Cotidiano

Policiais são suspeitos de colaborar com investigados pela chacina de Icaraíma

O delegado-chefe da 7ª Subdivisão Policial, Gabriel Menezes, confirmou que dois policiais lotados em Icaraíma são alvo de investigação interna após surgirem indícios de possível comunicação entre eles e os suspeitos do assassinato de quatro homens ocorrido em 5 de agosto de 2025, na área rural do município. 

A informação consta no relatório oficial divulgado pela Polícia Civil do Paraná no início da tarde desta quarta-feira (11). O documento detalha a dinâmica do crime e as diligências realizadas até o momento.

De acordo com Menezes, os indícios de envolvimento de policiais surgiram após o crime, quando foi detectada possível troca de informações entre os agentes e os investigados. 

Diante do risco de que essa comunicação pudesse facilitar fugas, destruir vestígios ou comprometer provas, o caso foi encaminhado imediatamente à Corregedoria da Polícia Civil. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos na última terça-feira (9).

Apesar da gravidade da situação, o relatório enfatiza de forma explícita que não há qualquer evidência de que os policiais tenham participado das mortes. 

A linha de apuração se limita à possibilidade de “colaboração posterior”, isto é, auxílio aos suspeitos após a execução dos quatro homens, seja repassando informações internas, seja alertando sobre a investigação.

Para assegurar independência e evitar interferências, a Polícia Civil determinou que os agentes fossem removidos da unidade enquanto a Corregedoria aprofunda a apuração. 

Antes mesmo dessa etapa, o caso já vinha sendo tratado com compartimentação de informações e sigilo absoluto, justamente para impedir vazamentos diante da suspeita de envolvimento indireto de agentes públicos.

A corporação afirma que a decisão de manter o sigilo das diligências por meses decorreu da necessidade de preservar a integridade das provas e evitar que qualquer eventual favorecimento externo prejudicasse o avanço das investigações.

Dinâmica do crime

O relatório também apresenta a reconstrução da execução de Alencar Gonçalves de Souza Giron, Diego Henrique Affonso, Robishley Hirnani de Oliveira e Rafael Juliano Marascalchi. Eles foram mortos por volta de 12h30, logo após chegarem à propriedade rural que era objeto da cobrança de uma dívida.

As vítimas foram atingidas por tiros disparados de pelo menos cinco armas distintas, incluindo um fuzil. Para a polícia, essa quantidade de armas indica uma ação coordenada. 

Os disparos atingiram partes vitais, como cabeça e tórax, e, segundo laudos, foram suficientes para causar morte imediata, afastando hipóteses de sequestro, tortura ou cativeiro. Um dos cobradores paulistas levou três tiros na cabeça, conforme o relatório da Polícia Civil. 

Há registro de grande acúmulo de sangue na Fiat Toro usada pelas vítimas, além de marcas de tiros na dianteira, traseira e lateral esquerda do veículo, reforçando que o ataque ocorreu no momento da chegada à propriedade.

Troca de áudios

O documento expõe ainda diversos áudios trocados entre Alencar, Diego e familiares, nos quais surgem o medo da cobrança, a menção ao porte de armas por parte dos Buscariollo e a insistência de que o grupo retornaria à propriedade para “fazer dar certo”.

Em mensagens enviadas à esposa na manhã de 5 de agosto, Diego afirma que um dos Buscariollos “estava com o revólver no bolso”, mas ainda assim planejava retornar ao local. Às 11h47, já próximo do horário em que seriam mortos, ele menciona que os devedores estavam “se escondendo”.

Ocultação dos corpos e perícias

Após a execução, os corpos foram levados na própria Fiat Toro até a área de mata onde foram enterrados. Peças do veículo foram encontradas na cova, indicando retirada apressada dos corpos.

Os cadáveres foram localizados em 18 de setembro após dias de buscas com drones, georadar e análise de terreno. Os laudos de necropsia confirmam múltiplos tiros, alguns a curta distância, e descartam tortura.

Leonardo Revesso

Graduado em Direito pela Unipar, mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e especializando em Neurociência do Consumo pela ESPM. Tutor da Olívia, da Ludi e da Mila. Está no jornalismo há 27 anos (iniciou aos 15). No OBemdito escreve sobre política e consumo.

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