Raissa e sua medalha de campeã brasileira: promessa de esforços redobrados para chegar ao octógono. Fotos: Danilo Martins/OBemdito

Esporte

Campeã brasileira de kickboxing começou carreira na Casa da Paz

Raissa Liege tinha oito anos quando entrou nas aulas de caratê da ong umuaramense; atualmente treina em duas modalidades

Raissa e sua medalha de campeã brasileira: promessa de esforços redobrados para chegar ao octógono. Fotos: Danilo Martins/OBemdito
Campeã brasileira de kickboxing começou carreira na Casa da Paz
Graça Milanez
OBemdito
6 de agosto de 2023 14h54

Em meio às transformações sociais e desafios do mundo contemporâneo, Organizações Não Governamentais (ONGs) assumem papel crucial na formação de crianças. Com enfoque na educação, cultura e assistência social, essas instituições se tornam pilares fundamentais na construção de um futuro mais promissor para elas.

Com muito empenho dos voluntários, apesar do baixo orçamento, a ong Casa da Paz tem dado respostas importantes para a sociedade umuaramense quando o assunto é, entre outros, mostrar caminhos, acreditar e incentivar.

Raissa Liegi Santos da Silva, 20 anos, é um bom exemplo. Ela escolheu a direção das artes marciais, uma das atividades complementares oferecidas na Casa da Paz desde que a Instituição foi criada, em 2002. Lá, com 8 anos de idade, fazia caratê. Alguns anos depois entrou no jiu-jítsu e nunca mais parou.

E por estes dias está comemorando o maior título da carreira: o de campeã brasileira no Brasileirão de Kickboxing [32º edição], realizado em Curitiba, em junho. A medalha superespecial vai agora se juntar às mais de 80 que conquistou nesses 12 anos de carreira. Nesse rol estão as de campeã sul-brasileira de jiu-jítsu e bicampeã paranaense de kickboxing.

“Ela sempre deu o sangue”, diz treinadora

Mas quer mais, porque o sonho dela é ir para o UFC [Ultimate Fighting Championship, o famoso comitê americano de artes marciais]. “Por isso tenho que treinar duro! E apanhar duro, também”, assegura, contando sobre sua “árdua rotina”.

Logo cedo, Raissa faz musculação [três vezes por semana]; depois vai para o trabalho, num expediente de cinco horas [é ajudante de cozinha no restaurante Casa Lima]; duas tardes por semana assume o papel de monitora em aulas de artes marciais para crianças na escola Trevus Martial Arts; lá, encerra a jornada à noite com treinos de kickboxing.

Na semana seguinte, tudo de novo! E no tempo livre, o que faz? “Treino”, é a resposta. “Também descanso… Não faço mais nada”, conta a garota que sonha com o cinturão no octógono. “Estou me esforçando bastante! Quero ver se no ano que vem consigo uma bolsa-atleta para me dedicar exclusivamente aos treinos, porque pretendo ser uma lutadora de alto nível”.

Toda esta autoconfiança garante que veio do esporte. Mas na convivência com as artes marciais diz que aprendeu muito mais: “Eu me tornei uma pessoa disciplinada… Sei que tenho que acordar cedo, mesmo não gostando; sei que tenho que treinar, treinar e treinar e ter pouco tempo livre; não me queixo!”.

Fé no esporte: tantas medalhas só motivam para buscar mais medalhas

Patrocínios são bem-vindos

Considerando que sua família não tem condições financeiras de bancar todas as despesas para de viagens a campeonatos, ela luta também por patrocinadores.

Já conta com alguns fixos: a academia Stay Fit, a escola Trevus e a Casa Lima, onde trabalha. “O dinheiro que ganho gasto com minha dieta e o restante guardo para as competições”, informa.

Os treinadores também são patrocinadores [eles não cobram honorários]. O proprietário da Trevus, Carlini Vander [faixa preta dois graus em jiu-jítsu] é um deles. “Acompanho a Raissa há uns dez anos, desde que ela era criancinha”, exclama.

Raissa e Patrícia: muitas vitórias comemoradas juntas!

“Meu apoio se deve ao fato de eu acreditar que, ensinando, estou dando expectativa de dias melhores para ela no esporte e na vida; é uma forma de servir, de retribuir à sociedade o que a sociedade me deu”, relata o campeão internacional, que recebe mais de dez lutadores, como Raissa, para treinar de graça na Trevus.

“A gente se doa muito para que essa galerinha se torne melhor que nós! A gente procura mostrar, pelo nosso exemplo, que pode viver disso, ter um futuro melhor! É um legado que deixamos! Diante de tanto esforço, e tanta torcida, a Raissa tem tudo para chegar lá! Ela me ajuda a dar aulas, está lutando em grandes eventos, está no rumo certo”.

A garota faixa roxa também recebe apoio incondicional da profissional de educação física Patrícia Ribeiro Martins, sua personal trainer hoje [na musculação], mas instrutora de artes marciais desde sempre.

Patrícia, faixa preta no caratê e voluntária da Casa da Paz [executora de projeto nessa atividade esportiva] não poupa elogios quando fala das virtudes da atleta Raissa.  

“Na primeira aula que ela fez comigo percebi que era uma criança diferente… Tinha técnica! Parecia que já tinha treinado, mas não tinha… Deu pra ver que ela tinha um talento natural! Uma garra impressionante!”, lembra.

Dessa relação de educadora e aluna foram muitos momentos de alegria compartilhados. “Eu me apeguei a ela, porque via nela um potencial muito grande! Incentivava, providenciava quimono, arrumava patrocínio, buscava em casa, levava aos torneios… Ela merecia esse apoio, porque tinha uma competência diferenciada e provou, pois comemoramos muitas vitórias juntas!”.

A sensei diz também que o que mais impressiona é a força de vontade de Raissa: “Desde pequena foi assim! Ela morava no Sonho Meu e vinha treinar na minha academia [à época, situada na Avenida Tiradentes, distante sete quilômetros do bairro]… Era um cisquinho de gente, mas dona de uma determinação excepcional! Vinha de bicicleta, sozinha; quando a bicicleta quebrava, vinha a pé, debaixo de sol ou de chuva… não tinha tempo ruim pra ela!”

Na juventude, também: “Sempre deu o sangue! Ela cresceu debaixo das nossas asas, e eu me orgulho de ter colaborado com essa trajetória tão linda!”

O lutador e instrutor da Trevus, Renato Matsumoto, também faz parte da equipe de treinadores voluntários Lda Raissa.

== Para patrocinar Raissa converse com ela pelo whatsApp 44 9 9871 2267 ou na Trevus, pelo telefone 44 2020 1980.

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