Polícia monta força-tarefa com três delegados para analisar dados do caso Icaraíma
Advogada e familiares de vítimas estiveram em Icaraíma para cobrar laudo preliminar e acesso integral ao inquérito
O delegado de Icaraíma, Thiago Andrade, revelou que o caso que investiga o assassinato de quatro homens ocorrida na cidade conta com o apoio de mais dois delegados, sendo um da Polícia Civil do Paraná (PCPR) e outro da Força Nacional de Segurança, além do próprio trabalho do delegado.
A informação foi dada de maneira informal à reportagem do OBemdito, nesta quarta-feira (5), anteriormente a um encontro reservado entre o delegado e familiares das vítimas. Andrade não quis conceder entrevista oficial, mas destacou o reforço técnico e operacional recebido para a continuidade das investigações.
Agilidade e acesso ao processo
A advogada Josiane Monteiro, que representa os familiares de três vítimas, esteve em Icaraíma acompanhada de Meiriane Marascalchi, esposa de Rafael Juliano Marascalchi, e Fabrícia Affonso, esposa de Diego Henrique Affonso. O grupo foi à cidade para cobrar mais transparência no inquérito, celeridade na análise das provas e acesso integral aos autos.
Segundo Josiane, a limitação de acesso aos documentos tem dificultado o acompanhamento das diligências e atrasado medidas essenciais ao caso. “Fica difícil realizar diligências sobre o caso sem acesso. Entendemos que um laudo final só será concluído ao fim do processo, entretanto, um laudo preliminar já seria possível”, afirmou.
Durante a visita, as famílias percorreram locais frequentados pelas vítimas e se reuniram com autoridades locais. A advogada informou que um pedido formal de acesso e de elaboração de laudo preliminar já foi encaminhado à Polícia Civil e ao Ministério Público.
Meiriane criticou a divulgação recente do histórico criminal das vítimas feita pela PCPR. “Eles [a polícia] fizeram isso porque estamos aqui hoje”, afirmou, sugerindo que a medida buscou desviar o foco da investigação principal, que é a elucidação das mortes.
Para Fabrícia, a ida à cidade reacendeu lembranças dolorosas. “É muito dolorido estar aqui. É longe, é a primeira vez que venho, e é triste estar na mesma panificadora em que ele tomou café pela última vez”, disse emocionada.
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Não há prazo para conclusão
A Polícia Civil do Paraná (PCPR) informou que ainda não há data definida para a conclusão do inquérito. Segundo o órgão, o volume de dados colhidos é tão grande que foi necessário criar uma força-tarefa composta por analistas de dados e agentes do Grupo de Diligências Especiais (GDE) de Umuarama, além de policiais lotados em Curitiba e da Força Nacional.
Mesmo com o reforço, a corporação avalia que a análise do material deve se estender por tempo indeterminado, devido à complexidade das provas e à robustez das informações reunidas desde o início das apurações.
Entenda o caso
As investigações apontam que o crime em Icaraíma teve origem em um conflito comercial envolvendo um sítio de cinco alqueires, avaliado em R$ 750 mil, no distrito de Vila Rica do Ivaí, zona rural do município.
Diferente das versões iniciais, Alencar Gonçalves de Souza Giron, uma das vítimas, não vendeu, mas comprou a propriedade de Antônio Buscariollo, pagando R$ 255 mil à vista. O restante seria financiado via empréstimo bancário, que acabou negado, levando ao distrato do negócio.
O acordo previa que Antônio devolveria o valor pago em dez parcelas de R$ 25 mil, enquanto Alencar abriria mão das benfeitorias feitas no local. As notas promissórias foram emitidas em nome de Carlos Eduardo Cândido Buscariollo, outro filho de Antônio, residente em São Paulo.
Com o atraso nos pagamentos, Alencar contratou Diego Henrique Affonso, de 39 anos, conhecido por atuar em cobranças, para intermediar a devolução do dinheiro. Ele viajou a Icaraíma acompanhado de Rafael Juliano Marascalchi, 43, e Robishley Hirnani de Oliveira, 53, ambos de São José do Rio Preto (SP).
Rafael viajou a contragosto da esposa, Meiriane, que o alertou sobre os riscos. Ele aguardava o nascimento da segunda neta.
O fatídico dia 5 de agosto em Icaraíma
De acordo com a apuração, Antônio chegou a oferecer uma casa na cidade como forma de quitar a dívida, mas a proposta foi recusada. Pouco depois, marcou uma nova reunião em 5 de agosto, em uma propriedade rural.
O encontro terminou em tragédia. A polícia encontrou cápsulas de cinco calibres diferentes, incluindo fuzil e pistola .45, e marcas de tiros em árvores. A principal linha de investigação indica que as quatro vítimas foram mortas no sítio, em plena luz do dia, entre 11h30 e 13h15.
A localização dos corpos aconteceu 45 dias depois, entre a noite de 18 e a madrugada de 19 de setembro, em área rural próxima. As escavações contaram com apoio da prefeitura, e a Polícia Científica concluiu os trabalhos por volta das 5h da manhã.
O caso segue sob investigação e é considerado um dos crimes mais complexos e violentos da história recente do Noroeste do Paraná.





