Cotidiano

Organização desbaratada na Operação Capital movimentava mais de R$ 60 milhões por mês

Mais de 400 policiais atuaram no cumprimento de mandados na manhã desta quinta-feira, incluindo a prisão de policiais militares

Organização desbaratada na Operação Capital movimentava mais de R$ 60 milhões por mês
Leonardo Revesso
OBemdito
9 de junho de 2022 12h43

Em uma só noite as quadrilhas que operavam o contrabando de cigarros nos núcleos de Guaíra, Altônia e Umuarama chegavam a movimentar R$ 3,8 milhões em mercadorias. Mantinham uma extensa folha de pagamento, principalmente de olheiros, e, mais grave ainda, também contava com o apoio de pelo menos oito policiais militares da região.

O esquema criminoso sofreu um duro golpe na manhã desta quinta-feira (9) com a Operação Capital, a maior do Brasil deflagrada pela Polícia Federal sobre o contrabando de cigarros. Quatrocentos agentes de cinco estados foram mobilizados para o cumprimento de 162 mandados judiciais no Paraná e Santa Catarina.

Destes, 96 eram de busca e apreensão e 66 de prisão preventiva nas cidades de Guaíra, Terra Roxa, Iporã, Francisco Alves, Umuarama, Cafezal do Sul e Altônia, no Paraná, e Balneário Camboriú, em Santa Catarina.

Conforme o delegado-chefe da operação, Pedro Henrique Turim de Oliveira, apenas 10 mandados não foram cumpridos nesta manhã, mas seguem em trâmite. Eram tantos presos nas primeiras horas do dia que havia congestionamento de viaturas na entrada do Nepom (Núcleo Especial de Polícia Marítima), em Guaíra.

Também foi realizado o sequestro de 31 bens imóveis e o bloqueio de contas bancárias em nome dos chefes da organização.

Sete meses de investigação

A operação é resultado de 7 meses de investigação, que resultou em farto acervo probatório, incluindo milhares de fotos. Os grupos contavam com pelo menos 100 integrantes e pelo menos 80 deles atuavam como “olheiros”, alertando os líderes sobre a movimentação dos policiais que não se corromperam, por sorte a maioria. Havia também pilotos, motoristas e carregadores.

Em entrevista na sede da PF em Guaíra, o delegado Mario Cesar Leal Junior, também responsável pela operação, mandou um recado para os “olheiros” e afirmou que eles “não terão vida fácil” a partir de agora. “São pessoas que recebiam mensalmente dos líderes, como se fossem funcionários. Todos, absolutamente todos, serão responsabilizados”.

O crime também contava com pilotos de lanchas, motoristas, batedores, carregadores e vigias. Os cigarros eram atravessados do Paraguai para o Brasil pelo rio Paraná, geralmente de madrugada.

Apenas uma célula da organização, conforme a PF, chegava a movimentar 750.000 maços de cigarros em uma única noite, o que em valor de mercado corresponde a quase R$ 3,8 milhões. O grupo, no entanto, costumava operar quatro vezes por semana, o que eleva a movimentação para R$ 15,2 milhões semanais e R$ 60,8 milhões por mês.

Só para se ter uma noção da grandiosidade do esquema criminoso, a receita de fundos e impostos do município de Altônia foi de R$ 8 milhões no mês de maio último, a maior deste ano.

O nome “Capital” dado à operação faz alusão à maneira que os criminosos se referem ao município de Altônia, banhado pelo rio Paraná.

Participação de policiais militares

As investigações revelaram, ainda, que a organização teria cooptado policiais militares da região. Eles recebiam propina para facilitar as atividades do grupo e faziam “vista grossa” para a atividade. Também davam cobertura aos criminosos.

Em imagens divulgadas no âmbito da operação, é possível ver militares recebendo dinheiro das mãos de bandidos. Em entrevista na sede da Polícia Federal em Guaíra, o delegado Pedro Henrique Turim de Oliveira não quis informar de quais cidades são os policiais militares.

Foram expedidos oito mandados de prisão contra PMs, mas ainda não há certeza quantos foram efetivamente presos a qual batalhão pertencem.

Em nota, a PM afirmou “que não compactua com qualquer desvio de conduta praticado por seus membros e que cada caso será apurado com o devido rigor” e que a operação contou “com o apoio da Corregedoria da corporação, que também colocará os militares estaduais à investigação em processos internos e administrativos cabíveis”. E finalizou: “A PMPR ressalta que as armas, carregadores e distintivo dos envolvidos já foram recolhidos”.

Penas podem ultrapassar 25 anos

Os investigados responderão pela prática de crimes de contrabando, participação em organização criminosa e corrupção ativa e passiva, cujas penas, se somadas, podem ultrapassar 25 anos de prisão.

As investigações contaram com o apoio da Polícia Militar do Estado do Paraná e da SEOPI/MJSP.

A ação desencadeada se insere no contexto da Operação Controle Brasil, articulada pela Secretaria de Operações Integradas – SEOPI, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que integra diversos órgãos no combate aos delitos de contrabando e descaminho de bebidas, fumo e insumos agrícolas.

Participe do nosso grupo no WhatsApp e receba as notícias do OBemdito em primeira mão.