Igrejinha, na área rural do distrito de Vila Rica, em Icaraíma: construção é usada como referência na busca por corpos de desaparecidos, crime pode ter relação, mesmo que indireta, com o contrabando e tráfico na região (FOTO: RUDSON DE SOUZA/OBEMDITO)
O desaparecimento de quatro homens em Icaraíma, no noroeste do Paraná, completou mais de 40 dias e escancarou uma realidade que, até então, se mantinha à sombra, tranquila como a água de um poço. Trata-se do uso de propriedades rurais às margens do rio Paraná e de seus afluentes como pontos estratégicos do contrabando e do tráfico de drogas e armas.
Na região, marcada pela presença de mata fechada e difícil acesso, a Polícia Civil, a Força Nacional e a Polícia Militar Ambiental estão encontrando, durante as buscas pelos desaparecidos, uma rede subterrânea de bunkers.
Essas estruturas, construídas com tijolos, ferro e cimento, são camufladas pela vegetação nativa e servem como depósitos para o armazenamento de cargas ilícitas vindas, em sua grande maioria, do Paraguai.
A movimentação de fortunas é clara. Carros de luxo, propriedades suntuosas e ostentação em municípios de pequeno porte levantam suspeitas sobre a origem dos recursos. Autoridades afirmam que, em algumas localidades, o contrabando e o tráfico se tornaram parte invisível da economia, sustentando negócios de fachada e contaminando atividades lícitas.
Ao ganhar projeção nacional, o caso de Icaraíma rompeu, de forma indesejada, a regra do silêncio. Existe a suspeita de que o crime organizado tenha, mesmo que de forma indireta, alguma ligação com as mortes dos três cobradores de dívidas e do credor que contratou os profissionais.
Os suspeitos, que estão foragidos, estariam atuando como cigarreiros ou a serviço deles. Através de seu advogado, eles negam essa versão.
Os holofotes direcionados para as áreas ribeirinhas de Icaraíma são um péssimo negócio para o crime. A presença frequente de policiais e cães farejadores em investigações e busca de corpos atrapalha a logística do contrabando de cigarros e pneus, bem como do tráfico de drogas, como maconha e cocaína.
Autoridades ouvidas pela reportagem destacam que, se há algo que o crime organizado evita, é chamar a atenção. “Quanto mais invisível, melhor”, resume um investigador.
Por isso, a rotina tranquila das margens do rio Paraná se tornou, na prática, o disfarce perfeito para operações de risco. E essa realidade corrobora com a menor fiscalização na fronteira entre os dois países, na região de Salto Del Guairá.
Agora, com as buscas intensificadas, a polícia não apenas tenta encontrar os desaparecidos, mas também reúne provas de um sistema criminoso enraizado. A descoberta dos bunkers revela um cenário de alta complexidade, que envolve não só criminosos locais, mas também redes transnacionais que utilizam o Paraguai como ponto de partida.
O desaparecimento dos cobradores e do credor de uma dívida de terras às margens do rio Ivaí, afluente do rio Paraná, pode se tornar ainda mais emblemático, ao expor uma engrenagem criminosa que há anos opera nas sombras.
Enquanto passos, pás manuais e escavadeiras avançam na mata de Icaraíma, o que emerge não é apenas a busca por corpos, mas o retrato de uma região tomada pelo crime — um crime que prefere o silêncio, mas que agora enfrenta o peso dos holofotes.
No dia 5 de agosto, os cobradores Diego Henrique Afonso, Rafael Juliano Marascalchi e Robishley Hirnani de Oliveira, vindos do interior de São Paulo, viajaram a pedido do produtor rural Alencar Gonçalves de Souza até Icaraíma. O objetivo era cobrar uma dívida da família Buscariollo. Desde então, os quatro desapareceram.
As investigações apontam para Antonio Buscariollo e seu filho Paulo Ricardo como principais suspeitos. Ambos estão foragidos. O desaparecimento colocou a pacata Icaraíma sob os holofotes e revelou uma engrenagem criminosa muito maior: a ligação da região com a rota de contrabando e tráfico.
Durante as operações, na sexta-feira (12), a polícia encontrou uma Fiat Toro branca soterrada em um bunker de aproximadamente 4 metros de profundidade. O veículo é o mesmo utilizado pelos cobradores para se deslocarem de suas casas, em São José do Rio Preto e Olímpia, no interior de São Paulo.
No sábado (13), outro bunker, em construção, foi localizado. O método evidencia o nível de planejamento das organizações criminosas.
Essas estruturas permitem que cigarros, drogas e armas cruzem a fronteira e permaneçam escondidos até o deslocamento para centros urbanos maiores. O sistema funciona como entrepostos ilegais: os produtos chegam em pequenas embarcações pelo rio, são descarregados nas propriedades e imediatamente armazenados em depósitos subterrâneos.
De lá, a logística do crime se completa: caminhonetes em situação normal ou adulteradas, com placas frias, circulam pelas estradas vicinais da região até alcançar rodovias estaduais e federais. É a porta de entrada de um negócio bilionário, que se infiltra nas entranhas da economia regional. Esta, porém, fica com parte ínfima, mesmo assim, polpuda.
A morte da miss Altônia Bruna Zucco Segatin, em 2018, é outro caso que acendeu luz de confirmação sobre o crime organizado às margens do Paranazão. Altônia está ainda mais próxima do Paraguai que Icaraíma. Não que Bruna fosse uma criminosa. No dia em que foi brutalmente assassinada, Bruna, então com 21 anos, estava com a pessoa errada, no lugar errado.
A então estudante de psicologia desceu do ônibus da faculdade, foi para uma rua escura e entrou no carro de Valdir de Brito Feitosa 30 anos na época. Os dois eram conhecidos. Minutos depois, ambos foram interceptados e levado para uma área rural, onde foram assassinados a tiros e tiveram os corpos carbonizados na carroceria da caminhonete de Feitosa.
O desfecho do crime se deu recentemente, em agosto, com a prisão de envolvidos. A polícia revelou o que já se cochichava na cidade. Feitosa fazia parte de uma disputa pelo contrabando na região. Tinha ganhado inimigos.
O homem que matou Bruna e Valdir chegou a tatuar o rosto da miss em uma das mãos. O criminoso está preso.
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