Umuarama

Mais que um esporte: como o judô fortalece meninas e mulheres dentro e fora do tatame

O judô tem se consolidado como uma ferramenta de fortalecimento físico e emocional, especialmente entre meninas e mulheres que buscam equilíbrio, confiança e superação. Para o profissional de educação física e sensei Juan Jimenez, 34 anos, a arte marcial japonesa oferece benefícios que ultrapassam o condicionamento físico e a técnica.

“Condicionamento físico, fortalecimento emocional, redução do estresse e aumento da autoconfiança estão entre os principais benefícios do judô”, afirma. Atleta desde os 16 anos, Jimenez destaca que a prática ensina valores essenciais como disciplina e controle emocional, ajudando meninas e mulheres a enfrentarem os desafios diários com mais resiliência e coragem.

“O judô ensina a lidar com frustrações, a manter o equilíbrio emocional sob pressão e a seguir em frente mesmo após as quedas. Tanto no tatame quanto na vida. Esse aprendizado é importante para mulheres e meninas, que muitas vezes enfrentam múltiplas responsabilidades e estereótipos sociais”, completa o sensei.

Um estudo do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo (GETCUSP), publicado em 2024, corrobora essa visão. A pesquisa mostra que a prática regular de esportes contribui para a melhora da memória, da atenção, bem como, a capacidade de aprendizado, além de estimular a neuroplasticidade.

Sensei Juan Jimenez (Foto: Stephanie Gertler)

Técnica, confiança e superação

Entre os diversos benefícios do judô, Jimenez destaca o fortalecimento da autoconfiança. “Cada técnica aprendida, cada conquista no tatame, por menor que pareça, contribui para que as meninas e mulheres se sintam mais seguras e confiantes. Elas têm a oportunidade de desafiar os próprios limites e descobrir um poder que muitas vezes desconheciam”, pontua.

De acordo com o sensei, o esporte exige dedicação, respeito às regras e aos adversários, além de uma busca constante por superação. Esse rigor disciplinar, diz ele, ajuda meninas e mulheres a desenvolverem hábitos saudáveis e uma rotina de autocuidado, com foco e persistência para atingir objetivos.

Fotos: Arquivo Pessoal

Começar tarde também é possível

A trajetória de Stephanie Gertler comprova que nunca é tarde para começar. Ela iniciou os treinos aos 35 anos e, desde então, percebeu transformações significativas.

“Meu condicionamento físico melhorou muito durante este ano de treinamento. Consigo correr por mais tempo, tenho mais força e consciência corporal, meu equilíbrio melhorou, meus reflexos estão mais rápidos e, além disso, me sinto mais segura para me defender, caso seja necessário.”

“O sensei sempre reforça que o judoca inteligente evita o conflito, mas, infelizmente, a realidade das mulheres às vezes nos obriga a lidar com situações de violência física tanto quanto psicológica. O judô é excelente porque, além de nos ensinar a lutar, nos ensina a ter consciência dos espaços que ocupamos e das situações que podemos enfrentar. O judô vai muito além da luta, é uma filosofia de vida”, relata.

Stephanie também destaca o ambiente de respeito e apoio na academia. “O que me fez continuar a treinar foi algo que vai além do esporte. O sensei Juan e todos os meus colegas sempre me trataram com respeito e estão dispostos a me ajudar a aprender as técnicas. Mesmo tendo começado do zero e, às vezes, enfrentando limitações físicas, todos fazem questão de me ensinar e apoiar. O respeito está presente em tudo o que fazemos no tatame. Além disso, sensei Juan sempre me incentiva a continuar”, afirma.

Leia também: Sensei Juan Jimenez explica como praticar judô melhora desempenho cognitivo e memória

História do judô feminino no Brasil

A presença feminina em modalidades de luta é uma conquista recente na história brasileira. Durante o Estado Novo, instaurado por Getúlio Vargas em 1937, as restrições à prática esportiva feminina começaram a ganhar força. Em 1941, Vargas assinou o Decreto-Lei nº 3.199, cujo Artigo 54 proibia as mulheres de praticar esportes considerados “incompatíveis com as condições de sua natureza”.

“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos (CND) baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.”

A medida que vigorou até a década de 1970, impôs limites severos e vetou modalidades como o futebol e as lutas. Em 1965, durante a ditadura militar, o CND reforçou a exclusão com a Deliberação nº 7, determinando:

“Não é permitida à mulher a prática de lutas de qualquer natureza, do futebol, do futebol de salão, do futebol de praia, do polo aquático, do polo, do rugby, do halterofilismo e do baseball.”

Mesmo sob proibição, muitas mulheres continuaram treinando de forma clandestina, enfrentando preconceito, assim como, ausência de reconhecimento. As restrições só foram oficialmente revogadas em 1979, mas o impacto na consolidação do esporte feminino foi profundo e duradouro.

Judô como ferramenta de autonomia

Décadas depois, as marcas desse período ainda persistem. Os estigmas criados por políticas que restringiam o acesso das mulheres ao esporte e, como resultado, contribuíram para reforçar a ideia de que modalidades como judô, jiu-jítsu e futebol seriam “não femininas”.

Hoje, espaços como a Associação de Judô Juan Jimenez representam a superação desse passado. O local se tornou um ponto de referência para meninas e mulheres que desejam treinar livremente, em um ambiente que valoriza o respeito, a disciplina e a equidade.

Para Jimenez, o tatame é mais do que um local de treino: é um espaço de transformação pessoal. O judô, além de ser uma modalidade olímpica respeitada mundialmente, ensina valores de autocontrole, foco e perseverança, atributos que se refletem vida cotidiana das praticantes.

O judô que nasceu com a filosofia de “cair sete vezes e levantar-se oito”, tem se mostrado uma poderosa ferramenta de fortalecimento emocional tanto quanto social para as mulheres. Seja pela busca de autodefesa, pela melhora do condicionamento físico ou pelo equilíbrio mental.

Leia também: Sensei Juan é o único de Umuarama, em atividade, a conquistar 3º grau na faixa preta no judô

Onde praticar em Umuarama

Em Umuarama (PR), a Cross Training Umuarama (CTU) e a Associação de Judô Juan Jimenez são opções consolidadas para quem deseja começar ou retomar a prática esportiva. Ambas funcionam no mesmo endereço: Avenida Rotary, 3216, em frente ao Condomínio EcoGarden.

A Associação oferece aulas de judô para crianças e adultos, com possibilidade de agendamento de aulas experimentais, em ambas as modalidades. Os interessados podem entrar em contato via WhatsApp pelo número (44) 99908-7982 (clique aqui). O atendimento ocorre às segundas, quartas e sextas-feiras, das 8h às 10h30 e das 16h às 20h, e às terças e quintas-feiras, das 8h às 11h e das 13h30 às 20h.

Mais informações estão disponíveis no site boxctu.centrion.com.br e nos perfis do Instagram @judojuanjimene.z@juanjimene.z e @boxctu_umuarama.

Fotos: Arquivo/Comitê Olímpico Brasileiro

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Stephanie Gertler

Fotógrafa há mais de 16 anos, graduada em Jornalismo pela Universidade Tuiuti do Paraná, em Curitiba. Atualmente, atua como jornalista no OBemdito.

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