Umuarama teve 5 prefeitos em 10 anos e amenizou crise com diálogo e voto
Na década da Geada Negra, município afundou-se ainda mais devido aos desencontros e desarranjos políticos surgidos por acusações de corrupção e incompetência administrativa
PRIMEIRO PONTO
Na esteira dos mais recentes acontecimentos políticos registrados em Brasília, especialmente a reforma ministerial, e as demissões dos comandantes das Três Armas – Exército, Marinha e Aeronáutica, acompanhamos um crescimento exponencial dos casos e mortes provocadas pelo Covid-19.
Essa soma de fatos acaba por gerar tensão em vários segmentos sociais, inclusive no próprio governo. Duas crises simultâneas não são fáceis de serem superadas e deixam sequelas. Os umuaramenses mais antigos conhecem bem essa história que não é narrada nos livros escolares, mas registradas em publicações da época.
Na década de 70, Umuarama precisou mostrar uma força de vontade extraordinária para superar esse período, pois, além de uma crise socioeconômica provocada por uma catastrófica geada ocorrida em 1975 que gerou o maior êxodo rural da história do Paraná, o município afundou-se ainda mais devido aos desencontros e desarranjos políticos surgidos por acusação de corrupção ou incompetência administrativa e falta de decoro na condução da gestão pública.
Esses escândalos políticos tiveram como protagonistas dois pioneiros da política local: Hênio Romagnolli, que havia sido vereador em Cruzeiro do Oeste, representando o então distrito de Umuarama e depois se tornou o primeiro prefeito eleito do novo município; e João Cioni Neto, terceiro prefeito na história do nosso município.
Na época, Umuarama teve que alinhar o redesenho da sua base econômica, antes sustentada pela cafeicultura que foi dizimada pelas geadas, com a superação de duas crises políticas e administrativas que teimavam em se arrastar nos dois mandatos seguido: 73 a 76 e 77 a 82.
SEGUNDO PONTO
Já narrei essa história em outros textos, mas vou resumi-la. Em 15 de novembro de 1972, Hênio Romagnolli se elegeu prefeito pela segundo vez. Tomou posse no dia 31 de janeiro de 73 e inaugurou o período mais conturbado da história política de Umuarama. Ele não concluiu seu mandato, pois acabou cassado pela Câmara de Vereadores –foi inocentado anos mais tarde pela Justiça.
Romagnolli foi substituído por seu vice, Durval Seifert que conclui o mandato. Seifert passou a Prefeitura para o comando de João Cioni Neto, eleito para o seu segundo mandato em 15 de novembro de 1976. Essa gestão começou no dia 31 de janeiro de 1977 e Cioni também não concluiu seu segundo mandato.
Acusado de corrupção pelos vereadores e pressionado por forças políticas do Estado, Cioni deixou a Prefeitura nas mãos de seu vice, o médico Tuguio Setogutte. Esse mandato teve uma particularidade: o governo militar que comandava o país, percebendo o crescimento da oposição, lançou mão de mais um de seus casuísmos e prorrogou o mandato dos prefeitos e vereadores eleitos em 1976 por mais dois anos.
Com essa decisão, os mandatos que seriam concluídos em 1980 foram estendidos até o final de 1982, o que fez com que Setogutte cumprisse praticamente quatro anos de mandato e restabelecesse certa normalidade num município que ainda sofria as consequências das duas crises simultâneas enfrentadas em tão pouco tempo.
Setogutte também não concluiu o mandato, repassando o cargo de prefeito para o então vereador Jorge Vieira, na época presidente da Câmara que completou os 8 meses restantes da gestão. Assim, em 10 anos, duas eleições e cinco prefeitos – além da catástrofe econômica e social provocada pela geada de 1975.
O PONTO A MAIS
A prorrogação dos mandatos de prefeitos e vereadores de 4.000 municípios brasileiros ocorreu durante o governo do general João Batista Figueiredo, através de uma emenda constitucional aprovada pelo Congresso.
A justificativa era de que não havia tempo para que os partidos cumprissem todas as formalidades previstas na reforma partidária de 1979 que permitiu o surgimento de novos partidos, além da Arena e MDB – os dois únicos existentes durante maior parte da ditadura militar. Na realidade, os militares fugiam das urnas diante da crescente insatisfação popular já manifestada através do voto nas eleições de 74,76 e 78.
Não há nenhuma correlação entre o ocorrido em Umuarama na década de 70 e o que acontece hoje no Brasil, exceto pela caótica situação causada por duas crises simultâneas. Em Umuarama, ambas as crises foram superadas com muito trabalho, diálogo e voto. Ninguém deseja que hoje seja diferente.
Até a próxima.
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Valdir Miranda é jornalista com mais de 40 anos atuação e colunista do OBemdito.