Foto: Reprodução do Facebook

Umuarama

Umuarama: Exemplo na luta contra o câncer, falece Natalha Souza

Muitos amigos e familiares prestaram homenagens em redes sociais

Foto: Reprodução do Facebook
Umuarama: Exemplo na luta contra o câncer, falece Natalha Souza
Jaqueline Mocelin
OBemdito
6 de maio de 2021 19h58

Faleceu nesta quinta-feira (6) a jovem Natalha Souza. Ela se tornou um exemplo na luta contra o câncer para muitas pessoas em Umuarama e deixa uma legião de amigos entristecidos com sua partida. Um dos motivos que a tornaram conhecida na cidade foi por fazer turbantes para outras mulheres acometidas pelo câncer, que estavam em tratamento na Uopeccan.

Dezenas de postagens foram feitas em redes sociais. Familiares e amigos usaram principalmente o Facebook para deixar depoimentos emocionados e que ressaltam a força que Natalha sempre mostrou desde que descobriu o câncer, aos 23 anos.

Rosangela Germano Pereira Menegueti publicou: “Foi um prazer ter te conhecido Natalha Souza naquele encontro face a face em Umuarama. Vc foi uma super mãe, mulher guerreira, lutou sem reclamar contra essa doença (câncer). Não pudemos nos ver esse ano como combinado, devido a pandemia. Mas sempre orei por vc e pelo seu filhos, pra que ficasse tudo bem. Na última conversa que tive com vc eu te disse que iríamos nos ver. Não deu amiga. Mas sei que agora toda dor acabou e vc está descansando nos braços do pai. Obrigada pelos ensinamentos, pelo exemplo de força que vc me transmitia. Vai em paz. Meus sentimentos a família e amigos”.

“Mais uma guerreira que descansou nos braços do Pai… Natalha Souza… Vc lutou até o fim, foi guerreira valente… Descanse em paz”, escreveu Magna Silva.

Natalha foi sepultada na tarde desta quinta-feira no Cemitério Municipal de Umuarama. Ela deixa dois filhos.

Ensaio e relato especiais

Em dezembro de 2020 Natalha fez um ensaio com a fotógrafa Myka Carbonera. Além das fotos, através de um projeto diferenciado Myka conta a história de pessoas que têm algum tipo de doença, através de relato do próprio fotografado ou de familiares (em caso de crianças).

Confira o relato feito por Natalha para Myka:

Descobri o câncer com 23 anos. Foi um choque terrível.

Eu estava desconfiada, então fui atrás de fazer exames. Recebi o diagnóstico errado. O médico me mandou voltar depois de 6 meses e nesse meio tempo, o câncer espalhou por todo o corpo.

Por isso digo que não estava esperando.

Quando recebi o diagnóstico certo, não dava mais para operar, nem o que fazer. Já estava em estágio IV: sem chance de cura para os médicos.

Mas continuei lutando. Desde então, eu retirei o útero, o ovário. Tive uma trombose na perna, que me impossibilitou de dirigir por um bom tempo. Na época, eu precisava ir até Cascavel fazer radioterapia, onde passava toda a semana na casa de apoio e retornava na semana seguinte para continuar o tratamento.

Teve uma semana que resolvi ir sozinha, pois estava me sentindo bem. Não tinha o costume de ir deitada, mas estava tão cansada que dessa vez deitei.

Quando cheguei, guardei minhas coisas, deitei e só acordei 4 dias depois. Entrei em coma. Acredito que tenha sido pelo movimento do ônibus, por ter chacoalhado a cabeça durante a viagem.

Depois disso, tive perda de memória recente. Não lembrava o que tinha comido no dia anterior. Cheguei a perder a carteira com 600 reais e de novo com 200 reais.

Como minhas veias estavam muito fracas, tive que usar catéter, que tive que trocar algumas vezes, pois dava trombose e rejeição. Hoje uso na perna.

Já passei muitos dias internada, UTIs, sondas….

Foto: Myka Carbonera

A primeira vez que perdi meu cabelo não consegui sair na rua por um bom tempo, mas depois fui me acostumando e até a gostar de estar careca.

A autoestima tem seus altos e baixos. O que tem me motivado muito e continuar lutando é a presença dos meus filhos junto comigo.

Se eu não tivesse eles, não teria enfrentado o que enfrentei nesses quase 5 anos de tratamento. Radioterapia já fiz 70, quimioterapia, já perdi as contas.

O dia do ensaio foi muito gratificante, muito animador. Aquela coisa que bota a gente para cima. Foi numa época que estava precisando mesmo, estava bem para baixo e ajudou muito.

Meus filhos são tudo para mim e é por eles que ainda luto.

Para os meus filhos, foi bem complicado quando descobri.

Meu filho, na época com 6 anos, não aceitava eu estar careca. A minha filha, por ser muito novinha, não entendia. Mas hoje ela está muito abalada.

Eu falo de ir para o hospital e ela já começa a chorar.

A minha mensagem para outras mulheres é: se cuidem, façam o autoexame, evitem bebida e cigarro. Quando descobri, eu ainda fumava e bebia e isso prejudicou muito a minha saúde.

Não façam apenas o da mama, façam o preventivo também.

Cabeça erguida. Essa luta não é só minha. É da minha mãe, dos meus filhos.

Minha mãe tem sofrido muito com essa situação. Ela tem carregado tudo sozinha, apesar de eu receber muita ajuda, aqui em casa ela cuida de mim, das crianças, da casa, porque eu não consigo fazer mais o que eu fazia.

Ela virou a segunda mãe dos meus filhos, ajudando na educação deles.

Ela tem sido minha base, meu alicerce. E Deus principalmente, porque se não fosse por Ele, por tudo que já passei, eu não estaria mais aqui.

Quando estamos para baixo é fé em Deus, uma música animada e a gente tem que se levantar. A gente ouve sim, muitas palavras de força, mas também ouve aqueles que não acreditam na cura, incluindo nós mesmos, de achar que é o fim.

Costumo dizer “A gente faz planos e Deus dá risada, porque os planos são dEle e não nossos”

Muitas pessoas em tratamento se espelham na minha luta, ao verem minha força de vontade.

Uma vez, uma irmã de um paciente me abraçou e me agradeceu. No dia não entendi porquê, mas depois me contaram: estávamos e eu ele um dia no hospital, os dois muito debilitados e com vômito frequente. Ele não queria comer, mas eu disse à enfermeira para me trazer a comida, porque mesmo que não parasse nada no meu estômago, eu iria continuar comendo.

Ele me ouviu dizendo aquilo e deu força à ele para continuar se alimentando.

Tem muita gente que olha para mim e mesmo sem eu ter a cura, me vê como exemplo de superação.

Tem um vizinho meu que não queria se tratar e disse “essa menina está se tratando há tanto tempo e até agora não desistiu, por quê eu que estou começando agora vou desistir?”

São essas mínimas coisas que a gente escuta, que chegam na gente, abraçam e dizem “você é uma guerreira e não pode desistir” que motivam a maior parte do tempo.

Foto: Myka Carbonera

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