Só mesmo esta imagem rara para comprovar o cenário exótico daquele primeiro dia de nossa História: uma churrascada no meio da floresta reunindo centenas de valorosos trabalhadores comemorando o nascimento de uma nova cidade no Paraná - Fotos: Esclusivas do acervo histórico de Italo Fábio Casciola
Já se passaram setenta anos e todo dia 26 de junho a nossa Umuarama amanhece em festa, engalanada de cores e embalada pelas notas musicais dos shows de bandas, fanfarras e cantorias pelos quatro cantos da cidade. Em todo início de mais um inverno em nossas vidas e na vida de nossa Capital da Amizade, a nossa urbe, o nosso berço, a nossa Mãe-gentil, essa tradição é cultuada com fé e alegria!
Mas, que tal parar por um momento para tentar imaginar como foi aquela data memorável em que aguerridos desbravadores fundaram esta nossa amada Umuarama…
Data histórica em que plantaram aqui no coração da mata virgem de outrora um minúsculo lugarejo, com poucas casinhas e sem absolutamente nenhum vestígio de civilização e desenvolvimento.
Um pequeno clarão nessa selva habitado apenas por uma pequena colmeia de laboriosos colonos que, entusiasmados, fundava “uma cidade para o futuro”. Era o dia em que se iniciava um sonho, em que se abria um clarão de esperança de fartura nessa nova Fronteira Agrícola que nascia no então ainda subdesenvolvido Paraná. Mas, que já era sonhado como o futuro florão da prosperidade do Sul do País: a terra da fartura onde reinaria absoluto por décadas o Ouro Verde, aqueles grãos vermelhos que valiam ouro no Brasil e pelo mundo afora…
Então, como foi aquele já distante 26 de junho de 1955? O que realmente aconteceu no decorrer daquele dia? Não há registros nem mesmo nos órgãos oficiais e nem na colonizadora, que há muitos anos fechou seu escritório de administração situado na área central.
Para preencher essa lacuna na história de Umuarama, me pus a revirar meu baú de cadernos de antigas entrevistas em que registrei depoimentos de velhos pioneiros que viveram aquela época. Eles contaram detalhes do dia da fundação. A maioria já não está mais entre nós.
Como num divertido quebra-cabeças, fui juntando peça por peça, alinhavei detalhe por detalhe, frases curiosas e épicas de um e de outro. Adiciono como tempero, fotos raríssimas e ainda inéditas, que comprovam os fatos vividos por aqueles heróis dos tempos idos da abertura deste território.
Pronto! Acabei reconstituindo um roteiro preciso do primeiro dia da cidade, interessante e ilustrativo, após o batismo oficial como “Umuarama”. Isso porque, o processo de sua abertura e construção começou pelo menos dois anos antes…
Como ponto de partida deste relato, um ‘diário de bordo’ diria, era um domingo. Mas daqueles antigos domingos de inverno, gelado mesmo, melancólico e vazio até… Mas não chegou a gear, mas uma brisa polar fazia bater os dentes e até os ossos doer.
Exatamente às 6 horas da manhã, na ponta da pista do aeroporto recém-aberto, foi erguido um mastro improvisado, feito com um tronco fino e alto de uma árvore cortada na mata. Enfeitado com bandeirolas coloridas, pareciam adereços de festa junina. E nele, no topo, foi hasteada a bandeira brasileira.
Os poucos presentes à remota cerimônia de inauguração, todos dirigentes da colonizadora que haviam acabado de chegar naqueles pequenos “teco-tecos”, entoaram o Hino Nacional. Nem discurso houve, tão violento era o frio agravado pelo vento que assobiava pela pista do aeroporto.
Apressada, a caravana seguiu para o “centro da cidade”, na verdade um amontoado de casinhas que dava para contar nos dedos das mãos. Ali, a diretoria da Cia Melhoramentos, em seu barracão (anos depois foi ‘emprestado’ para instalar a Prefeitura, lembram?) que alojava ferramentas, material topográfico e outras traquitanas de serviços, foi celebrada a fundação de Umuarama.
Além dos ‘manda-chuvas’ da colonizadora, estavam comerciantes, uns poucos fazendeiros e sitiantes, populares e aqueles curiosos de sempre que nem sabiam o que estava acontecendo, mas lá estavam fazendo número na plateia… A Cia Melhoramentos convidou todos a assinar a ata de fundação, seguida de um curto e emocionado discurso do presidente, Hermann Moraes de Barros.
O tempo passava rápido. O grupo, em seguida, a passos largos caminhou um pouco mais de uma centena de metros, no meio do poeirão que o ventinho levantava. Até chegarem onde havia mais outro aglomerado de gente. Ali, o frei Estevão Maria, esperava com paciência para celebrar a primeira missa, que ocorreu naquele chão descampado, com um altarzinho improvisado e um cruzeiro de madeira (onde hoje é o quarteirão ocupado pela Igreja Matriz).
Foi uma missa campal humilde, mas com toques de forte emoção e fé. Por mais simples que fosse, marcava o início da história de uma nova cidade e a presença da Igreja Católica, era obrigatória desde o descobrimento do Brasil…
Fim da cerimônia religiosa. A turba, uns de jipões, outros de carroças ou montados a cavalo e, os mais simples, a pé mesmo, iniciaram uma caminhada de alguns quilômetros de volta ao ponto de partida do memorável dia: o tosco aeroporto.
Ali, a poucos passos, no meio da mata verde e virgem – onde já existiam a Colônia e a Pensão Mineira –, prepararam uma churrascada para festejar a recém-fundada Umuarama. Reunindo todos os que participaram daquelas horas de jornada que rememoramos agora, sete longas décadas depois.
Com tábuas, meio de improviso, os participantes montaram mesas e bancos na Serraria Mineira, que ficava ali pertinho. O cenário era realmente incrível e inimaginável nos dias atuais: embaixo daquelas frondosas e centenárias árvores da selva, centenas de ‘colonos’ esfomeados, a maioria homens, saborearam deliciosas e exóticas carnes de animais selvagens, caçados no dia anterior.
Beberam cachaça em escala industrial. E, pasmem!, até dançaram por entre os troncos das árvores, embalados por uma ‘orquestra’ de músicos trazidos de fora pela diretoria da colonizadora. A maior parte do repertório era de músicas de Minas Gerais, para atender o romântico gosto da maioria dos ‘convidados’. Músicas caipiras, boleros e tangos, hoje quase todas esquecidas, também fizeram a alegria dos festeiros naquela tarde histórica.
O ‘baile na floresta’ foi acabar no início da noite, quando o frio voltou, cruel e ainda mais terrível do que na madrugada anterior. O manto negro da noite abraçou aquele lugar. Algumas fogueiras, na ponta do aeroporto e próximas aos acampamentos, à pensão e à serraria, foram acesas. Para espantar onças e outros bichos noturnos que saíam para vagar e caçar alimentos para o seu sustento.
Um silêncio profundo, entrecortado pelos pios de corujas e por um coral de centenas de sapos que habitava um brejo nas cercanias. E o céu, com todo o seu esplendor de azul pontilhado de cintilantes estrelas, mandando avisar que a madrugada seria congelante!
Fecharam-se as cortinas do memorável 26 de junho de 1955. Quem dormia, nem sonhava que aquela data seria cantada em verso e prosa pelas gerações do futuro da Capital da Amizade. Esses desbravadores, sim, fizeram História. Nasceram predestinados a fecundar uma cidade, dom e sorte que raríssimos mortais têm o privilégio de ter.
É momento de orar por eles em gesto de gratidão por terem fundado esta nossa maravilhosa Capital da Amizade, que para muitos é terra natal. Assim como eu que cheguei aqui com apenas 4 anos de vida. Aqui aprendi tudo: a viver, a falar e a escrever – o que me faz imensamente feliz em poder fazer estes registros para a galerinha destes tempos hiper modernos. Afinal, já estamos no futuro, naquele futuro que a gente sonhou naquele já tão distante passado!!! Amém!!! (ITALO FÁBIO CASCIOLA, Especial para OBEMDITO)
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