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Editorial: Quando a banda podre da polícia faz o papel do bandido (sobre as mortes em Icaraíma)

Editorial: Quando a banda podre da polícia faz o papel do bandido (sobre as mortes em Icaraíma)
Redação - OBemdito
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 20h15 - Modificado em 11 de dezembro de 2025 às 20h46

O relatório divulgado pela Polícia Civil do Paraná sobre a execução dos quatro homens em Icaraíma revela mais do que a brutalidade de um crime planejado com precisão militar. Expõe, sobretudo, uma ferida institucional sensível: a suspeita de que agentes públicos, da própria polícia, possam ter se comunicado com os investigados após a chacina, ainda que sem qualquer indício de participação direta nas mortes. A chamada banda podre da polícia.

A simples possibilidade de interferência interna é, por si só, corrosiva. O Estado só se sustenta como garantidor da ordem quando seus agentes atuam com absoluta independência frente aos interesses e pressões de grupos locais. 

Quando há suspeita de comunicação indevida entre policiais e investigados, mesmo que restrita a repasse de informações após o fato, o risco é evidente: abalar a confiança da população na capacidade de o sistema investigar a si próprio.

A reação da direção da Polícia Civil, que determinou a remoção dos agentes e acionou a Corregedoria com mandados de busca e apreensão, é a postura correta. Evita-se, assim, que a dúvida se transforme em certeza popular antes de qualquer comprovação. A mensagem institucional precisa ser cristalina: não há espaço para conivência, omissão ou alianças paralelas.

O que se questiona é por que esse afastamento demorou tanto para acontecer.

É igualmente revelador que a corporação tenha adotado, desde os primeiros dias, um regime extraordinário de sigilo e compartimentação das informações. A Polícia Civil admite que nem todos os investigadores locais tiveram acesso integral aos materiais produzidos. 

Essa decisão não é trivial. Ela demonstra que a chefia identificou riscos concretos de vazamento ou influência externa capazes de comprometer a coleta de provas, uma medida dura, mas necessária.

O crime em si já seria suficiente para justificar preocupação institucional. A emboscada, realizada com ao menos cinco armas de diferentes calibres, distribuídas em três posições de tiro, revela organização, planejamento e domínio territorial. 

A morte instantânea das vítimas, confirmada por laudos que descartam tortura ou cativeiro, desmonta narrativas paralelas e reforça que o grupo responsável tinha controle total da cena.

Mas o ponto decisivo, está no dia seguinte ao crime, quando se suspeita que informações internas possam ter sido compartilhadas pela banda podre da polícia, beneficiando investigados que tentavam fugir ou destruir vestígios. 

Esse gesto, caso comprovado, é tão grave quanto o próprio crime. Ele desestabiliza a estrutura de confiança em que se sustentam investigações complexas e força o Estado a agir não apenas contra criminosos, mas contra ruídos dentro da própria máquina pública.

O trabalho técnico descrito no relatório (drones, georadar, mapeamento de solo, perícias balísticas, rastreamento de veículos) mostra uma Polícia Científica e uma equipe de investigação altamente qualificadas. Essa competência, porém, precisa estar acompanhada de blindagem institucional e controle ético.

A Polícia Civil acertou ao tornar público o mínimo necessário para restabelecer transparência, ao mesmo tempo em que protege o núcleo da investigação sobre a autoria, que permanece sob sigilo. 

O desafio, agora, é ir até o fim. A democracia só tolera instituições de segurança fortes, e instituições fortes só sobrevivem quando enfrentam suas próprias sombras.

A população espera respostas e, mais do que isso, espera que não haja dúvidas sobre quem trabalha para a lei e quem, eventualmente, trabalha contra ela.

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