Leonardo Revesso Publisher do OBemdito

Advogado minimiza vestígios de tiroteio e insiste na inocência dos Buscariollo: ‘Foram outros quatro’

“O fato de ter quatro calibres na propriedade indica que, possivelmente, há quatro pessoas envolvidas, e elas não são o Paulo e o Antonio"

O advogado Renan Farah, contratado pela família Buscariollo no caso de Icaraíma (FOTO: O LIBERAL)
Advogado minimiza vestígios de tiroteio e insiste na inocência dos Buscariollo: ‘Foram outros quatro’
Leonardo Revesso - OBemdito
Publicado em 15 de setembro de 2025 às 22h07 - Modificado em 16 de setembro de 2025 às 07h36

As cápsulas de pelo menos quatro tipos de armas encontradas na propriedade rural que é objeto da dívida cobrada pelos quatro homens desaparecidos desde 5 de agosto em Icaraíma — incluindo, segundo a defesa das vítimas, munição de fuzil — não significam nada. A afirmação é do advogado Renan Farah, que representa Antonio e Paulo Ricardo Buscariollo, pai e filho apontados como principais suspeitos pelo crime e que seguem foragidos.

Em entrevista concedida por áudio a OBemdito, na tarde desta segunda-feira (15), Farah negou de forma categórica que seus clientes tenham participado do desaparecimento. “O fato de ter quatro calibres indica que, possivelmente, há quatro pessoas envolvidas, e elas não são o Paulo e o Antonio. Então, quem cometeu o crime foram outros quatro. Não foram eles dois”.

O advogado minimizou os vestígios, falou sobre os boatos de agressão a Antonio pelos cobradores e, comentou a existência de um filho apelidado de Mamute, garantindo que se trata de um empresário, sem ligação alguma com o crime organizado. Farah também rebateu a suspeita em torno de uma picape apreendida no centro de Icaraíma, que seria de Antonio. O veículo estava com placas adulteradas.

Antonio E Paulo Ricardo Buscariollo Obemdito
Antonio e Paulo Ricardo Buscariollo, acusados de matar os três cobradores e o titular da dívida, em Icaraima: pai e filho seguem foragidos

OBemdito – Doutor, na propriedade que é objeto da dívida foram encontradas cápsulas deflagradas de pelo menos quatro tipos de munições e outros vestígios que indicam que o local foi cenário de um tiroteio. Como o senhor analisa essa nova situação? O senhor continua defendendo que seus clientes não têm envolvimento com os desaparecimentos?

Renan Farah – Inicialmente eu quero consignar que é complicado a defesa ficar se manifestando a cada informação que surge, que vaza da polícia para a imprensa, porque a gente fica sujeito até a fake news, né? Semana passada tinham dito e divulgado que já tinham encontrado os corpos. Parece que eles ficam jogando um verde para ver o que a gente fala sobre isso. Acaba sendo negativo eu ficar me manifestando a cada nova informação. Mas, em linhas gerais, em uma primeira visão, em um primeiro sentir, como advogado de defesa, eu digo que, encontrar cápsulas vazias, estojo da munição de uma bala, não significa nada. Dizer que ali foi um cenário de tiroteio porque encontrou algumas cápsulas, é exagerar ao extremo.

OBemdito – O senhor não acha essas evidências importantes? Estamos falando até de fuzil, segundo relatou a advogada das vítimas…

Renan Farah – Se a perícia conseguir dizer há quanto tempo aquelas cápsulas foram deflagradas, a prova pode até ser interessante. Se não, ela é totalmente desinteressante dentro do processo. Até porque, pode, sim, falar que eles têm arma. Eles (Antonio e Paulo Ricardo Buscariollo, pai e filho) já tiveram um processo, já responderam, já foram absolvidos, outros condenados, sobre porte de arma. Se pesquisar na folha de antecedentes dos Buscariollo você vai encontrar isso. Então, não é segredo, que já tiveram armas. Por isso, eu digo que essas cápsulas, esses estojos de pólvora, não significam nada. Muito menos que houve um tiroteio na propriedade.

NOTA DA REDAÇÃO: A Polícia Civil nunca anunciou à imprensa sobre ter encontrado os corpos dos desaparecidos. Tampouco, informou sobre as cápsulas encontradas na propriedade objeto da dívida. A notícia foi dada por OBemdito e pelo G1, que acompanharam o momento em que a força-tarefa encontrou as evidências, na tarde deste domingo (14). A informação de que pelo menos quatro tipos de armas de fogo, incluindo fuzil, tenham sido usados na área, veio da advogada da família das vítimas, em vídeo publicado em suas redes sociais e repercutido por nossos repórteres.

OBemdito – Doutor, eu preciso insistir. O senhor sustenta que seus clientes não mataram os quatro desaparecidos?

Renan Farah – O fato de ter indícios de que existem outros envolvidos, fico muito grato que estejam interpretando dessa forma. Não foram eles (os Buscariollo, que cometeram o crime). Eu estou, sim, negando a autoria, porque essa é a verdade, não vamos mudá-la. E o fato de ter quatro calibres indica que, possivelmente, há mais de duas pessoas, provavelmente quatro pessoas envolvidas, o que exclui os Buscariollo, uma vez que ali, só estavam em Icaraíma, comprovadamente, o Paulo e o Antonio. Então, quem cometeu o crime foram outros quatro. Não foram eles dois. Foram outros quatro”.

OBemdito – Quem seriam esses outros quatro?

Renan Farah – Cabe à polícia responder.

Obemdito – Seus clientes não enterraram a Fiat Toro dos cobradores?

Renan Farah – Não foram eles.

OBemdito – Há ainda informações extraoficiais, suposições, portanto, de que os cobradores teriam agredido o senhor Antonio quando estiveram com ele na segunda-feira, 4 de agosto, dia anterior aos desaparecimentos. Fala-se em tapas no rosto. Seu cliente disse algo sobre isso?

Renan Farah – Pra mim o Antonio não disse isso. Mas, ao mesmo tempo, eu não tive acesso (ao depoimento à polícia). Quando eu fui contratado, ele já tinha falado na delegacia. E eu mesmo não tive acesso ao que foi dito na delegacia, o que é um grande absurdo. Como pode um advogado não ter acesso às provas que estão em andamento, um depoimento que já teve início, meio e fim? Não faz o menor sentido eu não poder ver. Eu não sei o que os meus clientes disseram na delegacia. Não sei se falou sobre esse tapa. O Antonio não me disse nada sobre isso.

OBemdito – O senhor Antônio tem realmente um filho conhecido pelo apelido de Mamute? Esse filho é ligado a alguma facção criminosa?

Renan Farah – Tem um filho que tem o apelido de Mamute, sim. É um dos Carlos. Não me lembro agora se é o Carlos Henrique ou o Carlos Eduardo. Mas nenhum deles tem qualquer relacionamento com o crime organizado, com nenhum tipo de facção. Eles são todos empresários. Estavam agora abrindo um mercadinho, um bar. Buscam viver de trabalho, trabalho honesto.

OBemdito – A respeito da picape apreendida no centro de Icaraíma, no sábado (13), que seria de propriedade de Antonio Buscariollo… O senhor tem alguma informação sobre isso?

Renan Farah – Essa picape aí era do (…), um funcionário da Prefeitura, que tinha negociado com eles, mas eles desfizeram o acordo porque a picape estava com um problema no motor. Estava com defeito mecânico e eles desfizeram o negócio. Entregaram (o carro de volta) no dia 4 de agosto. É um pouco irrelevante (essa informação sobre o carro) porque já não era mais deles, nunca foi deles, na verdade, porque nunca foi transferido (o documento) para eles. O Antonio chegou a usar o veículo para trabalhar, mas quando deu pau eles devolveram. E a polícia encontrou depois que o Antonio já tinha devolvido.

O que disse a advogada da família das vítimas

A advogada Joseane Monteiro disse que, com base no acesso que teve nos laudos do inquérito policial, os quatro desaparecidos em Icaraíma podem ter sido mortos com dezenas de tiros, desferidos por pelo menos quatro armas diferentes, incluindo fuzil e pistola 9 milímetros.

Joseane Monteiro afirmou que os suspeitos Antonio Buscariollo e seu filho Paulo Ricardo Buscariollo não agiram sozinhos. Ambos estão foragidos da justiça. Havia mais matadores na cena do crime. A advogada foi contratada pelas esposas de dois dos desaparecidos e tem acompanhado de perto o trabalho da polícia na força tarefa para encontrar os corpos dos homens.

Estão desaparecidos os cobradores Diego Henrique Afonso, Rafael Juliano Marascalchi e Robishley Hirnani de Oliveira, que vieram de São José do Rio Preto e Olímpia, no interior paulista, contratados por Alencar Gonçalves de Souza, morador de Icaraíma, na tentativa de receber uma dívida referente à negociação de uma propriedade rural no valor de R$ 255.

No vídeo, Joseane Monteiro também questionou a linha de defesa que os suspeitos vêm apresentando, através de seu defensor.

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