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Jaqueline Menezes: a profundidade d’O Peso do Pássaro Morto

O isolamento social pelo qual atualmente passamos traz à superfície do nosso ser muitos sentimentos, de diversos tamanhos, cores e […]

Jaqueline Menezes: a profundidade d’O Peso do Pássaro Morto
Redação - OBemdito
Publicado em 8 de maio de 2021 às 11h21 - Modificado em 8 de maio de 2021 às 18h20
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O isolamento social pelo qual atualmente passamos traz à superfície do nosso ser muitos sentimentos, de diversos tamanhos, cores e frequência e que nem sempre conseguimos prestar a devida atenção. Gostaria de poder bater um papo hoje sobre a solidão, esse sentimento complexo e cheio de profundidade e para isso trago a proposta de leitura do livro O peso do pássaro morto da Aline Bei.

Em O Peso do Pássaro Morto escrito como prosa poética que marca bem uma característica da autora, conhecemos uma protagonista sem nome que carrega diversas perdas contadas em recortes específicos de sua vida, acompanhamos as tentativas de criação de laços quase sempre atravessadas e frustradas por traumas e uma aversão de confiar na dependência para com o outro. Seria esse um exemplo do dilema do porco-espinho, metáfora criada pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer para ilustrar o problema da convivência humana?

A solidão, que em muitos casos pode ser lida como forma de punição daquele que não foi capaz de amar e ser amado, de alguém que fracassou no mérito das relações pessoais e interpessoais, não deve ser classificada em categoria única, pois não há apenas um tipo de solidão, assim como somos diversos, nossos sentimentos e os produtos deles também são multifacetados. Uma destas muitas formas de solidão que permeiam nossos papéis sociais é a sensação de estar em meio a uma multidão e mesmo assim experimentar sentimentos de irrelevância, e invisibilidade.

Trouxe um trecho da obra onde essas sensações ficam muito evidentes:

“são muitas

as horas

na mesa

de trabalho e o mundo lá fora, esperando, tem o que no mundo

quando há tempo pra ver?

quando eu tenho tempo pra ver, nada

acontece no banco

da praça, ali

tudo escorre e

tudo é perda

mesmo quando estou fazendo

o que imaginei que gostaria de estar fazendo,

mas ao fazer bate aquela sensação esquisita de ainda estar viva justamente

nesse ano, exatamente nesse corpo que sou eu, as pessoas

sabem meu nome, me chamam,

então eu existo ao mesmo tempo que sou

invisível na multidão.”

Aline Bei – O Peso do Pássaro Morto

Na obra temos algumas ênfases nos traumas, dores e perdas da protagonista que vão revelando um desenho nítido da solidão ao ponto de conseguir nomeá-los aqui: A morte é um lugar solitário, a dor da violência sexual é solidão, a maternidade, principalmente a solo, é solidão.

O psicanalista Christian Dunker explica que muitas vezes há ainda o reconhecimento de um abismo interno e mesmo quando o sujeito solitário tenta preencher os lugares a sua volta através de uma associação com o outro, o que enxerga refletido nesse abismo é o nada, isto porque se depara com as versões que criou desse outro e a conexão retorna falha. 

Solidão ou Solitude?

Dunker fala também de uma espécie de resolução criativa associada de forma dialógica à solidão mas que não está contemplada em seu significado pois advém da capacidade de autoconhecimento e criatividade que possibilita a criação de conexões seguras e saudáveis como empatia, alteridade, hospitalidade com o outro sem lhe escapar a capacidade de gostar de estar consigo, uma forma de encontro com a auto identidade, com a autonomia e da descoberta de confiar no outro, essa é a concepção de solitude.

Esse texto é somente uma conversa/desabafo, não tem a pretensão técnica de discorrer sobre patologias ou seus tratamentos, se você precisar de ajuda, procure um profissional.

Gostaria de finalizar essa conversa com um convite, no mês de Maio vamos conversar com Aline Bei, autora de O Peso do Pássaro Morto no Clube de Leituras Leia Mulheres Umuarama, mais informações nas redes sociais do projeto. O livro pode ser adquirido pelo Instagram da própria autora.

* Jaqueline Menezes, estudante, leitora em formação, amante de livros de mistério desde adolescente, atualmente, mediadora e co-organizadora do Projeto Leia Mulheres em Umuarama, onde divide experiências de leitura com pessoas incríveis, co- idealizadora, mediadora e co-organizadora do Clube de Leituras e Estudos Políticos Práxis Revolucionária onde também é revisora e organizadora do Blog Práxis Revolucionária. Co-idealizadora do Projeto de sebo colaborativo Mãe de Livro no Instagram. Entusiasta de projetos de divulgação e disseminação de leitura e projetos de inclusão digital.

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