A Avenida Paraná, vista do alto, tendo como cenário de fundo a “Praça das Perobas” (atual Santos Dumont) - Fotos exclusivas do acervo da Coluna ITALO/Direitos reservados

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Antigamente a coleta de lixo em Umuarama se resumia apenas à Avenida Paraná…

Vou contar esta história, parece mentira e sei que muita gente não vai acreditar nela…

A Avenida Paraná, vista do alto, tendo como cenário de fundo a “Praça das Perobas” (atual Santos Dumont) - Fotos exclusivas do acervo da Coluna ITALO/Direitos reservados
Antigamente a coleta de lixo em Umuarama se resumia apenas à Avenida Paraná…
Ítalo Fábio Casciola
OBemdito
5 de agosto de 2023 16h56

Mudam-se os tempos, mudam-se os costumes. Assim, a cidade de Umuarama também foi se transformando. Uma dessas mudanças pode ser contada a partir da própria Avenida Paraná, a nossa principal e mais antiga artéria da cidade.

Já narramos diversos temas sobre essa via pública, mas desta vez a ótica fica direcionada para a limpeza dela nos tempos em que não era asfaltada, portanto, da fase primitiva em que cada centímetro de sua extensão era de terra bruta. Já narrei aqui que nas temporadas das chuvas aquilo se transformava num pandemônio de barro e poças de água suja, principalmente no “Baixadão”, próximo à Praça Santos Dumont. Nos dias de sol, era aquela terra fofa que voava ao sabor dos ventos empoeirando o gentio e o comércio.

Tira-se daí a conclusão que era humanamente impossível manter a Avenida Paraná limpa, como é hoje. E a primeira sensação de que era suja sentia-se, literalmente, no ar. Em alguns pontos, onde as enxurradas acumulavam lixo e dejetos de animais (cavalos, cães, etc), o forte odor castigava as narinas dos viventes…

O primeiro e principal problema era indiscutivelmente a questão do lixo. Como se sabe, de 1955, quando Umuarama foi fundada, até 1960, quando ainda não havia sido elevada à categoria de município e não tinha prefeitura para administrar os serviços públicos, a situação era praticamente a de uma cidade abandonada, onde a limpeza pública cabia aos próprios comerciantes, que tinham que se virar com o lixo que produziam e acumulavam.

A partir de 1961, quando Hênio Romagnolli foi eleito como primeiro prefeito, é que Umuarama começou a administrar por si própria a sua organização e crescimento. Ele constituiu um departamento, que embora com poucos recursos e uma equipe de apenas três funcionários, começou a fazer os serviços de limpeza pública. Mas eles eram feitos apenas na Avenida Paraná, que na época se resumia a poucas quadras ocupadas por estabelecimentos comerciais… Para tanto, comprou um pequeno trator e mandou construir uma caçamba de madeira um pouco menor que a carroceria de um caminhão. Um carroção, diria…

Ao mesmo tempo foi escolhida uma área, no meio da mata, lá pelos lados da Estrada Canelinha, reservada para jogar o lixo que era recolhido da avenida principal. Esse foi o primeiro “lixão” de Umuarama, que ficava bem distante e não oferecia riscos de contaminação de doenças aos moradores, afinal, lá naqueles cafundós ainda não vivia ninguém e nem existiam lavouras por perto. A distância entre a Avenida Paraná, local da coleta de lixo, e a Estrada Canelinha, somava vários quilômetros e consumia um considerável tempo de percurso para aquele trator lento cumprir a tarefa.

Sendo assim, o tratorzinho descia a avenida com o motor roncando, devagar, enquanto que os dois trabalhadores recolhiam os tambores e latas com o lixo e os jogavam dentro da caçamba. Esses recipientes de metal, depois de esvaziados, ficavam espalhados ao longo da avenida. Cada dono tinha que lavá-los, pois geralmente o lixo da época era orgânico que causava forte mau cheiro, principalmente no calor.

Observem a Avenida Paraná no passado, em que não existia asfalto, bueiros, tubulações de águas pluviais, enfim, não havia nada que possibilitasse manter uma cidade constantemente limpa. E, detalhe, tratava-se da principal via pública de Umuarama. Existia apenas um quebra-galho para coletar lixo: um pequeno tratorzinho e apenas três empregados para recolher latões que o comércio espalhava naquela via acumulando produtos inúteis que eram levados para um lixão muito distante da cidade… E no resto da cidade nada, cada um que se virasse com as porcarias que descartava – Fotos exclusivas do acervo da Coluna ITALO/Direitos reservados

Como a caçamba não era grande, para a coleta ficar completa o tratorista tinha que dar várias viagens no sentido cidade-lixão e vice-versa… E, lembro, esse percurso era feito por terra, acidentada e que impedia um trator fazer o trajeto numa velocidade considerável… Portanto, demorava muito. Esse trabalho duro continuou por vários anos, até que depois a Prefeitura comprou mais veículos e contratou mais gente para ampliar o atendimento.

Após a Avenida Paraná, passaram a ser atendidas as ruas laterais, Dr. Camargo e Paissandu (hoje Ministro Oliveira Salazar).

E o resto da cidade como é que ficava? – perguntarão os atentos leitores. Pois é, nesse caso cada morador era responsável por dar fim ao próprio lixo que produzia da melhor maneira que lhe conviesse… Ou seja, cada um por si… Os vizinhos que tinham mais posses contratavam as “carroças de aluguel” para fazer o serviço: levar a carga lá para o “lixão” da Canelinha ou “dar um jeitinho” de sumir com ela… E os carroceiros não cobravam barato não!!!

Vale observar que a quantidade do lixo gerado por Umuarama naqueles primeiros tempos era astronomicamente menor que a atual, calculada recentemente em milhares de toneladas por mês. A população urbana era infinitamente menor, em torno de 30 mil habitantes na primeira década, pois a maioria estava instalada na zona rural.

E antigamente o lixo, quase que em sua totalidade, era composto de material orgânico (restos de alimentos), degradáveis pela ação da própria natureza, mas que geravam um fedor infernal e atraiam moscas, baratas e ratos que rapidamente consumiam esse tipo de resíduos. Mas, inevitavelmente, ofereciam riscos à saúde.

Fotos exclusivas do acervo da Coluna ITALO/Direitos reservados

Também contribuía muito para a quantidade de lixo ser menor o fato de que na época não existiam os produtos industrializados com embalagens descartáveis, como as sacolinhas de plásticos e as garrafas pet. A população consumia produtos caseiros ou produzidos pelas lavouras, existindo grande resistência a conservas enlatadas e similares, apesar de já existirem nos armazéns de secos e molhados.

Por exemplo: ninguém comprava “leite em caixinha”; o próprio leiteiro entregava, em litros, todas as manhãs o leite quente e fresquinho recém-ordenhado das vacas… Para comprar, as donas-de-casa usavam aquelas bolsas de pano ou lona e ninguém imaginava ainda que um dia existiriam as tão combatidas sacolinhas de plástico de hoje…

Cinquenta anos depois, agora vivemos na era ecológica em que urge preservar o meio ambiente, tão castigado ao longo das décadas. Prega-se a coleta seletiva, alerta-se contra a dengue, combate-se a política incorreta de jogar lixo no quintal alheio…

Parece que virou moda atualmente acumular entulhos, sacos pesados de todo tipo de materiais que em poucas horas se deterioram e provocam protestos coletivos. Até móveis velhos e quebrados são abandonados nos canteiros centrais das avenidas. Prova da constante atividade dos “sujismundos” é que as bocas de lobo vivem entupidas provocando grandes enchentes pelas vias públicas do centro e dos bairros…

Mudaram ou não mudaram os tempos??? Para melhor ou para pior??? E a sofrência aumenta cada vez mais e não há previsão que tenha fim tão cedo… (ITALO FÁBIO CASCIOLA)

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