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Graça Milanez Publisher do OBemdito

Cinema era sua praia, mas tem muito mais para destacar em sua biografia

Regina Lima deixou lições valorosas como esposa, mãe, administradora e de interação com a sociedade; era ‘uma mulher de verdade’

Regina Célia Rodrigues de Lima se foi deixando uma legião de amigos entristecidos - Foto: Reprodução/Redes Sociais
Regina Célia Rodrigues de Lima se foi deixando uma legião de amigos entristecidos - Foto: Reprodução/Redes Sociais
Cinema era sua praia, mas tem muito mais para destacar em sua biografia
Graça Milanez - OBemdito
Publicado em 17 de outubro de 2024 às 16h23 - Modificado em 17 de outubro de 2024 às 16h23
Gastro Umuarama

Há sete dias recebemos a notícia dolorosa do falecimento dela: Regina Célia Rodrigues de Lima lutou, lutou contra um câncer, mas não venceu. E se foi deixando uma legião de amigos entristecidos, em Umuarama. Entre eles, muitos aficionados, como ela, pela sétima arte. Entre esses, eu, que amava ‘tricotar’ sobre cinema quando nos encontrávamos. Foram bons papos! Aprendi muito com ela!

Regina era uma mulher exemplar. Comunicativa, parece que amava tudo o que fazia. Principalmente cinema. Tanto que a paixão virou profissão. Quando saiu do banco [trabalhava no Itaú], ainda lá nos anos de 1980, e resolveu empreender, abriu uma videolocadora em Umuarama. Se era novidade? Vixi!

Era um tempo em que só as grandes cidades possuíam videolocadora – detalhe, a nossa praticamente nem tinha mais sala de cinema [na verdade tinha, mas estava dando os últimos suspiros] – e locação de filme por aqui era tudo que os cinéfilos de plantão precisavam! Ou seja, na falta do telão, a curtição tinha que ser via telinha, mesmo. O importante era acompanhar os lançamentos e se fartar das cenas inebriantes que só os “entendidos entendem” o que isso significa.

Se causou frisson? De início, nem tanto… Afinal, alugar filme para assistir em casa… que negócio é esse? Coisas de Regina! A ideia, que brotou na ‘cabecinha ágil e arrojada’ dela, era investir em um negócio que fosse ao mesmo tempo lucrativo e prazeroso. Bingo: nasceu a Hobby Vídeo, no edifício Tupy, anos depois transferida para uma galeria comercial e, mais adiante, para uma sala da Rua Ministro Oliveira Salazar, sempre crescendo e se tornando mais visível.  

A ‘Regina da Hobby’ foi o primeiro apelido que a cidade deu para essa entusiasta do cinema. Ela amava compulsivamente, e compartilhava os conhecimentos e as emoções que ia acumulando, filme após filme, com o cliente. Indicava, orientava a todos que iam buscar uma fita para assistir em casa.

E o negócio deslanchou. Não só o de Regina, mas no mundo todo, o que nos leva a entender que a conexão dessa umuaramense, nessa seara, era global. Com prateleiras e mais prateleiras cheias de opções para oferecer, Regina demonstrava uma satisfação enorme em atender o cliente, indicando filmes, explicando sinopses. Fazia questão de comparecer aos sábados [à noite, inclusive] para cumprir seu papel de anfitriã na Hobby Vídeo. Eis uma função que não delegava facilmente.

Falava, falava… Parecia não cansar. Queria não convencer, mas ajudar o cliente a viver uma experiência singular com o que escolhera para assistir em casa, com a família ou os amigos [sim, à época, ver filme em casa era um eveeento!]. E foi além com essa mentoria na sétima arte: assinava uma coluna que indicava filmes numa das revistas mais lidas da cidade, a W.

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Página da revista W, que mostra a coluna assinada por Regina Lima

No princípio, eram as fitas VHS; depois, o DVD passou a ser a forma de distribuição de filmes. Regina acompanhou bem a virada da tecnologia [assim como os lares umuaramenses que iam substituindo o videocassete por DVD player]; só não resistiu ao baque da chegada do streaming. A Hobby Vídeo fechou com um acervo de títulos fantástico! Foi triste para ela ter que se desfazer de tantas preciosidades. Conversamos a respeito.

Mas não passou muito tempo e lá estava ela, de cabeça erguida, se associando a um novo negócio: abriu a loja da Arezzo em Umuarama, uma das marcas de calçados e bolsas mais amadas do Brasil. Mantendo seu porte garboso – sempre bem vestida, de um jeito muito particular, só dela! – transferiu para a Arezzo, então, sua boa vontade de receber, de indicar, de vender propriamente um produto. Excelente vendedora, bom destacar!

Era a Regina se reinventando, mas mantendo sua simpatia e seu otimismo acesos mais que nunca. E assim ganhou outra alcunha: ‘Regina da Arezzo’. Continuava sendo a mulher que trabalhava fora, que cuidava muito bem da casa, dos filhos e do marido; a mulher que ia todos os domingos à missa; a mulher que religiosamente ia à feira de hortifruti comprar coisas gostosas! [Aliás, bom lembrar: os feirantes tinham o maior carinho por ela.]

Tem muito mais para destacarmos do currículo da Regina, como o fato de ter sido uma empresária muito participativa. Ela atuava na Associação Comercial de Umuarama, colaborando e se preocupando com os rumos da entidade, que queria ver fortalecida, unida. Era uma colaboração espontânea e sincera. Muitas outras entidades tiveram também o privilégio de receber o apoio dela. Era amável, prestativa, complacente.

Regina
Regina e o marido Alberto

Mas o que é preciso deixar bem claro, nesse contexto todo, é que ao seu lado sempre teve alguém que oferecia apoio incondicional: o marido, Alberto Pereira de Lima. Juntos, pode-se dizer, almejavam, traçavam e ‘respiravam’ os mesmos objetivos. Há mais de 50 anos [ela tinha 14 anos quando começaram a namorar] inseparáveis, vivendo na cumplicidade de cada detalhe da vida. A sintonia entre eles era visível nos pequenos gestos do dia a dia. Demonstravam uma parceria que os fortalecia para as novas oportunidades que iam surgindo de crescerem lado a lado. Eu via beleza, nisso.

Segura de si, determinada, extremamente dedicada a tudo o que se propunha a fazer, Regina não era a ‘Amélia’ descrita na consagrada canção de Mário Lago e Ataulfo Alves, mas era uma ‘mulher de verdade’. Admirável! Uma boa amiga!

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