Sueli Semensato: a ‘menina da sala de vacinação’ do posto do Jardim Cruzeiro

Quando Sueli Semensato, 54, terminou o curso de auxiliar de enfermagem não imaginava que anos depois estaria aplicando vacinas que trazem esperança pelo fim da pandemia do novo coronavírus.

Prestes a completar 19 anos de atuação na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Jardim Cruzeiro, em Umuarama, Sueli é uma das profissionais mais queridas pelos pacientes e após vencer um câncer enfrenta mais uma batalha para salvar vidas.

Na última terça-feira (22), enquanto separava insumos para a vacinação que ocorreria horas depois, Sueli recebeu a equipe de OBemdito na UBS para falar sobre a rotina dos profissionais de saúde, que há mais de um ano enfrentam a maior emergência sanitária em décadas.

Mãe, esposa e avó, Sueli se casou e só depois de 12 anos retomou os estudos. Foi para área da saúde, passou por diversas funções até chegar onde hoje está a esperança de milhões de brasileiros: a sala de vacinação. O local virou até complemento do nome – Sueli, ‘a menina da sala de vacinação’.

Os moradores do entorno do Jardim Cruzeiro conhecem bem a perícia e o carinho de Sueli. Imunizou contra as mais diversas doenças gerações de famílias. Visita as pessoas em casa, conversa sobre a família, mas houve uma ruptura nesta rotina no ano passado.

Acometida por um câncer – linfoma não Hodgkin – ela ficou afastada por mais de um ano. Deste período, foram cinco meses direto em Maringá. “Eu nunca pensei em morrer, mas não sabia se conseguiria voltar”, confessa.

Neste ínterim ela viu que os pacientes eram a extensão da própria família. “Eu sou muito grata a Deus e também aos pacientes. Foram tantas mensagens no celular, no Facebook, sempre perguntando como eu estava. Realmente foi um apoio muito bom”, conta.

Ele retornou logo quando as primeiras vacinas contra a Covid-19 foram disponibilizadas. A sala de vacinação nunca foi tão simbólica. Imunizada com a Coronavac, assim como toda equipe da UBS do Jardim Cruzeiro, voltou ao trabalho em um momento difícil.

Dos pacientes acamados ou idosos que sempre foram visitados em casa pela auxiliar de enfermagem, alguns tinham falecido. Outros estavam mais velhos.

O período é cansativo para todos, mas a equipe composta por agentes, enfermeiras, técnicos de enfermagem, atendentes e médicos da UBS trabalha com afinco para atender quem vai em busca da imunização, e, além disso, lidam também com as emoções dos pacientes.

Alguns preferem a vacina de um laboratório ao invés da outro – o que já é consenso entre os cientistas: vacina boa é a que está disponível. Outros se emocionam, há quem queira conferir se há líquido na seringa ou quem queira registrar o momento em fotos.

Para lidar com tudo isso a equipe da UBS do Jardim Cruzeiro organizou um esquema  – agentes de saúde se disponibilizam a registrar o momento, enquanto a equipe de vacinação prepara as doses e insumos. A vacinação demora menos de um minuto e algumas histórias marcam quem está na linha de frente no combate à pandemia.

“Nessa última semana eu fiquei emocionada, veio aqui uma paciente que perdeu o pai e a mãe e quando foi vacinada gritou: ‘pai é para você’”, revela Sueli.

Dentro de três anos mais ou menos, Sueli deve se aposentar. Mas o legado de cuidado com os outros vai permanecer inspirando colegas de trabalho e acalentando o coração dos pacientes.

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