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Graça Milanez: ‘Por favor, poupe-nos dos elogios clichês!’

Elogio é bom e todos gostamos, mas quando é demais… Se tem um conselho que posso dar é este: desconfie. Toda estranheza é saudável; toda pulga atrás da orelha nos leva a pensar e, por consequência, sair da mediocridade.

Coloque hoje mesmo, neste Dia Internacional da Mulher, isso em prática. Você já sabe que vai receber uma avalanche de mensagens sobre o quanto nós, mulheres, somos sensíveis, guerreiras, empoderadas, maravilhosas… Tipo: “Na mulher tudo é poesia, é justiça, é igualdade; na mulher, tudo é alegria e é verdade” [rimou… óh!].

Também nossas caixas postais eletrônicas vão ficar entupidas de piadinhas chulas, sórdidas, impregnadas de sectarismo, tipo: “Mulher quando finge que acredita é melhor do que homem quando acha que engana” [muito profunda, óh!].

Ironias à parte, este dia não foi criado para amaciar egos, e sim para olharmos além do nosso umbigo. As estatísticas estão aí e não mentem [é só conferir no site do IBGE]: no mercado de trabalho somos em menor número [em cargos de comando, então, o índice é ridículo]; em casa, nos afazeres domésticos, trabalhamos muito, mas muito mais que os homens. E se a mulher for negra, parda, lgbt, pobre, nordestina, tudo fica ainda mais difícil para elas, o que vejo como uma injustiça arraigada, que, pelo andar da carruagem, ainda vai longe, infelizmente.

A conta é fácil: o resultado de ser mulher é calculado somando o peso do trabalho fora de casa, de dentro de casa, das horas dedicadas ao cuidar de filhos e, sim, do companheiro [ainda tem quem acredite e cumpre esse papel de servir o ‘Sr. Meu Marido’], das tarefas escolares das crianças e, inevitavelmente, da participação do orçamento doméstico. E se entrarmos no capítulo que mostra os índices de violência doméstica, de feminicídio, da falta de respeito para com os direitos da mulher, a operação fica bem complexa. Grosso modo, concluo: tirando uma minoria privilegiada, é carga de caminhão Scania R560 numa camionete Fiat 147.

Mesmo tentando não ser, eu sei que estou sendo repetitiva. Estas pregações, os convites à reflexão sobre esta conta que nunca fecha, também soam renitentes nos nossos ouvidos. No entanto, deve estar fora de cogitação correr deles. Mais fácil encarar do que, por comodismo ou preconceito, refutar.

Diante disso, proponho fazermos um trato: cada cartãozinho de internet não personalizado, cada frase pronta, cada elogio gratuito que recebermos, agradeceremos com um convite à reflexão, motivando o emissor ou emissora a pensar no que realmente importa para alcançarmos o que almejamos. Se quiser algo mais arrojado, mande um link de um artigo “cabeça” sobre o assunto e cobra a leitura [a internet está cheia deles] ou chame para um encontro com o intuito de interpretar, cara a cara, os tais conteúdos repassados.

Vai dar trabalho; talvez você será taxada de feminista [naquele sentido estereotipado, de mulher machona, que queima sutiã em público] ou até de ‘comunista’ por provocar o debate, mas vai valer a pena. E, acredito piamente, vai apagar aquele gosto ruim que os clichês levianos costumam gerar na nossa alma. Por favor, pense nisso.

Graça Milanez é jornalista graduada pela UEL e pós-graduada pela PUCSP; mora em Umuarama há 33 anos, onde atuou em sucursal do SBT [por sete anos], em reportagem especial do jornal Umuarama Ilustrado e na assessoria de imprensa da Unipar [por 22 anos]. Escreve às segundas para OBemdito.

Graça Milanez

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