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Ítalo Fábio Casciola Publisher do OBemdito

No tempo dos armazéns de secos e molhados, os supermercados de antigamente

Eram verdadeiros labirintos de produtos de todo tipo amontoados por todos os lados...

Fotos: Arquivo Ítalo Fabio Casciola
Fotos: Arquivo Ítalo Fabio Casciola
No tempo dos armazéns de secos e molhados, os supermercados de antigamente
Ítalo Fábio Casciola - OBemdito
Publicado em 3 de dezembro de 2023 às 12h54 - Modificado em 3 de dezembro de 2023 às 18h04
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Vamos dar asas à imaginação e simular um passeio pelo ‘centro’ da então acanhada e pequena Umuarama na época da colonização, de 1955 ao início dos anos 70. Era um cenário meio desumano de ver e viver, sem asfalto, sem energia elétrica, bem distante do que se considerava uma cidade. Barro até as canelas em tempos chuvosos e poeira fazendo redemoinhos com as fortes ventanias que davam a impressão que estávamos no deserto do Saara…

E nesse lugar convivíamos com personagens e costumes que hoje habitam apenas nas nossas lembranças, pois aos poucos foram desaparecendo dando lugar aos tempos modernos. Mas tudo isso existia e aconteceu e são eles que formatam a História de uma fase da vida que já vai distante…

Nesta crônica vamos dar um rolê pelo comércio da cidade naquele período antigo. Nesse percurso é impossível evitar uma visita aos antigos armazéns de secos e molhados, ou empórios. Até seus nomes são memoráveis, pois hoje é inimaginável usá-los. Eram aqueles negócios que vendiam de tudo, numa época em que ainda não haviam ‘inventado’ mercados, supermercados ou hipermercados, e nem se pensava em magias incríveis como televendas, marketing ou e-commerce.

Eram casas comerciais com 2, 4 ou mais portas. As fachadas eram as mais simples, com pinturas descoradas e maltratadas pelo clima – sol furioso ou chuvas fortíssimas. Não tinham calçadas e nem ruas, que no começo eram de terra…

Ao entrar no estabelecimento, a distinta freguesia podia ver todo tipo de mercadorias que ocupavam cada centímetro do espaço das prateleiras de madeira que encobriam as paredes. Havia até artigos pendurados no teto ou empilhados pelos cantos. Todos os produtos ficavam perfilados de maneira que os clientes pudessem ver e escolher o que precisavam comprar.

No centro de cada uma dessas “lojas têm-de-tudo” havia o caixa, com uma vistosa registradora mecânica. As que não tinham tal máquina, possuíam balcões com gavetas onde era colocado o dinheiro, separando as cédulas e moedas de cada valor. A grana era o Cruzeiro. Do outro lado havia as antigas balanças vermelhas, com pratos bronzeados ou prateados, com uma série de pesos de 100 gramas a 5 quilos. E as balanças maiores, de chão, onde eram pesadas mercadorias maiores, principalmente sacos de cereais.

O feijão e o arroz ficavam à vista da freguesia em sacarias mantidas de pé no piso do armazém e eram vendidos a granel ou até o saco inteiro. O açúcar, moído ou refinado, a farinha de trigo, o macarrão e outros produtos demandavam o trabalho da pesagem e do empacotamento em sacos de papel.

A manteiga e a banha de porco eram vendidas em latas quadradas grandes; ou, quando em menor quantidade, eram embrulhadas em papel de seda (pareciam de plástico). O mesmo acontecia com o bacalhau e a carne seca (o jabá). O sabão em pedra e outros produtos de limpeza eram embrulhados em jornais. As compras eram colocadas em ‘redinhas’ coloridas, pois naquele tempo não existiam as sacolas de plástico.

Nos empórios e armazéns de secos e molhados o consumidor podia comprar o que necessitava para a sua casa ou trabalho. Muitos desses artigos nem se fabricam mais. Os mais exóticos eram os “Tiradentes”, aqueles chuveiros de campanha usados na época em que não havia água encanada: era um balde com um chuveiro na parte de baixo e um gancho na parte de cima para pendurá-lo no teto do banheiro. A geração de hoje ao ver um desses não vai acreditar que os antigões tomavam banho com os tais “Tiradentes”.

Havia o urinol, também chamado de penico, que as pessoas colocavam debaixo da cama para não ter que sair à noite e ir ao banheiro que ficava no quintal… (risos). Peças valiosas eram os lampiões e as lamparinas a querosene, que iluminavam as casas quando ainda não existia luz elétrica em Umuarama.

Também constam da lista dos artigos que há muito tempo não existem mais a tábua de lavar roupa, os fogões a lenha, os bules de café e coador de pano, a cera para dar brilho ao piso que era de cimento, nas cores vermelho, amarela ou incolor… E as bombas de água de acionamento manual usadas para tirar água de poços, os encerados (lonas), tamancos de madeira, botinas de couro ou alpargatas para trabalhar na roça. Tinha a seção de ferramentas para trabalhar na roça, como enxadas, enxadões, foices, facões, etc…

E todo armazém não podia deixar de ter em hipótese nenhuma um balcãozinho especial, onde os marmanjos saboreavam pingas de diversos tipos e cervejas. Em raras exceções havia aqueles que preferiam tomar copos de vinho. Essas bebidas eram servidas sem gelo, argh!, pois em Umuarama a energia elétrica ainda não havia chegado. Entre um gole e outro, o pessoal se reunia para jogar conversa fora, falando de caçadas e pescarias, contar ‘causos’ e de ‘futibór’.

Os bons de grana, geralmente fazendeiros, falavam de negócios – comprar e vender terras e vender café! Era um tempo em que a cidade não tinha opções de lazer, meio melancólica, mas em que reinava a riqueza da cafeicultura que fazia muito dinheiro circular por todos os lados. Então, feliz era aquele que andava com o bolso com um monte de notas enroladas com um elástico grosso. Era dinheiro vivo e ninguém falava em economizar…

Geralmente a ‘hora do pingão’ era depois de feita e paga a compra. Mas nada de bebedeiras exageradas, para evitar encrencas ou barulheiras de bebuns falando alto! Manter essa ‘etiqueta social’ era obrigatório ou seria convidado a se retirar do recinto!

Um espaço que era a maior festa, principalmente pelos filhos que acompanhavam os pais nas compras nos secos e molhados, era onde estavam os ‘baleiros’, que exibiam grande variedade de balas doces. Havia também diversos tipos de doces de fabricação caseira.

Vale lembrar que o cantinho detestado pelas donas-de-casa consumidoras era onde ficavam os rolos de fumo. Sim, rolos de fumo que os marmanjos usavam para fazer cigarros de palha. Fumo, cá entre nós, é fedido mesmo e as mulheres passavam longe desses produtos de ‘cheiro forte’!

Para que tenham uma ideia desse produto, detalho que fumo de rolo, ou fumo crioulo, ou ainda fumo de corda, é um tipo de fumo (tabaco) torcido e enrolado, normalmente utilizado para confeccionar os tais cigarros de palha, mas também consumido mascando-se pequenos pedaços. Quem usava tinha um bafão de assustar onça braba!!!

No final das contas, fazer compras era – e continua sendo – obrigatório para todos. Havia quem fazia isso todo dia, nem que fosse para comprar meio quilo de açúcar. Aqui entre nós, era uma desculpa para ‘botekar’ e encontrar os amigos na antiga Capital da Amizade! E como naquele tempo todo mundo trabalhava duro, merecia ser feliz…

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