Política

Chegou 2022: as eleições e os paraquedistas vêm aí

Chegou 2022: as eleições e os paraquedistas vêm aí
Valdir Miranda
OBemdito
3 de janeiro de 2022 16h48

O escândalo da corrupção na Prefeitura de Umuarama protagonizado pelo prefeito Celso Pozzobom não deixa sequelas apenas na gestão administrativa, ao desviar recursos financeiros.

Não se pode afirmar categoricamente, mas quem é que não relaciona várias mortes de pessoas acometidas pela Covid-19 ocorridas pela ausência de equipamentos adequados, leitos hospitalares disponíveis, ou de remédios com o desvio das verbas públicas destinadas exatamente para fazer frente à pandemia que virou o mundo de pernas pro ar.

Quem não relaciona? Cadáveres assombram os envolvidos nesse desvio apontado pelo Ministério Público do Paraná. Essas feridas não fecham. Não em quem tem consciência e coração. Mas pretendo, agora, considerar outra consequência dessa lambança toda liderada por Celso Pozzobom. O quadro político, ou o que restou dele.

Na minha modesta avaliação, além de tudo isso que Umuarama está vivendo agora (o pesadelo não acabou) as consequências futuras são bastante sombrias para o desenvolvimento do município. Criou-se, na verdade, um paradoxo: abriu uma lacuna no quadro de potenciais lideranças políticas e afugentou, ao mesmo tempo, as chances do surgimento de novos nomes dispostos a disputar cargos eletivos. Claro que me refiro a quadros capazes de se eleger e não apenas fazer figurações no cenário eleitoral.

Desestímulo de lideranças

Situações como a vista em Umuarama – como de resto já ocorridas em outras cidades brasileiras -, com a Prefeitura e a casa do prefeito cercada pela polícia, em ações midiáticas, desestimulam lideranças de outros segmentos sociais ou empresariais a se aventurarem no mundo eleitoral.

Isso deixa um vácuo numa área que é fundamental para qualquer município: a política. Aí o risco da presença dos paraquedistas (que, inclusive era estimulada por Pozzobom) ou o aparecimento de oportunistas se propondo salvadores da pátria.

E acreditem: sem uma atuação política consistente e responsável, comprometida com a sociedade, nenhuma região consegue manter o ritmo do desenvolvimento – vide Londrina que após perder suas principais lideranças estacionou, enquanto ocorreu o inverso com Maringá , para ficar apenas num exemplo. Não adianta ficar apontando a política como responsável por todos os males, pois não é ela, mas sim as pessoas que usam a política para alcançar objetivos pessoais ou de grupos. Então, vamos à avaliação do que temos hoje.

Vamos aos números

Vejamos: com domicílio eleitoral aqui em Umuarama, temos hoje dois deputados: o Delegado Fernando Ernandes Martins na Assembleia Legislativa, e Osmar Serraglio na Câmara Federal (depois da cassação do deputado londrinense Boca Aberta). O deputado federal Zeca Dirceu tem filiação em Umuarama, mas fala-se que a transferiu para a vizinha Cruzeiro do Oeste, sua terra natal e onde foi prefeito por 8 anos seguidos.

Este é o quadro atual. Umuarama tem mais de 77 mil eleitores inscritos e polariza uma região com mais de 200 mil votos. Mas o próprio município pulveriza seus votos. Nas eleições de 2018, cerca de 15 candidatos a deputado estadual fizeram mais de 500 votos cada em Umuarama. Abaixo dos três mais votados no município, todos os demais são paraquedistas (exceção a Edilson Gabriel).

O Delegado Fernando fez 25.607 votos; Marcelo Adriano, 6.523; e Professora Ana Novaes 4.901 votos. São pouco mais de 37 mil votos. Onde foi parar o restante? É isso que deve servir de base para avaliação dos partidos e das lideranças classistas de Umuarama.

Céu de brigadeiro?

Neste 2022 teremos eleições. No que se refere à Assembleia Legislativa, o Delegado Fernando é candidatíssimo à reeleição. Ele deve saber que a reeleição é mais complicada que a primeira vez, pois ele verá seu trabalho atual avaliado pelos eleitores. E terá pela frente a forte concorrência de ávidos paraquedistas que já farejam por ai cooptando “lideranças” e cabos eleitorais – e como eles existem em Umuarama, Deus do céu. Ou seja, o atual céu de brigadeiro por onde voa o delegado vai, certamente, sofrer turbulência mais a frente. Ele está pronto para enfrentar adversidades?

Já o advogado Osmar Serraglio assumiu um final de mandato na Câmara Federal em perfeito silêncio e promete sair calado, encerrando uma das mais brilhantes trajetórias políticas da história de Umuarama (chegou a alcançar o cargo de Ministro da Justiça).

Zeca e Lula

Zeca Dirceu, que fez 4.305 votos em Umuarama, também concorre à reeleição, mas mesmo que seu partido (PT) venha com a forte candidatura de Lula à Presidência da República seu universo eleitoral não tem na cidade um ponto forte.  Ou seja, existe um enorme eleitorado órfão de candidato para dizer que é seu (da sua cidade).

Muitas especulações até agora, com alguns pretendentes já se manifestando publicamente, mas a verdade é que não se viu surgir um nome com um apelo eleitoral reconhecido pela população. Mas isso é assunto para conversar em outra ocasião.

O que mencionamos é o quadro que existe, sem tirar nem pôr. E depois das Operações Metástase e Jaborandi (Ministério Público Estadual e Polícia Federal), o silêncio político está ferindo os tímpanos no campo da renovação política, tão necessária quanto ao ar que se respira. Em resumo, no campo político o estrago causado pelas estripulias do Celso Pozzobom é igualmente imensurável. Vá 2021, nos deixe com nossas feridas para serem cicatrizadas.

Que 2022 venha com muita paz, saúde e progresso para esta cidade e sua gente.

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*Valdir Miranda é radialista e jornalista em Umuarama desde 1972; aposentado, atualmente ocupa o cargo de secretário de Comunicação Social da Prefeitura (cargo já ocupado em quatro outras gestões).

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