardim Petrópolis, fundado em 1976.

Em 1991, com a Associação Desafio Jovem Canaã, nasceu a Fazenda Renascer, que dispõe de vinte vagas; entre outras comunidades terapêuticas bastante atuantes, também, estão o Projeto Restauração [2001], com 28 vagas; e o Ágape, com 180 vagas [2015].

O município também conta com o AA (Alcoólatras Anônimos), que iniciou atividades aqui em 2009; e o NA (narcóticos anônimos), entidade mundial [assim como o AA] que chegou a Umuarama há 15 anos e atende cerca de 20 pessoas.

A frase icônica: sobriedade é a primeira condição para o tratamento
Odélio Henrique dos Santos, o fundador do primeiro ARA de Umuarama, o do Petropólis
Antônio Borsato, quando entrou no ARA há trinta anos
Certificado de honra ao mérito para quem cumpre as metas
Antônio Borsato diz que a entidade foi imprescindível para ele se libertar do vício

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