A pequena e rudimentar Serraria Mineira, em 1953, onde foram beneficiadas madeiras para as primeiras construções - Foto: Acervo de Italo Fábio Casciola

Colunistas

A construção das primeiras moradias começou com a madeira traçada nesta minúscula serraria

Inacreditável: A Serraria Mineira tinha apenas essa serra circular para preparar as tábuas das casas

A pequena e rudimentar Serraria Mineira, em 1953, onde foram beneficiadas madeiras para as primeiras construções - Foto: Acervo de Italo Fábio Casciola
A construção das primeiras moradias começou com a madeira traçada nesta minúscula serraria
Ítalo Fábio Casciola
OBemdito
12 de agosto de 2023 19h02

Entre tantas reminiscências que estão perdidas nesse turbilhão que separa o passado remoto e o presente da História de Umuarama, merece ser resgatada a saga da Serraria Mineira, ícone inconteste dos primórdios da História de Umuarama. Ninguém sabe mais dela e parece simplesmente que ela nem existiu… Ela é um tipo daqueles detalhes que valorizam narrativas históricas e, incrível, sem elas fica um vazio entre a realidade e a verdade dos fatos.

Conforme repetiam os desbravadores que entrevistei há muito tempo atrás, ela teria sido instalada antes mesmo da colonizadora Companhia Melhoramentos Norte do Paraná comprar estas terras, quando ainda pertenciam a Raimundo Durães e outros proprietários.

Ali teriam sido beneficiadas as tábuas de peroba usadas na construção das primeiras casas, inclusive da lendária Pensão Mineira, considerada pelos antepassados como o marco zero de Umuarama.

Naquele período ela era tosca, instalada num galpão não muito grande, onde havia algumas máquinas para serrar as toras, fatiar as tábuas e ripas, enfim, nada de porte industrial para atender em grande escala o consumo que viria anos depois. Tinha uma meia dúzia de operários e dois velhos caminhões para transportar toras.

Panorâmica da Serraria Mineira anos depois da fundação de Umuarama: ao redor, casas de operários da serraria e de operários da colonizadora CMNP – Foto: Acervo de Italo Fábio Casciola

Quando a CMNP deu início ao plano de urbanização de Umuarama, derrubando a mata e abrindo terrenos, ruas e avenidas no meio da terra arrasada numa ampla clareira, é que a colonizadora investiu pesado equipando a Serraria Mineira.

Mas, segundo relatos esparsos que aglutinamos através de entrevistas feitas no decorrer da década de 1970, a Serraria Mineira supriu com madeira beneficiada os primeiros moradores e comerciantes que foram se instalado ao redor da Praça Arthur Thomas a partir do final de 1953. Inclusive, a madeira para a construção do “Sobradinho”, primeiro escritório e os pavilhões de serviços da CMNP, saiu da Serraria Mineira.

Toras gigantes espalhadas na ampla área de estoque da serraria, à espera de serem transformadas em tábuas para construções ou para exportação – Foto: Acervo de Italo Fábio Casciola

Mas essa acanhada indústria madeireira, localizada próxima ao antigo aeroporto (não é possível a localização atual exata, mas podemos calculá-la ali pela rodovia PR-323 em direção a Umuarama, entre o trevo do Gauchão rumo à cabeceira da pista de vôos), não teve vida muito longa não, atendendo apenas a CMNP.

Acontece que, quando se preparava para inaugurar Umuarama, a colonizadora fez um grande estardalhaço divulgando as vendas de terras rurais e na zona urbana e, isso, obviamente, atraiu uma legião de interessados na instalação de outras madeireiras.

Em pouco tempo, Umuarama tinha mais de quinze serrarias de grande porte, que trabalhavam dia e noite, para retirar e beneficiar a floresta que estava sendo devastada por todos os lados para a ocupação de sitiantes e grandes fazendeiros que chegavam para plantar café, algodão e cereais, vislumbrando uma nova fronteira agrícola, o futuro Eldorado do Sul brasileiro.

Depois de ampliada pela colonizadora, a serraria pioneira ainda continuou em atividades por vários anos, até a chegada das concorrentes – Foto: Acervo de Italo Fábio Casciola

Da mesma maneira que surgiu, antes da colonização, a Serraria Mineira desapareceu, relegada ao esquecimento pela mesma leva de colonizadores que usufruíram dela para dar início à construção da cidade de Umuarama.

Sumiu, literalmente, do mapa e hoje não há sequer vestígios de que um dia, no passado distante mais de meio século, tenha existido a tal Serraria Mineira, assim batizada pelos desbravadores vindos lá das Minas Gerais no começo da década de 1950 para abrir a floresta paranaense… (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

Toras de peroba em caminhões, prontas para serem levadas da mata para a Serraria Mineira, o marco inicial da indústria da extração de madeira no município – Foto: Acervo de Italo Fábio Casciola
Participe do nosso grupo no WhatsApp e receba as notícias do OBemdito em primeira mão.