Fotos: acervo de Italo Fábio Casciola

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Os antigos invernos eram terrivelmente mais gelados dos que vivemos hoje em Umuarama…

E hoje não chove tanto como no passado: as chuvas diminuíram 54% no período de 40 anos

Fotos: acervo de Italo Fábio Casciola
Os antigos invernos eram terrivelmente mais gelados dos que vivemos hoje em Umuarama…
Ítalo Fábio Casciola
OBemdito
13 de agosto de 2023 12h59

Nos tempos idos da colonização de Umuarama, décadas de 50 e 60 do século passado, além do trabalho pesado com o desmatamento do território para dar início à Era da Cafeicultura aqui neste Noroeste, a população sofria com as temporadas de inverno.

A chegada de julho e agosto, principalmente, sacrificava todo mundo que, mesmo com as temperaturas baixas e as chuvas fortes, tinha que enfrentar o trabalho nas lavouras. Arriscava a saúde e até a vida, pois aqueles imensos campos abertos eram dominados pelos ventos uivantes hiper gelados…

Hoje, quando vejo alguém reclamando do frio – estamos no inverno e isso é comum… – recordo aqueles tempos em que eu era adolescente. Quando na escola a professora avisava que ‘daqui a alguns dias o frio vai começar’, a gente arrepiava. Porque frio antigamente era muito mais que frio, o inverno era gelaaado mesmo!

Ficaram marcados na minha memória aqueles momentos em que a diretora da escola decidia cancelar aulas por até uma semana, pois o frio era tão cruel que as crianças não suportavam ir de casa à escola (e vice versa) com temperaturas baixíssimas e aumentadas pelos ventos fortes que levantavam poeira… Quando o tempo ‘,melhorava’ e o frio estava suportável todos voltavam às aulas.

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Os termômetros despencarem de 10 graus para 2 ou 3, perto do zero!, era fácil fácil… E havia os dias em que surgia um sol bonito mas parece que não tinha poder de vencer o frio, era aquele calorzinho miúdo, apenas coloria o cenário de inverno. Nesses momentos a gente sentia saudade do verão!!!

O sol permanecia horas no céu… até que de repente, sumia misteriosamente e tudo ficava escuro. E São Pedro meio atormentado mandava nuvens escuras gigantes, acompanhadas por raios e trovões.  Pronto, começava a tortura invernal de novo, a sofrência estava de volta…

Na época chovia muito mais do que hoje. E as pancadas de água eram fortes, pesadas e durante horas seguidas. Imaginem vocês da geração de agora, o cenário que Umuarama se tornava sem ter ruas asfaltadas, sem rede de águas pluviais, sem nada… As vias eram ‘naturais’, ou seja, de terra ou de areia. Com a poderosa chuva caindo as enxurradas desciam dos pontos mais altos da cidade para os baixadões destruindo tudo que encontravam pela frente e formando imensos buracos, diria crateras.

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No fim do trajeto ficavam empossadas criando tremendas lagoas de lama e lixo, E isso durava alguns dias, provocando uma fedentina insuportável. E não havia recursos, operários e nem máquinas para retirar tudo que se acumulava com barro e lixo. E essas imensas poças de lama se espalhavam por todos os cantos da antiga Umuarama, que possui um geografia acidentada.

Depois de uma chuvarada, sair às ruas era realmente uma situação de chorar no molhado… Imaginem, por exemplo, a Avenida Paraná dominada inteiramente por lodo. Andar pelas margens, que ainda não tinham calçadas, era simplesmente terrível pois a gente atolava dos pés às canelas. Nem galochas nem botas evitavam que os pés ficassem com cheiro de barro fedido. Andar assim tanto em subidas como nas descidas era perigoso, pois os pés deslizavam dentro dos calçados cheios de lama e as pessoas perdiam o equilíbrio. Ruim, hein!

Fotos: acervo de Italo Fábio Casciola

Chegar em casa ou no trabalho, inevitavelmente todo mundo era obrigado a tirar os calçados e se lavar para não emporcalhar o lugar. Sempre havia um chinelo ou uma sandália para substituição nesses casos.

Até hoje Umuarama sofre com as violentas enxurradas, agora provocadas pelo domínio do cimento e asfalto (impermeabilização) que cobrem o solo que poderia absorver grande parte das águas das chuvas que as redes pluviais não conseguem canalizar. A diferença é que agora a quantidade de barro é muito menor do que quando as ruas eram de terra, mas o drama persiste.

Para se ter uma idéia de que os tempos mudaram literalmente, registro que um estudo realizado por meteorologistas comprovam que o índice pluviométrico vem caindo ano a ano desde a década de 1980. E essa queda é digna de admiração: as chuvas diminuíram 54% no período de 40 anos!

Fotos: acervo de Italo Fábio Casciola

O mesmo acontece com as temperaturas, que não são tão assustadoras como antigamente. Vale citar que nunca tivemos mais uma Geada Negra como aquela monstruosa que aconteceu em 1975, que destruiu completamente os cafezais, levando Umuarama e o Paraná à falência. Atualmente de vez em quando cai uma geadinha por aí, mas sem provocar consequências desastrosas nem para a economia e nem para a saúde da população.

Outros vilões que faziam parte desse esquadrão do inverno eram os ventos fortes. Vale detalhar que Umuarama estava no seu começo de História. Havia poucas residências e casas comerciais e ficavam ao redor da antiga Praça Arthur Thomas e primeira rodoviária. Ou seja, não existiam os altos prédios, sobradões e nem construções corpulentas como as que existem hoje e protegem a vizinhança das ventanias, pelo menos apaziguam a velocidade delas.

Fotos: acervo de Italo Fábio Casciola

Então, imagine um território completamente aberto e livre por onde os ventos circulavam em velocidade astronômica… Quando o barro secava, era aquela nuvem de poeira imensa por todos os cantos do pequeno vilarejo. E quando chovia, a água parecia um açoite castigando aquele imensa área urbana rodeada pela floresta que ainda não havia sido derrubada pelos machados!

Quanto aos ventos, hoje de vez em quando aparecem velozes & furiosos, derrubando árvores, destelhando casas e coberturas metálicas de postos de gasolina e indústrias…

De um jeito ou de outro, o inverno não é lá uma estação simpática, sempre vai incomodar – apesar de que tem muita gente que gosta e prefere o frio ao calor do verão! Cada um tem a liberdade de escolher… (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

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