Guilherme, 26 anos, no momento em que foi preso, com o carro do médico (FOTO: DANILO MARTINS/OBEMDITO)

Cotidiano

‘Ele sangrava muito, terminei de matar’, diz assassino do médico Renan Tortajada

“Eu tinha usado mais de cinco gramas de cocaína. Estava fora do normal”

‘Ele sangrava muito, terminei de matar’, diz assassino do médico Renan Tortajada
LEONARDO REVESSO
OBemdito
21 de fevereiro de 2023 10h58

No depoimento dado à Polícia Civil em Umuarama, Guilherme da Costa Alves, 26 anos, voltou a dizer que matou o médico Renan Tortajada, 35, por causa de R$ 200. Em vídeo ao qual OBemdito teve acesso, publicado primeiramente pelo G1, o assassino confesso disse que não tinha a intenção de tirar a vida do psiquiatra e que só o fez ao vê-lo sangrando muito, após bater a cabeça no meio fio.

Guilherme reiterou que conhecia Tortajada há pelo menos um ano e meio e que ambos mantinham relações. O criminoso alegou que estava sob o efeito de cocaína. Tinha ingerido cinco gramas da droga e queria comprar mais, dando a entender que, uma vez sóbrio, não teria cometido o latrocínio (roubo seguindo de morte).

“Ele chegou lá, nós começamos a conversar. Ele falou que ia me dar R$ 200. Aí eu pedi o dinheiro antes de eu fazer qualquer coisa. Aí eu peguei e fiz tudo certinho. Eu tinha usado mais de cinco gramas de cocaína. Estava fora do normal. Não tava como eu tô aqui. E querendo usar droga, querendo usar droga, eu terminei de fazer o que ele queria lá, aí eu pedi o dinheiro pra ele, e ele falou que não tinha. Aí nós ‘começou’ a discutir lá, aí eu ‘di’ umas pancadas nele, ele bateu a cabeça no meio fio, começou a sangrar muito, aí que eu vi que ele ia morrer de um jeito ou de outro, eu terminei de matar ele, enterrei”.

O assassino confesso Guilherme da Costa Alves, 26 (DANILO MARTINS/OBEMDITO)

O desempregado, que já tinha passagens pela polícia por roubo, posse e tráfico de drogas, voltou a dizer que não conhecia o conselheiro Alexan Carlos de Goes, que à noite se travestia como Sabrina Medeiros. “No caso, quando eu tava enterrando ele (Renan), tava passando um travesti e viu o pé dele (Renan) pro lado de fora do buraco lá, tentou sair correndo, eu corri atrás dele (Alexan) e acabei matando ele também”.

Versão desmentida

Essa versão foi desmentida ontem (20/2) por uma amiga de Sabrina, que também é travesti. A amiga disse ter visto o momento em que Guilherme passou com um Honda Civic chumbo na rua Governador Ney Braga e convidou Sabrina para entrar no veículo.

“Primeiro ele passou por mim, me chamando para sair, mas eu já conhecia ele, porque ele sempre apronta com a gente. Eu tentei avisar ela (Sabrina), cheguei a gritar, mas não deu tempo. Ela não ouviu e foi no carro com ele. Era umas duas horas da madrugada de sábado (18)”, disse a OBemdito, na condição de anonimato.

“O Guilherme mentiu quando disse que a Sabrina estava sozinha dentro do bosque. Ela nunca ia lá sozinha, ainda mais numa hora daquelas. Foi ele que levou ela lá, depois que já tinha matado o médico. Ela pode ter visto a cena e ameaçado denunciá-lo”.

A travesti relatou também que Guilherme era um cliente antigo. “Tanto eu quanto minhas amigas já fizemos programa com ele. Quando ele chegava até a gente, sempre a pé ou de moto, era uma pessoa. Depois que terminava o programa assumia outra personalidade. Se tornava extremamente agressivo, tentando matar a gente. Eu mesmo quase fui vítima dele com um canivete no meu pescoço. Parecia usar droga pesada. É por isso que ele era queimado no meio”.

Os crimes

Guilherme da Costa Alves confessou ter matado o Renan Tortajada e Alexan Carlos de Goes após ser preso na avenida Duque de Caixas com o carro do médico. O rapaz já tinha passagens pela polícia por roubo, posse e tráfico de drogas.

À polícia, admitiu ter matado Tortajada com socos e golpes de uma pedra pontiaguda, com cerca de 1 kg, no interior do bosque Uirapuru. Arrastou o corpo por cerca de 30 metros até o muro do estádio Lucio Pipino, onde o enterrou em uma cova que ele mesmo disse ter aberto, sozinho.

Guilherme relatou, com bastante frieza, que tinha uma relação de pouco mais de um ano com o médico e que no encontro da última sexta-feira (17) à noite se desentendeu com a vítima, por causa de R$ 200. Esse é o preço que pode ter custado a vida de um profissional respeitado em seu trabalho.

Tortajada era pediatra e psiquiatra. Atendia, entre outros, no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Toledo e também no município de Guaíra.

Alexan Carlos de Goes, a Sabrina Medeiros

Alexan foi morto a pauladas, na versão do assassino confesso. Recolheu o corpo da travesti, colocou-o no porta-malas do Honda Civic e levou-o, semi-nu, para uma área pouco movimentada do município vizinho de Maria Helena, cobrindo o cadáver com galhos de árvore.

O corpo de Alexan foi o primeiro a ser encontrado pela polícia, na noite de sábado. Ao ver a reportagem publicada por OBemdito, sobre o desaparecimento do médico, uma testemunha manteve contato com a polícia e disse ter visto uma pessoa em um Honda Civic lançando algo no matagal.

Guilherme fez mais. Na noite deste sábado, de posse do carro do médico Tortajada, o suposto membro do Comando Vermelho, como informou em depoimento, tentou roubar uma senhora de 69 anos, tentando colocá-la, à força, dentro do veículo. A vítima passeava com dois cachorrinhos na rua de sua casa. A mulher conseguiu se desvencilhar e ficou com ferimentos na boca e nos joelhos.

Orações

Um grupo de pelo menos 30 pessoas se reuniu em oração na noite desta segunda-feira (20) em frente ao bosque Uirapuru. O objetivo, segundo uma pessoa que participou do ato, era interceder pelos familiares das vítimas do latrocínio e do homicídio do final de semana e pedir paz para Umuarama. “A cidade está violenta. Cada dia uma notícia pior que a outra. Precisamos de Deus agindo em Umuarama”. Novos encontros para oração podem acontecer nos próximos dias.

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