Iporã: “Só queremos a verdade”, dizem filhas de homem que pode ser vítima de ‘serial killer’
Filhas de Luiz Delfino descrevem choque com a confissão, questionam falhas e apoiam exumação
As filhas de Luiz Delfino, de 54 anos, estão em busca de respostas sobre a morte do pai, que ocorreu em abril deste ano no município de Iporã/PR. O caso, inicialmente tratado como uma morte natural, voltou a ser investigado depois que um jovem de 23 anos confessou à Polícia Civil ter assassinado quatro pessoas na cidade.
A revelação atingiu a família de forma abrupta. Camila e Bruna conversaram com OBemdito na tarde desta sexta-feira (14). Ambas usavam camisetas com a foto do pai e uma frase clamando por justiça. Nas mãos estava o porta-retrato com a mesma fotografia de Luiz.
No rosto, o semblante era triste e também demonstrava cansaço. A situação, que já não era fácil pela perda do pai, piorou exponencialmente quando uma ‘bomba’ caiu sobre as irmãs. Foi através de um link de uma reportagem enviado em um grupo de WhatsApp que as filhas souberam da possível ligação da morte do pai com o jovem que confessou quatro homicídios.
“Minha irmã me ligou chorando, pedindo para eu abrir a matéria. Quando cheguei na casa dela, ela estava abraçada com a foto do nosso pai, sem conseguir acreditar”, diz Camila, de 33 anos. Até então, a família acreditava que Delfino havia morrido de causas naturais.
Estava tudo muito estranho…
Segundo as irmãs, já naquele dia havia sinais de que algo não se encaixava. O corpo passou horas no necrotério aguardando o IML, que não compareceu. Um médico desceu rapidamente, olhou o corpo e se recusou a assinar o atestado.
Outro profissional assinou o documento sem sequer ver Delfino, afirmam. Em meio ao atraso da funerária e ao estado avançado de decomposição, elas dizem ter ouvido de um funcionário que talvez não houvesse caixão disponível e que seria necessário “cavar um buraco”. Para a família, o episódio expôs o que chamam de “descaso desde o início”.
Dias depois, ao revisarem fotos feitas no momento da troca de caixão, as irmãs afirmam ter identificado um corte no pescoço e marcas no braço. “Como isso passou despercebido?”, questiona Bruna, de 30 anos de idade. Elas dizem que a imagem reforçou a desconfiança sobre a versão inicial e, agora, apoiam a exumação do corpo.
Saiba mais sobre o caso: Delegado detalha investigação e diz que ‘serial killer’ de Iporã confessou 4 homicídios
Confissão mudou o rumo de tudo
A investigação foi retomada após a prisão do jovem, que confessou quatro homicídios cometidos entre março e setembro. Nesta sexta-feira, OBemdito também conversou com o delegado responsável pela 15ª Delegacia Regional de Iporã, Luã Mota. Ele preside o inquérito sobre o caso e também é responsável pelas investigações relativas às demais mortes que o ‘serial killer’ assumiu como sendo de sua autoria.
Durante a entrevista, o delegado conta que a confissão do jovem ocorreu de forma espontânea. “Ele disse que matava por matar. Se definiu como serial killer”, afirma. Mota o descreve como alguém “frio, calculista e sem arrependimento”. O suspeito tem diagnóstico de esquizofrenia paranoide e traços de psicopatia.
A polícia chegou até ele ao investigar a morte de Danilo Roger Bido Ferreira, de 31 anos, encontrado com 18 facadas em uma estrada rural. Impressões digitais localizadas no carro da vítima e mensagens trocadas no Instagram indicavam que os dois haviam marcado um encontro. Para o delegado, “no caso do Danilo, não há dúvidas sobre a autoria”.
A partir dessa investigação, o suspeito passou a relatar outros crimes, incluindo o de Luiz Delfino. A Polícia Civil, porém, trata as declarações com cautela. “A confissão só tem valor quando acompanhada de elementos concretos. Ele parece buscar notoriedade”, diz Mota. Para os casos sem sinais claros de violência, como o de Delfino, a corporação estuda medidas adicionais, entre elas a exumação.
Confira mais detalhes e a entrevista com o delegado Luã Mota aqui.
Filhas aguardam uma resposta da justiça
Camila e Bruna afirmam que, mais do que uma resposta judicial, desejam recuperar a dignidade do pai. “Sabemos que nada vai trazê-lo de volta. Mas ele não merece ser lembrado com dúvida, com descaso. Queremos a verdade”, diz Camila. Bruna completa: “Meu pai era alegre, brincalhão, tinha uma risada que todo mundo reconhecia. É isso que dói: saber que nunca mais vamos ouvir”.
A Polícia Civil segue analisando provas, perícias e contradições apontadas nas declarações do suspeito. Para as irmãs, cada avanço é também um passo no processo de luto. “A saudade é o que mais pesa”, diz Camila. “Mas precisamos saber o que realmente aconteceu.”





